30 de jan. de 2014

O BRASIL DE DAVOS E DE MARIEL


(JB) - A presidente Dilma foi a Davos, na Suiça, para reunir-se, entre outras personalidades, com o presidente do país, Didier Burkhalter, o do grupo SAAB - sócio brasileiro no projeto dos caças Gripen NG - Hakan Buskhe, o da FIFA, Joseph Blatter, e CEOs de grandes multinacionais, como a UNILEVER e a NOVARTIS.  


E de lá, para Havana, Cuba, para se encontrar com líderes do continente, na reunião da CELAC - Comunidade de Estados da América Latina e do Caribe, e participar, junto ao Presidente Raul Castro, de uma cerimônia emblemática: a inauguração da primeira etapa do terminal de containers e da Zona Especial de Desenvolvimento de Mariel, junto ao porto do mesmo nome, financiado com dinheiro brasileiro e construído por empresas nacionais de engenharia - que geraram, com o projeto, 198.000 empregos no Brasil - em associação com firmas locais, no valor aproximado de um bilhão de dólares.


O objetivo do Brasil, no Fórum Econômico de Davos, foi esclarecer aos investidores que, com relação à economia, por aqui o diabo não está tão feito quanto aparenta ou querem fazer que pareça. Nas conversas com investidores, os representantes brasileiros devem ter apresentado dados como a queda da inadimplência, o aumento da arrecadação, e a manutenção, no ano que passou, do Investimento Estrangeiro Direto em um patamar acima de 60 bilhões de dólares por ano, quase o mesmo,  portanto, que o de 2012.


Já, em Cuba, o papel do Brasil foi o de dar novo exemplo de seu “soft power” regional, exercido também por meio de grandes projetos de infra-estrutura, voltados para melhorar as condições de vida de nossos vizinhos e parceiros, e integrar, pelo desenvolvimento, a América Latina.


O que paraguaios, bolivianos, peruanos, equatorianos, e mexicanos viram, paralelamente à reunião da CELAC, quando tomaram conhecimento da dimensão do projeto de Mariel - onde devem se instalar empresas brasileiras a partir do ano que vem, para montar produtos destinados às Américas e ao Pacífico, aproveitando a vizinhança do Canal do Panamá - não é muito diferente do que o Brasil já faz em seus respectivos países.


Basta lembrar o recém inaugurado linhão elétrico de 500 kV entre Itaipu e Assunção, que permitirá, finalmente, a industrialização do Paraguai;  o gasoduto Bolivia-Brasil, que gera, com a exportação de gás, boa parte do PIB boliviano; os corredores ferroviários e rodoviários bioceânicos, em fase de implantação, que nos levarão ao Peru, Bolívia e Chile, e por meio deles, ao oceano Pacífico; as obras do metrô de Quito, no Equador, que também tem participação brasileira; ou o maior projeto petroquímico em construção no México, que está sendo tocado, em associação com empresas locais, pela Braskem.


Para muita gente, o Brasil de Mariel, que tem consciência de sua dimensão geopolítica na América Latina, é incompatível com o Brasil de Davos, que, muita gente também acredita, deveria se sujeitar aos Estados Unidos e à Europa, em troca de capitais, acordos e investimentos.


Essa visão limitada, tacanha, defendida tanto por alguns setores da oposição, quanto por gente do próprio governo e da base aliada - já foi ultrapassada pelos fatos e deveria ser abandonada em benefício de um projeto de nação à altura de nosso destino e possibilidades.


Quanto mais poder tem um país, mais razões ele tem para ser pragmático, múltiplo, universal, no trato com as outras nações. Não podemos fechar as portas para ninguém, nem deixar de ter contato  ou de fazer negócios com quem quer que seja, desde que essa relação se faça em igualdade de condições.



O que não deve impedir, nem limitar, nosso direito de eleger, estrategicamente, prioridades e alianças, específicas, no âmbito internacional, que nos permitam alcançar mais rapidamente nossas metas de fortalecimento do Brasil e  de melhora das condições de vida da população brasileira. 

Este texto foi publicado tmbém nos seguintes sites:



http://www.patrialatina.com.br/colunaconteudo.php?idprog=211ed78fe91938b90f84a51944b08d5a&cod=3206

A INTEGRAÇÃO E AS ARMAS


(Hoje em Dia) - Durante boa parte do século XX, principalmente nas décadas de 40, 50, 60 e 70, os militares latino-americanos costumavam ser apresentados e conhecer, uns aos outros, na então tristemente famosa “Escola das Américas”.

Um complexo militar norte-americano instalado na Zona do Canal do Panamá, onde eram treinados e instruídos pelas forças armadas dos EUA, e cooptados por “técnicos” do Pentágono e da CIA, para cerrar fileiras com os Estados Unidos na luta contra o “comunismo” e a URSS.

Era ali que urdiam e aprendiam como dar golpes sangrentos, nos quais a primeira vítima era a Liberdade, e a segunda, seus próprios povos, obrigados a padecer anos e anos sob o tacão de ditaduras, da quebra do Estado de Direito, do terror e da tortura.


Na semana passada, militares e especialistas em defesa da América do Sul se reuniram em Bogotá, para participar de mais um encontro do Conselho de Defesa da América do Sul, organismo vinculado à UNASUL - cuja presidência está sendo exercida, de forma compartilhada, pela Colômbia e o Suriname.


Criado em 2008, o CDS está voltado para quatro linhas de atuação: assistência humanitária e cooperação militar; formação e capacitação; políticas de defesa; e indústria e tecnologia bélica.

A sua existência tem permitido uma aproximação maior, na área de defesa, entre Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai, Bolívia, Colômbia, Ecuador, Peru, Chile, Guiana, Suriname e Venezuela.

Colômbia e Chile – apesar de membros da Aliança do Pacífico, prejudicada pelo pífio crescimento mexicano de apenas 1.2% - são sócios do Brasil no projeto do jato de transporte militar da Embraer KC-390, (foto - com Argentina, Portugal e República Tcheca). O Brasil compra lanchas fluviais de ataque colombianas para a marinha e o Peru mantêm estreita cooperação com Brasília, principalmente agora que os dois países tem comprado mais armamento russo.


Na reunião de Bogotá foram apresentadas e analisadas as metodologias de planejamento estratégico e de gestão orçamentária na área de defesa da Argentina, Brasil, Chile, Colombia, Peru e Venezuela, com o objetivo de “estabelecer as bases para o desenvolvimento das forças armadas do futuro da região”, um dos temas da reunião de Ministros de Defesa da UNASUL, que está programada para os dias 19 e 20 de fevereiro, em Panamaribo.


Uma situação impensável há alguns anos, se consideramos problemas relativamente recentes, como os que opuseram a Colômbia à Venezuela, envolvendo as FARC - que já estão em processo de pacificação – e, historicamente, o Peru ao Chile, por limites fronteiriços.

Esses conflitos eram usados, no passado, por nações de outras regiões, para nos dividir e separar, e, hoje, não impedem que nossos países compartilhem informações estratégicas, e cooperem mutuamente em torno de projetos e objetivos comuns, nas reuniões do Conselho de Defesa da América do Sul. 

Este texto foi publicado também nos seguinbtes sites:














O BRASIL E O HAITI


(Hoje em Dia) - Acossado pela chegada maciça de imigrantes haitianos, o governo do Acre está pedindo a adoção de medidas  pelo governo federal, incluindo o possível fechamento, temporário, da fronteira do Brasil com o Peru.

Nas últimas semanas, o número de haitianos   que atravessa, sem visto, a fronteira, subiu de 20 para uma média de 70 pessoas. Nas contas do governo acreano, desde 2010, 15.000 estrangeiros já teriam entrado no Brasil pela cidade de Assis. O secretário de Direitos Humanos do estado, Nilson Mourão, alerta para a possibilidade de uma tragédia a qualquer momento. 

Falta logística, água, alimentação. Já são servidas 3.600 refeições por dia no abrigo construído no ano passado em Brasileia,  onde se concentram 1.200 pessoas, o triplo da capacidade inicial.

Com relação ao Haiti, o governo tem cometido grave erro de avaliação. 

Primeiro, porque permitiu que se estabelecesse uma especie de relação especial, de culpa e dependência, entre os dois países.
Como se o Haiti se tivesse transformado, para o Brasil e o resto do mundo, em uma espécie de “nosso” Vietnã. E nossa responsabilidade com aquele país fosse além do compreensível sentimento de solidariedade por uma das nações mais pobres do mundo, atingida por terrível catástrofe natural.
Nossas tropas não bombardearam nem invadiram o Haiti. Elas entraram naquele país em missão de pacificacao, junto a soldados de outras nações, sob mandato e por solicitação da Organização das Nações Unidas.

E, em segundo lugar, porque o governo encarou a chegada dos haitianos ao Acre como uma questão meramente humanitária e não como o que efetivamente é: um esquema criminal de exploração e tráfico de seres humanos, composto tanto pela máfia que envia os haitianos ao Brasil - ameaçando matar seus familiares que ficam no Haiti caso não paguem as extorsivas dívidas contraídas para chegar aqui - quanto pelos funcionários, policiais e “coyotes” que os extorquem, espancam e estupram no Peru,  em um esquema que envolve milhões de dólares por ano e centenas de milhares de dólares por mês.

Se o governo está preocupado com a situação dos haitianos que querem vir para o Brasil, o primeiro a fazer é parar de recebê-los, das mãos de traficantes, na fronteira, e providenciar transporte direto para cá daqueles que conseguirem, dentro do esquema de cotas já estabelecido, vistos de entrada, em nossas instalações diplomáticas no Haiti.

É triste dizer isso, mas estamos apenas reproduzindo, nos abrigos de Brasileia a mesma situação vivida por essa gente em seu país, com o agravante de estarmos colocando a sua vida em risco, caso não consigam emprego e dinheiro para mandar a suas famílias para pagar as dividas contraídas para “viajar” para o Brasil. 

Como mostra o quadro emergencial vivido pelo governo acreano, não resolveremos o problema haitiano enriquecendo os “coyotes” peruanos ou criando outros problemas no Brasil.

24 de jan. de 2014

DE ROLÉZINHOS E ROLEXZINHOS


(Carta Maior) - O setor de shoppings centers se encontra acuado, nas grandes cidades brasileiras, pelo fenômeno do "rolézinho". A situação chegou a tal ponto, que, contrariando o direito de livre expressão, já há centros comerciais pedindo ao Facebook que retire do ar páginas que envolvam esse tipo de encontro, que convoca, pela internet, centenas de jovens a comparecer, em data e horário específicos, a endereços-alvo previamente determinados.

A justiça tem concedido liminares que permitem aos shoppings barrar a entrada desses jovens e impedir que os encontros se realizem em suas dependências.
Movimentos sociais de diferentes tendências, alguns mais tradicionais, e outros surgidos, como os Black Blocks, nas manifestações de junho, tacham as medidas adotadas pelos shoppings de racismo e exclusão e ameaçam convocar "rolezões sociais", já neste fim de semana, para reagir às medidas.

Em junho de 2013, estabeleceu-se, nas ruas e redes sociais improvável aliança entre "rolexzinhos", que gravavam suas mensagens contra o governo e a Copa do Mundo usando como cenário a praça de alimentação de shoppings, e futuros "rolezinhos" da "periferia".

A periferia pode frequentar shopping, desde que seja identificada tão logo entre, e fique permanente sob o olhar de vigias, e em conveniente minoria. E continue gastando como tem gasto a classe C nos últimos anos, responsável pela explosão do faturamento do comércio de móveis, informática e eletrônicos, por exemplo.

O problema é que os "rolézinhos" não estão satisfeitos com isso. Eles querem "zoar", termo que antes estava ligado a ridicularizar, brincar com o outro, e que hoje está sendo substituído, cada vez mais, pelo sentido de "incomodar".

Os "rolézinhos" não querem apenas "dar um rolé", expressão que deu origem ao termo, ou se encontrar, conversar, namorar. Eles querem assustar, pressionar, chocar, o pacato cidadão que frequenta shopping, em busca de sua quota cotidiana ou semanal de lazer, consumo, praça de alimentação e ar condicionado. Querem querem ocupar física e maciçamente todos os espaços, dizer aos frequentadores comuns, e aos rolexzinhos - "olha, nós somos mais fortes, mais numerosos e queremos ter as mesmas coisas, e fazer as mesmas coisas, que vocês".

Há que se ver como alguns auto-designados representantes da "classe média" - que às vezes nem toma conhecimento de sua existência - irão se manifestar, na internet, com relação ao assunto. A direita terá coragem de defender, abertamente, a invasão dos shoppings centers pela periferia? Ou vai torcer, secretamente, para que esses encontros, e a polêmica em torno deles, dê origem a nova onda de protestos?

Já se identifica, entre os "rolézinhos", a infiltração de indivíduos cujo interesse vai além da reivindicação social, coisa fácil de ocorrer, nesse tipo de reuniões, maciça e, às vezes, anonimamente convocadas por meio de redes sociais.

A ABRASCE, que reúne os shoppings centers, precisa começar a entender os "rolézinhos", a partir de outra perspectiva, que não seja a mera repressão, o apelo à polícia e ao judiciário. Se cada shopping tratasse todos os frequentadores da mesma forma, independente de sua cor ou vestimenta, e tivesse uma estrutura de lazer ou de cultura na periferia, para sinalizar às comunidades de menor renda que o setor reconhece sua existência e direito à dignidade, em um contexto social tradicionalmente desigual, talvez se pudesse estabelecer um patamar maior de respeito e de auto-estima para esses cidadãos.

É uma pena, no entanto, que o elemento que detonou todo esse processo tenha sido, primeiramente, o consumo.

Se extrairmos da multidão um ou outro líder, e os "movimentos" sociais "organizados", que, muitas vezes, são apenas grupos de ação, momentaneamente reunidos pela internet, veremos que há muito em comum entre os "rolézinhos" e "rolexzinhos".

Não existe diferença entre a conversa estéril e esnobe dos "rolexzinhos", em volta de seus copos de uísque, na happy hour na Avenida Paulista e as letras de funk ostentação que embalam os "rolézinhos" nos bares e bailes da periferia.

São dois lados da mesma moeda, dois extremos de uma sociedade na qual um par de tênis pode custar mais que dez ou quinze livros novos, marcas de carros são cantadas em prosa e verso, e a maior parte das pessoas desperdiça seu tempo correndo atrás do fugaz e do vulgar, sem conseguir deixar sua marca no mundo, ou ter tido, muitas vezes, a menor consciência política ou espiritual do que representa estar aqui.

Conquistará o futuro quem souber unir rolexzinhos e rolezinhos em um projeto comum de nação, e isso só ocorrerá com a redução da desigualdade e a melhora da educação. Quem sabe, quando contarmos, no Brasil, com um número equivalente de excelentes universidades e centros de pesquisa, ao que temos, agora, de grandes centros comerciais - cerca de 500 - com o mesmo volume de investimentos e a mesma eficiência e garra, na busca e transmissão do conhecimento, com que hoje se persegue o lucro nesses palácios de aço e cristal.

A sociedade brasileira, com seus "rolézinhos" e "rolexzinhos", precisa entender que o Brasil necessita mais de Sapiens Centers, que de Shopping Centers, para poder avançar. 

Este texto foi publicado também nos seguintes sites:










































22 de jan. de 2014

ESTRATÉGIA E IMIGRAÇÃO NO BRASIL




(JB) - O senhor Marcelo Neri, Ministro de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, precisa deixar claro a que se refere, quando diz que o Brasil pretende reformular suas leis de imigração, para possibilitar a entrada de profissionais estrangeiros.

A cada vez que ele toca no assunto, a imprensa internacional faz grande estardalhaço - principalmente em países que estão em crise - dando a impressão de que há milhões de empregos de alta remuneração não ocupados por aqui, e ressalta a “incompetência” brasileira nos campos da educação e da formação técnica de mão-de-obra especializada.


Primeiro, há que considerar que a necessidade de mão-de-obra estrangeira qualificada é pontual, e localizada, e não generalizada.


Assim como ocorre com o Programa Mais Médicos - e essa deveria ser a primeira missão da Secretária de Assuntos Estratégicos da Presidência da República nesse contexto - é preciso identificar, claramente:


a) Em que áreas, estados, cidades, estamos dependendo de profissionais estrangeiros.


Se vamos construir um porta-aviões, por exemplo, busquemos profissionais - até mesmo aposentados - que já tenham participado desse tipo de projeto, para que nos repassem essa tecnologia.      


Precisamos acelerar nosso programa espacial? Vamos recrutar especialistas no exterior para dar aulas no ITA - Instituto Tecnológico da Aeronáutica, para trabalhar junto à AEB, a Agência Espacial Brasileira, ou no Instituto de Aeronáutica e Espaço.


O mesmo pode ser feito na área de nanotecnologia, de novos materiais, da ótica, da mecatrônica, da biotecnologia, da física quântica, na identificação de pesquisas de ponta das quais o Brasil pode participar, financiando projetos de alta tecnologia no exterior ou trazendo professores e pesquisadores de fora para montar equipes específicas com cientistas brasileiros.


b) Como encontrar e recrutar especialistas estrangeiros.


O processo de seleção não tem que ser feito aqui, mas, previamente, no exterior. Para isso, pode-se contar com a estrutura de nossos consulados e embaixadas em outros países, e realizar esse trabalho por intermédio de nossos adidos comerciais ou militares, ou de programas públicos de seleção, sempre levando em consideração a origem, formação e experiência anterior dos candidatos, para se evitar a mera importação de espiões.


c) De que forma esses profissionais irão trabalhar no Brasil.


Se a contratação será temporária e renovável, como no Programa Mais Médicos, se haverá possibilidade de obtenção da nacionalidade brasileira depois de certo período e de cumpridos determinados requisitos, etc.


O Brasil recebeu,  quase sempre de braços abertos, principalmente  nos séculos XIX e XX, imigrantes das mais variadas origens e culturas. Libaneses e sírios do Oriente Médio, portugueses e espanhóis, italianos, ucranianos, russos, alemães, japoneses.


Temos, no Brasil, bairros e cidades inteiras construídas a partir de outras culturas, como Blumenau, em Santa Catarina, onde se comemora a segunda maior Oktoberfest do mundo; o bairro da Liberdade, na capital paulista, de marcante presença oriental; Joinville, também em Santa Catarina, onde há a única escola do Balé Bolshoi fora da Rússia; Garibaldi, de colonização italiana, no Rio Grande do Sul; ou as cidades de Americana, fundada por Confederados sulistas, que para cá vieram depois de ser derrotados na Guerra de Secessão e de Holambra, estabelecida por colonos holandeses em São Paulo.


Apesar disso, quando tivemos, forçados pela crise dos anos noventa, de proceder à nossa própria diáspora - pequena, quase insignificante, para nossas dimensões demográficas - não podemos dizer que tenhamos sido tratados com a mesma generosidade, mesmo em países que foram, e agora voltam a ser, tradicionais emissores de emigração para o Brasil.


É preciso, no entanto, distinguir o imigrante ou refugiado pobre, humilde, que traz na sola do sapato seu passado e sua esperança, para agregá-los ao nosso destino e forjar futuro, e os novos “imigrantes” que chegam de nariz em pé, com diploma debaixo do braço, achando que podem nos dar lições de qualquer espécie, ou nos olhar com arrogância, por cima do ombro, como se dependêssemos deles, e não ocorresse o contrário.


Para ilustrar, basta o exemplo, cristalino, do embaixador da Espanha no Brasil, Manuel de La Camara (foto), em recente entrevista à agência EFE, publicada pela imprensa de seu país.


Nela, o sutil diplomata, jogando para a platéia - uma Espanha quebrada, com 27% da população desempregada - dá um empurrãozinho à autoestima ibérica, explicando que os engenheiros espanhóis que estão trabalhando em nosso país “prestam um duplo serviço ao Brasil. Oferecem mão de obra qualificada, graças ao investimento em educação do estado espanhol, e, além disso, formam os engenheiros brasileiros.”


As declarações de sua Excelência o embaixador da Espanha - que mereceriam alguma reação da comunidade acadêmica nacional e do Clube de Engenharia - mostram que a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República - também notícia no país de Cervantes - não está sabendo se fazer entender em alguns países, quando trata da política brasileira de imigração de mão-de-obra especializada.


Ou somos uma nação que tem um projeto claro e consequente para a importação de trabalhadores  qualificados, para setores e projetos estratégicos, como os EUA, a URSS, a China, a Austrália e o Japão já o fizeram no passado, ou somos um paraíso tropical para arquitetos e decoradores estrangeiros recém-formados – e uma república de bananas.


    

CARTEL E NAÇÃO




(HD) - Desde a instituição, em 1536, pelo Rei Dom João III, de Portugal, das Capitanias Hereditárias, o Brasil sofre com a maldição dos monopólios e da cartelização.


Dentro das capitanias, o senhor explorava seus prepostos, nas sesmarias, exercendo a exclusividade da compra e da venda e da fixação de preços das mercadorias, da mesma forma que a Coroa Portuguesa fazia com ele.


O que, antes, era imposto pelo sistema colonial português, transformou-se, com o passar dos anos, em traço marcante da cultura nacional e do estilo “empreendedor” brasileiro. Criamos um país de barões, tabeliães e coronéis, interventores nomeados e pequenos comerciantes, sempre empenhados em ver o público em geral mais como objeto de exploração pura e simples do que como clientes ou consumidores.  


Entre-se em uma feira qualquer, e em poucos minutos, se descobrirá que existe uma espécie de “acordão” entre comerciantes locais. Se a picanha, no “seu” José, está um real mais cara que no “ seu” Manuel, pode ter certeza de que a chã de dentro vai estar um real mais cara no segundo açougue, para compensar. O mesmo se dará com o peixe, a banana, o tomate, a alface, etc, etc, etc.


Quem se der ao trabalho de calcular, vai ver que não faz a menor diferença parar em uma ou outra banca. Só muda a cara ou a forma da pessoa atender. Sempre se ajeita tudo para que ninguém saia perdendo, desde que ele não seja consumidor.

Se isso ocorre no comércio de bairro, imagine-se nos grandes negócios. Monopólios, cartéis formados para burlar licitações, ou para divisão de mercado, são a coisa mais normal no Brasil.

Na telefonia, por exemplo, depois da criminosa desnacionalização do setor nos anos noventa, a concentração em mãos estrangeiras da parte do leão das telecomunicações faz com que estejamos pagando das mais altas tarifas do mundo, em uma área que é campeã de reclamações.

O último episódio nessa longa série de escárnios ao cidadão brasileiro foi a suspensão, na semana passada, pela enésima vez, da tentativa de se proceder a licitação de linhas interestaduais de passageiros, que continuam, na prática, nas mãos das mesmas empresas, desde o regime militar.

No setor, a concorrência é tão grande, que as quatro viações que fazem a ligação entre o Rio de Janeiro e São Paulo, a rota de maior movimento do país, cobram rigorosamente o mesmo preço pela passagem de ônibus convencional. 

O decreto que previa a licitação é de 1993, a escolha das vencedoras já deveria ter sido feita em 2008, mas a licitação tem sido sucessivamente adiada e não saiu até hoje.

E mesmo assim, quando isso ocorrer, só poderão participar dela – pasmem! - empresas que já operam nesse mercado.  Os “concorrentes” continuarão sendo os mesmos “conhecidos” de sempre. Só haverá algumas mudanças, como a que obrigará empresas mais rentáveis a atender trechos de menor retorno financeiro

16 de jan. de 2014

OS PORTAIS DA IMORTALIDADE


(JB) - O fim de 2013, e o início do novo ano de 2014 têm sido pródigos em notícias revolucionárias no campo da saúde.

Cientistas da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, criaram nano-partículas anticancerígenas que “grudam” em glóbulos brancos, e, espalhadas pelo sangue, identificam e matam células tumorais, impedindo que o câncer, por meio de metástase, se espalhe pelo corpo, eliminando essas células do sangue de ratos e de humanos, em laboratório, em apenas duas horas.
  
Na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, uma equipe, comandada pelo professor Douglas Fearon, descobriu como funciona a barreira protetora que envolve certos tumores e desenvolveu uma substância que conseguiu rompê-la, permitindo que o sistema imunológico mate suas células, curando o câncer de pâncreas – altamente letal – em ratos, em apenas seis dias.
E, na Universidade de Harvard, outro grupo de cientistas, liderados pelo australiano David Sinclair, conseguiu reverter o envelhecimento muscular em ratos “velhos”, com idade equivalente a 60 anos, permitindo que sua condição física voltasse a uma idade de aproximadamente vinte “anos”, em apenas uma semana.

O tratamento baseou-se na descoberta de uma nova causa do envelhecimento, principalmente muscular, que é a perda da comunicação entre os cromossomas do ADN do núcleo da célula e os do ADN das mitocôndrias, responsáveis pelo fornecimento da maior parte da energia necessária à atividade celular.    

Para resolver o problema, os pesquisadores usaram uma molécula que elevou, nos ratos, os níveis de nicotinamida adenina dinucletídeo, (NAD), que se mantêm mais alta na juventude, e cai para a metade em idosos.

Naturalmente, esses tratamentos não estarão disponíveis em pouco tempo, e, em uma sociedade baseada no lucro, dificilmente chegarão tão cedo ao homem comum.

De qualquer forma, os avanços científicos que se multiplicam em todos os campos de atividade, nos fazem refletir sobre a importância, talvez ainda não adequadamente avaliada, do extraordinário período que estamos vivendo agora.   

É tentador pensar que, se considerarmos o Universo como informação, o conhecimento do Cosmo e de nós mesmos nos permitirá mudar o mundo e a nós mesmos, da forma que nos for mais conveniente.

É claro que, para muitos, essa parecerá uma visão herética da aventura humana. 

Se o infinito conhecimento é infinito poder, ele só pode pertencer a Deus e não ao homem e deveríamos ser punidos por buscar esse conhecimento, como nos alertaram os antigos gregos com o mito de Prometeu, ou Mary Shelley, com “Frankenstein”.

Outros acreditam que o homem só deveria ter acesso a conhecimento limitado, com propósito previamente determinado e especial permissão do Criador.

No conto “Os Nove bilhões de nomes de Deus”, de 1953, o escritor norte-americano Arthur C. Clarke, autor também de “2001 – Uma Odisseia no Espaço” brinca com o tema.

Ele imagina o lama de um monastério Tibetano comprando um supercomputador Mark-V para realizar um trabalho, que, normalmente, seus monges levariam 15.000 anos: calcular todos os possíveis nomes de Deus, em palavras com 9 caracteres, usando um alfabeto especialmente inventado, sem que nenhuma letra figure mais de 3 vezes consecutivas em cada vocábulo.

Já instalados no Tibet, entre os muros da cidadela do templo, os dois engenheiros encarregados de montar e operar a máquina, descobrem - pouco antes do final dos cem dias de trabalho - que os monges acreditam que, uma vez finalizados os cálculos, a humanidade perderá sua razão de existir, e tudo acabará para sempre.

Preocupados com a reação dos monges caso as coisas não transcorram como eles esperam, os dois resolvem adiantar sua partida, e começam a descer a montanha onde está instalado o monastério, a caminho do aeródromo, no qual um DC-3 os aguarda, duas horas antes do horário previsto para que o computador imprima o ultimo nome. 

É noite, e eles estão, sobre suas montarias, em um dos pontos mais altos da trilha, quando chega o momento da máquina parar de trabalhar. Instintivamente, seus olhos se voltam para a silhueta do monastério, ao longe, recortando-se contra o horizonte. E descobrem, perplexos, que as estrelas, estão, uma a uma, começando a se apagar.

Não sabemos se o homem, algum dia, vencerá definitivamente a morte, ou se estaremos entre as últimas gerações a viver estes modestos oitenta, noventa, cem anos, que nos cabem, agora, como limites quase que definitivos.

Navegantes do tempo, temos singrado, por milhares de gerações, as águas do receio e da ignorância, abraçados uns aos outros, no início e fim de nossas vidas, frágeis e impactados por imensa vulnerabilidade, tremendo ante a perspectiva da dor e a proximidade da morte.

O certo é que, mesmo à deriva, parece que estamos prestes a conseguir atravessar o vasto oceano. 

Finalmente, vislumbramos, ao longe, para além da bruma que nos cerca, quase como miragens, das quais nos aproximamos lentamente - graças ao estudo do genoma humano e de novas ciências como a engenharia genética e a nanotecnologia – os pilares que nos darão passagem para uma nova era. Eles estão à nossa frente. 

Os fabulosos e indefinidos portais da imortalidade.  Este texto foi publicado tambémnos seguintes blogs: