30 de jul. de 2013

A POLÍTICA COMO DEVER

                     
(Carta Maior)-Em seu discurso no Theatro Municipal, o papa Francisco defendeu o primado da política. Ele não disse, nem lhe era necessário dizer, que só a política assegura a sobrevivência da sociedade humana. Política, entendamos, significa a participação de todos, sob a liderança de homens capazes, na escolha de representantes para elaborar as leis e dirigir o Estado. O pontífice (e pontífice é aquele que projeta e edifica pontes) volta ao princípio basilar da ação política, que é a realização do bem-estar comum da sociedade nacional. Desde que o homem criou a linguagem, e passou a conviver em grupos maiores, ele exerce os atos políticos, porque política é, ao mesmo tempo, a organização do convívio e a administração dos conflitos.
                     Os atos políticos estão inseridos na esfera do cotidiano. Eles são um esforço permanente, nunca concluso, para que a Humanidade não pereça. Não é por acaso que o Papa citou o profeta Amós e sua objurgatória contra os opressores. Ele, com o exemplo bíblico, mostra que Deus não aceita a injustiça, não compactua com a glorificação do lucro, obtido com a desalmada exploração do trabalho daqueles que alugam seus braços em troca de salários aviltantes. Ele poderia valer-se de inumeráveis advertências semelhantes, encontráveis em Isaias, na única epístola de Tiago e, praticadas, nos Atos dos Apóstolos.
                    Deus, em nossa visão temporal e amarrada ao silêncio da matéria, é a palavra que encontramos para identificar o Absoluto, onde se escondem as imperscrutáveis razões da vida. Só a Fé, que obedece à lógica, mas não à ciência, é que dispensa a filosofia pedestre, e dá ao homem a força da esperança.                                 
                    Teólogos atentos encontraram, nos últimos escritos de Ratzinger, os sinais de  debilidade diante das exigências de sua missão. Ele tenta esvaziar a mensagem política da vida de Cristo e nega a história de sua própria Igreja que, para o bem e para o mal, foi, e continua a ser, uma presença política.
                   Coube à Igreja, na Alta Idade Média, conservar a racionalidade greco-romana, nos territórios do Império invadidos pelos bárbaros, e aos muçulmanos manter o saber antigo em seus livros e nos grupos de sábios - os da famosa Escola de Bagdá.
                   Ora, essa evidência tão clara é negada pelo papa Bento 16. Em sua interpretação, não foram políticos pervertidos pela luxúria e pela simonia, por exemplo, homens como Rodrigo Bórgia, Giuliano della Rovere e Giovanni de Médici, que sob os nomes de Alexandre VI, Júlio II e Leão X, governaram a Igreja de 1492 a 1513: os anos mais escuros de toda a História do Papado.
                   Não há outra explicação: o discernimento do Cardeal Ratzinger não era o de um homem em pleno domínio da razão, e a sua escolha para ocupar o trono de Pedro pode ser vista como vitória política do Cardeal Bertone que, associado a Wojtyla, vinha dividindo com o polonês o governo da Igreja.
               Há, mesmo na hierarquia brasileira, uma tentativa de reduzir a visita do Papa, de esvaziar a  mensagem evangélica, que reclama dos jovens a responsabilidade da reabilitação da política. Embora cauteloso em alguns momentos, Bergóglio deixou muito claro o seu pensamento – ele se encontra ao lado de Leão XIII, de Pio XI e de João XXIII – e bem distante de Pio X, de Pio XII e de João Paulo II.
               

A PONTA DO ICEBERG

(HD)-  Um agente da ABIN, identificado como Igor Pouchain Matela, foi preso no dia 18, em manifestação no Rio de Janeiro,  ao tentar  impedir a prisão de Carla Hirt que atirava pedras contra a polícia, e estava em sua companhia. A informação sugeriu novas indagações a propósito da infiltração, nas manifestações, de grupos organizados.
Tão grave quanto a presença de um agente federal de inteligência, teoricamente treinado para defender as instituições, estar presente em uma passeata que terminou de forma violenta, nas cercanias da residência de um governador, é o fato de a ABIN, em nota oficial, admitir que não tinha informações prévias da manifestação, e dela soube  pelos jornais.
O mínimo que se espera, por parte da área de inteligência, é que esses eventos sejam monitorados, ou, pelo menos, que deles tenha  prévio conhecimento: qualquer pessoa com acesso a um computador é capaz de fazê-lo. Como sabemos, é mediante as redes que se marcam as manifestações.
 Deve ser do interesse da ABIN, assim como da Polícia Federal e das organizações policiais dos estados, saber o que está ocorrendo. Essa previsão é necessária, não para reprimir os protestos pacíficos, garantidos pela Constituição, mas pela constante presença de grupos organizados de arruaceiros, interessados em destruir o patrimônio público e privado, e em provocar a repressão das forças policiais - com desastrosas conseqüências para a governabilidade.
O episódio da prisão do agente da ABIN, no Rio de Janeiro, se soma a outro fato curioso, no contexto das manifestações: recordemos aqui a denúncia de um cidadão que se intitula integralista, Marcio Hiroshi, de que o movimento do qual participa estaria usando grupos de “carecas” para tumultuar as passeatas, atacando militantes de partidos e as forças policiais.
 Pelo noticiário, pelo menos um membro da PM de São Paulo teria sido visto quebrando com pesada pedra o pára-brisa da própria viatura, e um fuzileiro naval detido, durante a frustrada invasão do prédio do Itamaraty.
Finalmente, há três dias, algumas centenas de manifestantes mascarados dos Black Blocs partiram mais uma vez para a violência, quebrando 13 agências bancárias na Avenida Paulista. A arruaça contribuiu para paralisar a cidade com  engarrafamento de dezenas de quilômetros.
Estranhamente, embora ocorrida em São Paulo, a manifestação de sexta-feira estava dirigida principalmente contra o Governador Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro. Compreende-se que o Governador Sérgio Cabral, com apenas 12% de aprovação nas últimas pesquisas, não esteja vivendo, neste momento, uma fase de grande simpatia por parte do público.
Mas, com certeza, não é mero fruto do acaso ter sido ele o primeiro dirigente político a merecer manifestações contrárias fora de seu estado, e ao mesmo tempo, ter sido o primeiro governador a  designar uma Comissão Especial para investigar os atos de vandalismo que têm ocorrido no Rio de Janeiro.
  

29 de jul. de 2013

UMA FESTA CRISTÃ



(HD)-A visita do papa Francisco o Brasil foi, mais do que um encontro de católicos, uma festa cristã, tendo em vista a pregação do Pontífice. Francisco vem com a promessa da paz que se funda na igualdade, a mesma igualdade que Cristo pregou ao longo de sua vida, até mesmo no fel do martírio. Em razão disso houve eminentes pastores que viram, na visita, um benefício a todos os  cristãos, pois, que têm um inimigo comum no mundo: o materialismo que sustenta a opressão de povos inteiros pelos donos do dinheiro.
            Wojtyla e seu conselheiro teológico Ratzinger perseguiram mais de 500 teólogos católicos, e condenou o brasileiro Leonardo Boff ao silêncio. Agora, segundo se informa, o novo papa deseja receber Boff, tão logo conclua a reforma da Cúria Romana.  É interessante registrar o esforço inútil de alguns comentaristas políticos, alinhados com o pensamento de direita em nosso país, em desnaturar o discurso de Francisco, reduzindo a visita a uma simples busca da juventude que revitalize a Igreja em momento de crise histórica. Ora, o sentido evangelizador de sua prédica é reconhecido pelos principais jornais do mundo – e pelos próprios porta-vozes do Vaticano.
          A mensagem cristã do Cardeal Bergóglio não pode ser mais cristalina. Ele condena o mundo do hedonismo e da exclusão. O mundo e, nele, a vida, é um dom divino para o usufruto de todos, e não só de alguns. Os pobres não são pobres por vontade de Deus, mas porque a isso são condenados pelos ricos e poderosos. E sem que os ricos deixem de ser exagerados em sua riqueza, os pobres serão sempre pobres.
         Quando os apóstolos ergueram sua primeira comunidade cristã – a Igreja do Caminho – ao exigir de todos a renúncia aos bens pessoais, construíram o germe do que poderá vir a ser, um dia, a civilização da solidariedade e radical igualdade – o Reino de Deus na Terra.
        Ora, o discurso extremo dos poderosos é simples. Os recursos da Natureza não bastam para levar os cinco bilhões de seres humanos ao padrão de consumo promovido pela tecnologia. O ideal, segundo seus cálculos, seria dizimar a população, reduzi-la a 500 milhões de pessoas. Embora disponham de meios técnicos para isso, o projeto parece inviável. É impossível admitir que noventa por cento dos seres humanos estejam dispostos a esse holocausto. Eles reagirão, e  nova civilização poderá surgir, com outra forma de convivência, na igualdade proposta pela vida e pelo testemunho de sangue que nos deixou o homem de Nazaré.
        O Papa irá confrontar-se com uma resistência poderosa. Contra ele se levantam os setores mais conservadores da Igreja que, coincidentemente, estão comprometidos com os prelados corruptos e corruptores, com os lavadores de dinheiro via Banco do Vaticano, e outros aproveitadores. Mas, também e principalmente, com os donos do mundo e os governos que controlam, no mundo inteiro. Ele só poderá contar com Deus – e com os homens justos - para levar sua Igreja  adiante, em um mundo melhor.
                  
             
           

É HORA DE REVER O TREM-BALA

(JB)- Podemos imaginar o sofrimento das famílias espanholas, com a perda de mais de 80 pessoas no acidente de Santiago de Compostela. Ele é ainda maior, quando se sabe que o responsável direto pelo acidente, segundo sua própria confissão, foi o condutor do trem.  A composição descarrilhou no último trecho do trem de alta velocidade, da linha Madri-El Ferrol, explorada pela Renfe, empresa estatal espanhola. 
             Quando se cogitou de construir uma linha de altíssima velocidade, ligando o Rio a São Paulo e a Campinas, não faltaram advertências de bom senso. Esses trens são interessantes em trechos médios e curtos, em países bem menores do que o nosso, e onde já existam linhas convencionais confortáveis,  eletrificadas e inteligentes, acessíveis à maioria da população. A construção de longos trechos só é justificada em países como a China, que dispõem de bilhões, para investir no que quiserem, e que não fazem isso por meio de empresas estrangeiras. 
            Não é esse o nosso caso. As nossas ferrovias se encontram sucateadas, e as empresas concessionárias só se interessam em conservar e ampliar os trechos que lhes garantem lucros fabulosos, com foco no transporte de carga, er não de passageiros. É muito mais importante, por isso mesmo, empregar todo o dinheiro possível na construção de novas linhas, destinadas a transporte de passageiros, em velocidade razoável e em condições ideais de segurança. Ora, segundo as informações divulgadas pelo próprio governo, pretende-se uma velocidade média de 350 km/hora, ainda não atingido em qualquer outra obra do gênero. O custo já está calculado em 38 bilhões, e pode crescer ainda mais. Com esse dinheiro é possível duplicar a malha ferroviária nacional, que é hoje de 28.000 km, retificando o leito de muitas delas e eletrificando outras. 
           No trecho São Paulo-Rio, seria possível a aquisição de vagões-leito de grande conforto, que permitisse ao viajante passar a noite dormindo, e chegar descansado ao destino – depois de uma ducha no próprio compartimento. É uma boa alternativa ao transporte aéreo de pequeno curso, que exige do passageiro algumas horas, além do vôo em si: duas para chegar com 1 hora de antecedência ao aeroporto e, no destino, pelo menos mais uma hora depois do desembarque, para chegar à cidade.  
         Não se sabe bem por quê, o Ministro Paulo Bernardo decidiu convidar as empresas espanholas para constituir o consórcio para a construção e exploração do nosso trem de alta velocidade. Foi assim que a Renfe – a estatal que monopoliza o sistema ferroviário espanhol – se aliou às empresas estatais Adif – Administradora de Infraestruturas, e Ineco, engenharia e economia de transportes – para disputar, como favorita, segundo a imprensa daquele país,  a licitação marcada para 16 de agosto. 
        Tampouco não se sabe por quê o edital de licitação, divulgado pelo governo brasileiro, faz uma curiosa exigência, a de que a empresa licitante não tenha sofrido, em suas linhas de alta velocidade, um acidente nos últimos cinco anos, o que excluiria em princípio a China, onde está a maior rede de alta velocidade do mundo. O desastre de Santiago de Compostela inviabiliza, liminarmente, a Renfe. É interessante registrar essa cláusula do edital, já que, como mostram o caso da China e da própria Espanha, é impossível impedir acidentes, em trens de qualquer velocidade, como acontece também em outras modalidades de transporte, como o aéreo, por exemplo. 
        E, ainda que fosse importante a adoção do trem-bala, já temos em andamento uma tecnologia em princípio muito mais avançada do que a espanhola – que na verdade é alemã e francesa – que é a de levitação magnética, que está sendo testada no Rio de Janeiro pela Coppe, da UFRJ (foto). Embora baseada em experiências anteriores, o projeto brasileiro avança em sua tecnologia, prevista para ser aplicada primeiro em transporte urbano, mas que também serve para médias e longas distâncias, com a vantagem de permitir graus de inclinação na linha que são inalcançáveis para os trens-bala atuais.

26 de jul. de 2013

SOMOS CHAMADOS A CRER


       

         (JB)- Católicos ou não, cristãos ou não, somos chamados a crer na esperança, que o papa Francisco nos traz, com seu discurso renovador. A Igreja, como instituição, pode até mesmo encarnar as palavras de seu Chefe como  forma de recuperar o seu poder profético, abalado pelas vicissitudes conhecidas. Mas a Humanidade, em seu instinto de permanência, deverá acatá-las como outra oportunidade de renovar a eterna aliança entre os homens e o Absoluto.
        O que o Papa vem dizendo em público – e ele falou de forma descontraída com os jornalistas, enquanto voava rumo ao Rio – é simples. O hedonismo, o amor ao dinheiro e ao lucro, o desperdício, estão sepultando a História. Ao perder seu passado, o homem perde o seu futuro. Há, em nosso tempo, e com a dissolução da família, o desprezo pelos jovens e pelos velhos.
    Os robôs, como se sabe,  substituem os moços, nos processos industriais que produzem para o descarte e o desperdício. Os velhos são vistos como trastes imprestáveis, que necessitam de cuidados caros. Mas, conforme o Papa, de sua experiência e saber depende a sobrevivência de todos.
       A situação é ainda mais grave do que em 1962, quando se reuniu o Concílio do Vaticano II, convocado pelo Cardeal Roncalli. O novo pontífice substituía Pio XII, acusado de haver sido protetor de Hitler em seu tempo de arcebispo de Munique – ao contrário de seu antecessor, Pio XI, que mandou apagar as luzes do Vaticano na noite em que o ditador alemão pernoitou em Roma.
       Roncalli era um homem de fé e simples em sua vida pessoal - um traço em comum com o argentino Bergoglio - disposto a restaurar alguns princípios cristãos, abandonados pela Igreja ao longo dos séculos. Infelizmente, a sua influência, ainda que poderosa, sobre o Concílio, durou pouco. Tendo aberto o encontro em 11 de junho, morreu menos de um ano depois, em 3 de junho do ano seguinte.
       É interessante cotejar a pregação do Pontífice com as declarações do presidente do Banco Mundial, o sul-coreano Jim Jong Kim, que defende, com veemência, a globalização neoliberal e os cortes nos orçamentos sociais dos Estados. Isso, ao mesmo tempo em que a Security and Exchange Comission norte-americana autoriza os bancos a comprar, estocar e vender mercadorias como o alumínio, o cobre, o ouro e outros metais. Os bancos passam, assim, a exercer o monopólio mundial dos metais, ditando os preços ao seu arbítrio.
      Já podemos prever o destino do mundo, se não ouvirmos a mensagem cristã, que Francisco reafirma nessa sua viagem ao Brasil, depois de haver visitado o porto de Lampedusa, porta de entrada, na Europa, dos flagelados pela miséria na África, que  chegam em botes frágeis. O Papa deixou claro, ali,  que não há fronteiras diante do direito à vida.

       
         Católicos ou não, cristãos ou não, somos chamados a crer na esperança, que o papa Francisco nos traz, com seu discurso renovador. A Igreja, como instituição, pode até mesmo encarnar as palavras de seu Chefe como  forma de recuperar o seu poder profético, abalado pelas vicissitudes conhecidas. Mas a Humanidade, em seu instinto de permanência, deverá acatá-las como outra oportunidade de renovar a eterna aliança entre os homens e o Absoluto.
        O que o Papa vem dizendo em público – e ele falou de forma descontraída com os jornalistas, enquanto voava rumo ao Rio – é simples. O hedonismo, o amor ao dinheiro e ao lucro, o desperdício, estão sepultando a História. Ao perder seu passado, o homem perde o seu futuro. Há, em nosso tempo, e com a dissolução da família, o desprezo pelos jovens e pelos velhos.
    Os robôs, como se sabe,  substituem os moços, nos processos industriais que produzem para o descarte e o desperdício. Os velhos são vistos como trastes imprestáveis, que necessitam de cuidados caros. Mas, conforme o Papa, de sua experiência e saber depende a sobrevivência de todos.
       A situação é ainda mais grave do que em 1962, quando se reuniu o Concílio do Vaticano II, convocado pelo Cardeal Roncalli. O novo pontífice substituía Pio XII, acusado de haver sido protetor de Hitler em seu tempo de arcebispo de Munique – ao contrário de seu antecessor, Pio XI, que mandou apagar as luzes do Vaticano na noite em que o ditador alemão pernoitou em Roma.
       Roncalli era um homem de fé e simples em sua vida pessoal - um traço em comum com o argentino Bergoglio - disposto a restaurar alguns princípios cristãos, abandonados pela Igreja ao longo dos séculos. Infelizmente, a sua influência, ainda que poderosa, sobre o Concílio, durou pouco. Tendo aberto o encontro em 11 de junho, morreu menos de um ano depois, em 3 de junho do ano seguinte.
       É interessante cotejar a pregação do Pontífice com as declarações do presidente do Banco Mundial, o sul-coreano Jim Jong Kim, que defende, com veemência, a globalização neoliberal e os cortes nos orçamentos sociais dos Estados. Isso, ao mesmo tempo em que a Security and Exchange Comission norte-americana autoriza os bancos a comprar, estocar e vender mercadorias como o alumínio, o cobre, o ouro e outros metais. Os bancos passam, assim, a exercer o monopólio mundial dos metais, ditando os preços ao seu arbítrio.
      Já podemos prever o destino do mundo, se não ouvirmos a mensagem cristã, que Francisco reafirma nessa sua viagem ao Brasil, depois de haver visitado o porto de Lampedusa, porta de entrada, na Europa, dos flagelados pela miséria na África, que  chegam em botes frágeis. O Papa deixou claro, ali,  que não há fronteiras diante do direito à vida.
      Reagir, enquanto é tempo, e em todos os lugares do mundo, é a única forma de salvar a espécie.  

UM PAÍS DOS OUTROS


(HD)-Mal a Nação se refez da surpresa de saber, que, ao se recusarem a assinar moção de repúdio,  86 deputados  apoiaram, tacitamente,  a espionagem do governo brasileiro e de empresas e de cidadãos nacionais pelos Estados Unidos, e outra notícia nos espanta.
      Conforme o jornalista Cláudio Humberto,  vários países  receberam desde 2000 - em troca de pagamentos simbólicos - licença outorgada pela Anatel, para operar frequência de rádio no Brasil, não só em caráter provisório, mas permanente.
A Rússia pagou duzentos reais, por uma licença, e os Estados Unidos  16.700 reais, para manter 49 emissoras em  São Paulo, no Rio de Janeiro,em Brasília e em Recife.
  Se um cidadão pagar essa quantia deixam-no operar uma emissora comunitária?
    No Brasil, era vedada às sociedades anônimas e a estrangeiros a propriedade de meios de comunicação, até que, sob pressão das empresas em crise, foi autorizada a participação de capital estrangeiro, até o limite de 30%.
 Nos Estados Unidos, a legislação é extremamente rigorosa nesse caso - (Foreign Investment in the United States: Major Federal Statutory Restrictions, Michael V. Seitzinger, Legislative Attorney, June 17, 2013):
 “Frequências (licenças) de estação de rádio não podem ser concedidas ou mantidas por qualquer governo estrangeiro ou por representante de um governo estrangeiro. Nenhuma estação de rádio instalada a bordo de um avião em trânsito ou fixa, no solo, poderá ser concedida ou mantida por qualquer estrangeiro; ou por representante de qualquer estrangeiro; por qualquer empresa constituída sob as leis de um governo estrangeiro; por qualquer empresa com mais de um quinto do capital social pertencente ou controlado por estrangeiros, ou seus representantes.”
   O Governo Brasileiro, e nossas instituições,  precisam tratar os outros governos, no Brasil, como nosso país é tratado lá fora – a reciprocidade é necessária. Qual seria a reação das autoridades dos Estados Unidos, se o Brasil pedisse licença para operar uma emissora de rádio nos EUA, mesmo que apenas por alguns dias, durante a visita de Estado da Presidente Dilma Roussef em outubro?
Desde os primeiros momentos do rádio, o Brasil cuidou de que fosse uma atividade exclusiva de brasileiros. O decreto 2.111, de 1932, do Governo Provisório de Vargas, foi claro nesse sentido. Como a Constituição de 1946 não tivesse sido precisa quanto ao tema, Getúlio, ao retornar ao poder, em 1951, fez o Congresso aprovar a reafirmação dos princípios do Decreto 2111.
Jânio voltou ao tema, em 1962, com uma lei aprovada pelo Congresso, estabelecendo critérios tão rigorosos quanto os de Vargas, e limitando ainda mais o tempo de propaganda nas grades das emissoras. O governo militar, em 1966, mediante o decreto 236, reafirmou o caráter nacionalista, ao dar ainda mais nitidez à legislação, e proibir, de maneira taxativa, a propriedade de emissoras a estrangeiros.

22 de jul. de 2013

A ViSITA DO PAPA

(JB)-Os católicos, que ainda continuam sendo a maioria dos cristãos brasileiros, preparam-se para receber o Papa Francisco, em momento importante para o mundo, a Igreja e o Brasil. O mundo passa por uma crise histórica cujo desfecho ninguém pode arriscar hipótese viável. Como já se tornou comum, nesta quadra difícil, não temos mais estadistas. A mediocridade impera em todos os centros do poder temporal.

O Papa – pela primeira vez um homem nascido fora da Europa – está sendo saudado, por alguns teóricos, como a esperança de reafirmação da Igreja. O Vaticano se encontra  combalido, nas três últimas décadas, por vários problemas políticos e de conduta ética. O primeiro dos problemas políticos ocorreu pela militância de Karol Wojtyla, ou João Paulo II, em favor da hegemonia mundial norte-americana - e contra a URSS - na Sagrada Aliança com Ronald Reagan,  de acordo com o jornalista Bob Woodward, em documentada reportagem na Revista Times.

No Papa polonês pesou mais a sua nacionalidade, e os dissídios seculares entre o seu país e os russos. Sendo assim, não titubeou em colocar a estrutura secreta do Vaticano a serviço da mobilização dos Estados Unidos na destruição da União Soviética, o que não foi difícil.

A tecnocracia soviética, que substituíra os velhos quadros revolucionários de 1917, estava ansiosa por renegar os rígidos princípios de igualdade de uma sociedade socialista.

Essa opção de Wojtyla desencantou uma ponderável parcela da Igreja, principalmente em nosso continente, que, com João XXIII, sentiu-se animada a propor uma Teologia da Libertação. Na verdade, Wojtyla, com a ajuda de Ratzinger, o seu teólogo oficial, foi contra os maiores pensadores da Igreja, a fim de esvaziá-la de seus compromissos com a Doutrina Social exposta por Leão 13, com a Rerum Novarum e o Povo de Deus.

Como se sabe, essa doutrina, que impunha a aproximação da Igreja com os trabalhadores e os pobres, foi bem defendida por Pio XI, 40 anos depois. Pio XI – o Cardeal Ambrogio Ratti - se opôs, com firmeza, ao anti-semitismo dos  nazistas e fascistas, posição que não foi a mesma de seu sucessor, o Cardeal Pacelli, Pio XII.

Os primeiros gestos do novo Papa são, nesse sentido, animadores. O bispo de Roma, como chefe universal da Igreja, tem renunciado às pompas do cargo e reduz, com ousadia, a distância entre ele e o povo. Da mesma forma, vem atuando, com coragem, a fim de moralizar a Cúria Romana.

As reformas administrativas e  legais que conseguiu, nesse pouco tempo de ação, demonstram que está empenhado em fazer, pelo menos em parte, o que pensa ser necessário.

Leão XIII dissera que o grande escândalo de seu século, o 19, fora a Igreja perder a classe operária, que, decepcionada, procurava outros caminhos, como os do socialismo. O Concilio Vaticano II expôs o temor de que o grande escândalo do século 20 viesse a ser a perda dos países pobres.

O avanço significativo das religiões protestantes – entre elas as seitas pentecostais – confirma esse perigo. Uma das  missões que se atribui Francisco é a de voltar a imergir a Igreja, como fermento da Justiça, no mais profundo do Povo.

O Brasil está conhecendo tempos novos. Há uma pressão da sociedade para que o Estado sofra mudanças necessárias, com maior transparência dos Três Poderes da República. É certo que as manifestações, que ainda persistem, foram contaminadas por agentes provocadores e tendem, com sua segmentação em grupos corporativos, a perder o impulso dos primeiros dias. Mas se trata de uma situação especial e que deve ser considerada.

O Brasil, apesar do catolicismo de expressiva parte de seus cristãos, é uma República Laica, que reconhece na liberdade de crença de seus cidadãos um  direito constitucional pétreo. Sendo assim, cabe aos católicos brasileiros encarregar-se das despesas das festas e do encontro religioso da juventude mundial. É natural que, como gesto normal de cortesia – e, mesmo, tendo em vista a obrigação de oferecer, ao visitante, condições de total segurança, para que seu deslocamento, em nosso país, se faça em aeronaves do Estado.

Seria, no entanto, um contrassenso, que o Erário pagasse os custos do evento, como está sendo cogitado. Os não católicos teriam todo o direito de insurgir-se contra o uso de seus tributos para o custeio de uma crença que não é a sua.

Assim, não deveriam o governador do Rio de Janeiro, e o prefeito da Capital,  aproveitar-se do episódio, a fim de obter efeito eleitoral. Com as manifestações populares do Rio de Janeiro concentrando-se no protesto contra os dois, não se  esperava o privilégio concedido aos dois, e às suas famílias, de um encontro reservado na residência oficial do governador do Estado.


A visita do papa se faz em sua condição de pastor de uma religião. Não é  visita de Estado, e nas visitas de Estado, quem faz o programa é o governo que convida. Não é esse o caso.

17 de jul. de 2013

O POLÍTICO E O ESTADO


       


       (HD)-A questão mais importante do poder é a de sua legitimidade. Os governos tirânicos usam o argumento de que se legitimam por si mesmos. Foi assim com o golpe de 1964, em seu primeiro ato: “a Revolução se legitima a si mesma”. A idéia foi exposta por Goering, no Tribunal de Nuremberg. Um procurador aliado inquiriu-o sobre a ousadia do regime, em violar os princípios básicos da civilização ocidental, sem pensar nas conseqüências. Ele respondeu que estavam criando uma nova ordem mundial, e a vitória militar a legitimaria. Nada tinham a ver com o passado.
      Todas as interpretações de fundo sobre a atualidade brasileira (e mundial) confluem para identificar  grave crise de legitimidade da representação política. Os líderes perderam a confiança dos cidadãos,  única fonte legítima de poder, de direito, nas sociedades humanas.
     As manifestações se repetem em todos os países, com maior ou menor intensidade, não só contra a corrupção, mas também contra a ineficiência dos governantes, incapazes de assegurar a justiça social. Agindo como gangsters, os banqueiros invertem a razão: são eles que controlam os governos.
      Dois são os eixos sobre os quais se movem as sociedades humanas: o contrato e a lealdade. O contrato político se realiza no ato eleitoral: os cidadãos conferem mandatos temporários a alguns deles, a fim de legislar ou administrar. Em troca, os eleitos assumem, tacitamente, o dever de lealdade para com o Estado.
      O Estado de Direito deve reger-se pelos princípios imemoriais e éticos, de solidariedade nacional; pela Constituição e pelas leis. Quando o mandatário não cumpre o contrato, deveria perder a confiança do eleitor, e, assim, ter a  delegação cassada.
      No Brasil não conseguimos ainda criar um Estado de Direito realmente solidário. Aqui, as nossas constituições têm sido alteradas pelas circunstâncias conjunturais, sob a pressão dos interesses privados e corporativos.
      As bancadas corporativas sobrepõem-se, no Congresso Nacional, às partidárias. Os partidos já perderam o poder de fechar questão em votações de maior responsabilidade, porque sabem como irão votar seus deputados, obedecendo aos interesses das reais bancadas a que pertençam: dos banqueiros, do agronegócio, dos industriais, das confissões religiosas. Isso explica muitas coisas.
       Explicam, por exemplo, a absoluta impossibilidade de se obter uma reforma política por via legislativa. E explicam os oitenta e seis deputados federais que se negaram a votar moção de repúdio à espionagem das nossas comunicações pelo telefone e pela internet, pelo governo norte-americano.
      Esses parlamentares podem estar atendendo à visão de mundo de seus eleitores corporativos, que  só pensam em seus negócios. Mas não são leais com o Estado e a Nação.
      Se aceitam essa interferência abjeta em nossa soberania, podemos imaginar como se comportariam diante de uma invasão estrangeira.

    

14 de jul. de 2013

OS HITLERNAUTAS ESTÃO CHEGANDO


Para quem acha que Dani Schwery, Thismir Maia e Carla Dauden são o máximo que a direita “espontânea” conseguiu preparar para mobilizar seus simpatizantes - no contexto do quadro reivindicatório das manifestações de junho - podemos dizer que entre os servidores do Google e da Microsoft e os mouses dos internautas comuns há muito mais coisas que a nossa vã filosofia possa imaginar.

Uma delas, ficou comprovado, é a espionagem norte-americana na rede, denunciada pelo agora foragido Edward Snowden.

O súbito aparecimento do fenômeno dos hitlernautas é outra - e esse é um fato que merece ser analisado. 

O "hitlernauta", não é, na verdade, uma nova espécie no ciberespaço brasileiro. Ele sempre existiu, embora não fosse conhecido por esse nome. A questão é que, antes, os hitlernautas só podiam ser encontrados no seu habitat natural, em reservas quase sempre protegidas, e normalmente produzidas e consultadas apenas por eles mesmos.

Encontravam-se, assim, ao abrigo do navegante comum, como nos sites neonazistas, integralistas, da extrema-direita católica, ou que correspondem, no Brasil, a “espelhos” de certas “organizações” fascistas internacionais.

Nesses espaços, eles ficaram, por anos, alimentando suas frustrações, preparando-se para sair à luz do dia tão logo houvesse uma ocasião mais segura para se apresentarem ao mundo. A oportunidade surgiu no âmbito das passeatas de junho. Afinal, nessas manifestações, cada um podia carregar a mensagem que desejasse - desde que não fosse símbolo de partidos políticos.

Os hitlernautas, além de aparentemente apartidários, são, principalmente, anti-partidários. Assim, resolveram engrossar, a seu modo, a procissão, mesmo sem conseguir indicar, com clareza, rumo ou andor que lhes valesse.

É fácil reconhecer o hitlernauta. 

Nas ruas, ele pode ser um “careca”; ou provocador, com a cara coberta por um lenço; pela máscara de um movimento "anarquista" (embora não o seja); o que leva coquetel molotov de casa; joga pedra na polícia; agride violentamente o militante do PSDB ou do PSTU que estiver carregando uma bandeira, porque é "apolítico"; quebra prédios públicos; arranca semáforos; saqueia lojas; põe fogo em carros da imprensa ou invade o Palácio do Itamaraty.

Na internet, o hitlernauta é ainda mais fácil de ser identificado. 

É aquele sujeito que acredita (piamente?) que estamos vivendo a penúltima etapa da execução de um Golpe Comunista no Brasil. E que o Fórum de São Paulo é uma espécie de conclave secreto, destinado a dominar o mundo via implantação, no continente, de uma União das Repúblicas Socialistas da América do Sul.

O hitlernauta é o “anônimo” que nos comentários, na internet, tenta convencer os interlocutores, de que as urnas eletrônicas são manipuladas; de que não existe oposição no Brasil, porque o PSDB é uma linha auxiliar do PT na implantação do stalinismo por aqui; que FHC é "fabianista", logo, uma espécie de socialista a serviço da entrega do Brasil aos vermelhos; que a ONU é parte de uma conspiração mundial, e que o único jeito de consertar o país é acabar com o voto universal, fechar o Congresso, dissolver os partidos, prender, matar, arrebentar e torturar, por meio de um novo golpe militar.

No dia 10 de julho deste ano de 2013, os hitlernautas saíram às ruas, sozinhos, pela primeira vez. 

Segundo o portal Terra, fecharam a rua Pamplona, até a esquina com a Consolação, com a Marcha das Famílias contra o Comunismo, convocada nas últimas duas semanas pela internet.

O portal IG calculou, em cerca de 100 pessoas, o grupo que se reuniu no vão do MASP e marchou, com bandeiras, pedindo intervenção militar, até as imediações do Comando Militar do Sudeste.

No Rio, a convocação conseguiu juntar, frente à Candelária, trinta e poucos manifestantes, em cena em que se viam mais bandeiras e cartazes sobre as escadas do que pessoas para empunhá-los. Ao ver a foto da “manifestação”, muita gente os ridicularizou na internet.

Os primeiros desfiles das SA na República de Weimar também não reuniam mais que 30 pessoas, que carregavam as mesmas suásticas hoje tatuadas na pele dos skinheads presentes à Marcha das famílias contra o Comunismo, em São Paulo, no dia 10. 

As pessoas normais, ao vê-los desfilando nos parques, com os seus ridículos uniformes, acharam, na década de 30, que os nazistas eram um bando de palhaços. 

Eles eram palhaços, mas palhaços que provocaram a maior carnificina da História. 

Debaixo de seus olhares frios e seus gritos carregados de ódio, milhões de inocentes foram torturados, levados às câmaras de gás e incinerados, em Auschwitz, Maidanek, Birkenau, Dachau, Sachsenhausen – e em dezenas de outros campos de extermínio montados por ordem de Hitler.

Os hitlernautas não devem ser subestimados. 

É melhor que a sociedade os conheça. A apologia da quebra do Estado de Direito é crime e deve ser combatida com os rigores da lei. 

Cabe à esquerda denunciá-los ao Ministério Público, e à Polícia Federal, e exigir que sejam identificados e denunciados à Justiça, para que sejam julgados e punidos, em defesa da Democracia.

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O MÉDICO E A ÉTICA

Em 1956, conheci, na cidade do Serro, em Minas, o médico Antonio Tolentino, que era o profissional mais idoso ainda em atividade no Brasil. Ele chamava a atenção por dois motivos: coubera-lhe assistir ao parto de Juscelino, em 1902, e não alterara o valor da consulta, que equivalia,  então, a cinco cruzeiros. Entrevistei-o, então, para a Revista Alterosa, editada em Minas e já desaparecida.

Em razão da matéria, o deputado federal Vasconcelos Costa obteve, da Câmara, uma pensão vitalícia da União para o médico, que morreu logo depois. Ele tinha, na época, 94 anos – e setenta de atividade. Seus descendentes criaram um museu, em sua casa e consultório. Uma das peças é o anúncio que fez, logo no início da carreira: “aos pobres, não cobramos a consulta”.

Confesso o meu constrangimento. Estou em  idade em que dependo, e a cada dia mais, de médicos, e de bons médicos, é claro. Tenho, entre eles, bons e velhos amigos. O que me consola é que os meus amigos estão mais próximos da filosofia de vida do médico Antonio Tolentino, do que dos que saíram em passeata, em nome de seus direitos, digamos, humanos.

Mais do que outros profissionais, os médicos lidam com o único e absoluto bem dos seres, que é a vida. Os enfermos a eles levam as suas dores e a sua esperança. É da razão comum que eles estejam onde se encontram os pacientes – e não que eles tenham que viver onde os  médicos prefiram estar.

De todos os que trataram do assunto, a opinião que me pareceu mais justa foi a de Adib Jatene. Um dos profissionais mais respeitados do Brasil, Jatene acresce à sua autoridade o fato de ter sido, por duas vezes, Ministro da Saúde. Ele está preocupado, acima de tudo, com a qualidade do ensino médico no Brasil. Se houvesse para os médicos exames de avaliação, como o dos bacharéis em direito, exigido pela OAB para o exercício profissional, o resultado seria catastrófico.

Jatene recomenda a formação de bons clínicos e, só a partir disso, a especialização médica. Os médicos de hoje estão dependentes, e a cada dia mais, dos instrumentos tecnológicos sofisticados de diagnóstico, e  cada vez menos de seu próprio saber. O vínculo humano entre médico e paciente – salvo onde a medicina é estatizada – é a cada dia menor. Assim, Jatene defende o sistema do médico de família. Esse sistema permite o acompanhamento dos mesmos pacientes ao longo do tempo, e a prática de medidas preventivas, o que traz mais benefícios para todos.

Entre outras distorções da visão humanística do Ocidente, provocadas pela avassaladora influência do capitalismo norte-americano, está a de certo exercício da medicina e da terapêutica. A indústria farmacêutica passou a ditar a ciência médica, a escolher as patologias em que concentrar as pesquisas e a produção de medicamentos. A orientação do capitalismo, baseada no maior lucro, é a de que se deve investir em produtos de grande procura, ou, seja, para o tratamento de doenças que atinjam o maior número de compradores. Dentro desse espírito, a medicina, em grande parte,  passou a ser especulação estatística e probabilística.

Os médicos protestam contra a contratação de profissionais estrangeiros, pelo prazo de três anos, para servir em cidades do interior, onde há carência absoluta de profissionais. Não seriam necessários, se os médicos brasileiros fossem bem distribuídos no território nacional, mesmo considerando a má preparação dos formados em escolas privadas de péssima qualidade, que funcionam em todo o país.

Ora, o governo oferece condições excepcionais para os que queiram trabalhar no interior. O salário é elevado, de dez mil reais, mais moradia para a família, e alimentação. É muitíssimo mais elevado do que o salário oferecido aos engenheiros e outros profissionais no início de carreira. Ainda assim, não os atraem. E quando o governo acrescenta ao currículo dois anos de prática no SUS, no interior e na periferia das grandes cidades, vem a grita geral.

Formar-se em uma universidade é, ainda hoje, um privilégio de poucos. Os ricos são privilegiados pelo nascimento; os pais podem oferecer-lhe os melhores colégios e os cursos privados de excelência, mas quase sempre vão para as melhores universidades públicas,  bem preparados que se encontram para vencer a seleção dos vestibulares. Os pobres, com a ilusão do crescimento pessoal, sacrificam os pais e pagam caro a fim de obter um diploma universitário que pouco lhes serve na dura competição do mercado de trabalho.

Um médico sugeriu que a profissão se tornasse uma “carreira de estado”, como o Ministério Público e o Poder Judiciário. Não é má a idéia, mas só exeqüível com a total estatização da medicina. Estariam todos os seus colegas de acordo? Nesse caso não poderiam recusar-se a servir onde fossem necessários.

Temos, no Brasil, o serviço civil alternativo que substitui o serviço militar obrigatório, e é prestado pelos que se negam a portar armas. Embora a objeção possa ser respeitada em tempos de paz, ela não deve ser aceita na eventualidade da guerra: a defesa da nação deve prevalecer. Mas seria justo que não só os pacifistas fossem obrigados, pela lei,depois de formados pelos esforços da sociedade como um todo, a dar um ou dois anos de seu trabalho à comunidade nacional, ali e onde sejam necessários. Nós tivemos uma boa experiência, com o Projeto Rondon, que deveria ser mais extenso e permanente como instituição no Brasil.


As manifestações recentes mostram que todos, em seus conjuntos de interesses, querem mais do Estado em seu favor. Não seria o caso de oferecerem alguma coisa de si mesmos à sociedade nacional? Dois anos dos jovens médicos trabalhando no SUS – remunerados modestamente e com os gastos pagos pelo Erário – seriam um bom começo para esse costume. E a oportunidade de aprenderem, com os desafios de cada hora, a arte e o humanismo que as más escolas de medicina lhes negaram. 

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