15 de abr. de 2014

A MULHER DE CÉSAR


(Jornal do Brasil) - Depois de pedir licença de seu mandato, o Deputado André Vargas renunciou à Primeira Vice-Presidência da Câmara dos Deputados, após instauração de processo no Conselho de ética da Casa, para apurar denúncias contra ele, a propósito de suas relações com o doleiro Alberto Youssef, detido pela Polícia Federal em uma operação que investiga lavagem de dinheiro.

O envolvimento de André Vargas com o doleiro teria vindo à tona a partir do pedido de  “empréstimo”, feito pelo deputado, de um jatinho, para viajar de férias a Youssef.

Nos últimos tempos, já houve casos de quem viajasse em avião público por questões estéticas; de quem pegasse carona em aeronaves destinadas a atendimento médico; de quem tivesse a própria aeronave apreendida com substâncias proibidas.

Há grandes e pequenos escândalos, e episódios que são vistos, por alguns, como “pecadilhos”, que atingem, infelizmente, de forma indiscriminada, partidos das mais variadas legendas, tendências e orientação política.
Embora quase todo mundo tenha um lado, e nem sempre os fatos sejam abordados com o rigor, a honestidade e a isonomia que merecem – há assuntos que são  rapidamente julgados enquanto outros passam anos sem ser sequer investigados - a verdade é que leis como a da “ficha limpa” e a do voto aberto para o julgamento e a cassação de parlamentares já deveriam ter sido vistas,  por todos, como sinal de alerta e mudança nos  riscos e cuidados da vida pública.

Para gregos e troianos da odisseia política brasileira, talvez nunca seja demais lembrar a frase atribuída por Plutarco a certo prócer romano, ao repudiar sua mulher, filha de Quintus Pompeius Rufus: “à mulher de César, não basta ser honesta, é preciso parecer honesta”.

Embora a expressão, para alguns, coloque as aparências na frente da verdade, ela reflete a necessidade do rito; da manutenção de regras básicas de convívio e de respeito entre pares e por seus eleitores; e até por si mesmos, no exercício da atividade pública, no sentido de que todos deveriam se dedicar ao objetivo de mantê-la, sempre que possível fosse, ao abrigo de qualquer suspeita.

Ao colocar seu comportamento em dúvida, estendendo o opróbio e a desconfiança da população sobre a atividade política e a instituição de que toma parte, o homem público não macula apenas a si mesmo.

Ele agride e arrasta na lama a imagem da Democracia que, como à mulher de César, não deveria bastar que fosse – majoritariamente - honesta, mas também que assim transparecesse aos olhos da Nação. 

Há lugares, como o Uruguai, em que o Presidente anda de fusca.

No Brasil, escancarar o convívio, até em festas e redes sociais, com bicheiros, lobistas e doleiros, está ficando mais comum, nos últimos anos, do que o prosaico gesto de passar pelo check-in e embarcar em um avião de carreira. 

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