29 de abr. de 2017

A GREVE GERAL E O DISCURSO ÚNICO.



Vendida por alguns meios de comunicação como parcial e totalmente dependente da paralisação do transporte público, a greve geral conseguiu paralisar a maior parte das cidades brasileiras na última sexta-feira.

Não faltaram - como costumeiramente - a violência, muitas vezes iniciada pela própria policia, e a infiltração de vândalos convenientemente vestidos de vermelho, cujo papel, todos sabemos - com a destruição gratuita de patrimônio público e privado e o incêndio de ônibus - é jogar a opinião da população que está em casa, assistindo aos telejornais, contra aqueles que ousam se levantar contra o status-quo, o sistema e o discurso dominante.

Nem as reações fascistas à greve, com a rápida montagem de páginas na internet, com violentas e estúpidas mensagens anticomunistas, contra um movimento do qual participou até mesmo a insuspeita - para os padrões vigentes - Força Sindical.

A intenção dos comerciais do governo - que beiram a ideologia e são descaradamente políticos - é convencer os brasileiros de que se herdou um caos para o qual se exige a adoção definitiva de uma série de remédios amargos, porém necessários, que se pretende empurrar goela abaixo da população, como se não houvesse uma infinidade de outros aspectos, a maior parte deles estruturais, a serem considerados.

É por isso que a Greve Geral de ontem, embora represente um primeiro esforço de resistência ao que está ocorrendo com a Nação, constitui uma espécie de alerta e deve ser levado em consideração para além das superficiais e distorcidas "análises" da "mídia".

Os parlamentares que cederam, esta semana, em questões como a da lei de Abuso de Autoridade, têm que entender que, embora exista um discurso acachapante, quase único, nos jornais, revistas, emissoras e redes sociais, ele está longe de ser unânime, e perceber que se arriscam a perder votos, do mesmo jeito, se fizerem apenas o que querem o governo ou a plutocracia.

Embora interesse a muita gente culpar apenas o PT ou a "corrupção", os grandes problemas econômicos do país - além da Lava Jato, com a interrupção de dezenas de projetos estratégicos e a virtual quebra de algumas das maiores empresas brasileiras - são os juros, a sonegação e a baixa taxação de quem mais ganha, principalmente o mercado financeiro.

Os bancos particulares - ao contrário daqueles que são públicos, cujo lucro se reverte, ao menos em parte, para todos nós - lucram, e muito, não apenas explorando seus clientes, mas principalmente a União, os Estados e Municípios, o que faz com que, correntistas ou não, sejamos, todos os brasileiros, explorados por eles.

Enquanto os juros da SELIC continuarem, em 10, 20, vezes, superiores, em média, aos países que nos acompanham no grupo das dez maiores economias do mundo, o governo - que já tem sua legitimidade contestada - não terá moral para cobrar dos trabalhadores e de seus filhos e netos os ingentes sacrifícios que está impondo, olímpicamente - sem discussão com a sociedade - por meio das pseudo reformas que está executando.

Ao estender, na mutilação da legislação trabalhista e previdenciária, a conta dos déficits para a população brasileira.

Ao mesmo tempo em que, contraditoriamente, "paga", antecipadamente, 100 bilhões de reais deixados pelo PT nos cofres do BNDES ao Tesouro - sem nenhuma necessidade e sem praticamente nenhum efeito na Dívida Pública.

Quando a maior parte da mídia oculta da Nação, ou ignora, deliberadamente, em seu esforço cotidiano de manipulação e contra-informação, que o país tem mais de 370 bilhões de dólares, ou mais de um trilhão de reais, em reservas internacionais, também economizados pelo PT - que além disso pagou, desde que chegou ao poder, mais 40 bilhões de dólares em dívidas de FHC ao FMI.

O governo livra a cara da parcela mais rica da sociedade.

Engessa, por 20 anos, os gastos estratégicos do país com a nefasta PEC 55.

Sufoca e sabota também, recessivamente, a capacidade de recuperação dos empregos, da renda e do consumo.

E estrangula, nas duas pontas - a da produção e a das vendas - a economia, quebrando os exportadores com o câmbio.

É nesse coquetel - desses e outros equívocos - ortodoxo, suicida e orwelliano, referendado por um Congresso Nacional majoritariamente acoelhado e conservador, que se faz de ignorante, que se tem que procurar as razões para a tragédia da economia.

E não apenas nas desonerações de Dilma ou no fundo do bolso vazio de dinheiro e de esperança, e agora, também, de futuro, dos trabalhadores brasileiros.

23 de abr. de 2017

COMO SE FOSSE UM CRIME - MÍDIA AFIRMA QUE PETROBRAS BENEFICIOU A BRASKEM, MAS NÃO CONTA QUE A BRASKEM PERTENCE À PRÓPRIA PETROLEO BRASILEIRO SOCIEDADE ANÔNIMA.





A última de certos meios de comunicação é acusar Lula de ter beneficiado a Odebrecht, via Braskem, em detrimento da Petrobras, como se a Petrobras fosse uma empresa e a Braskem outra, totalmente separadas, diferentes e concorrentes.


Tudo lindo, maravilhoso, se a Petrobras não fosse - coisa que não foi divulgada com o mesmo estardalhaço - uma dos maiores donos da Braskem, na qual é sócia da própria Odebrecht.


Logo, beneficiando a Braskem, que também lhe pertence, a Petrobras não estaria beneficiando a si mesma, ao menos em parte, não apenas colhendo o lucro e os eventuais "benefícios proporcionados à Braskem", mas também fornecendo matéria prima para ser modificada por uma empresa que lhe pertence, para agregar valor a insumos que produz, e vendê-los mais caro, como produtos acabados, no mercado?


Qual seria o sentido para a Petrobras, de concorrer com a Braskem, logo consigo mesma, ou de vender a ela Nafta a preços mais caros, prejudicando uma empresa que já era dela mesmo?


Mesmo que não seja exatamente isso, ou que a sociedade na Braskem não tenha sido positiva para a Petrobras - coisa que parece difícil, diante do estrondoso "carnaval" que pretende apresentar a Petrobras como uma inocente vítima da Braskem e do próprio Lula - a omissão da informação, que é absolutamente relevante nesse tema, é ululantemente óbvia, do ponto de vista da descarada intenção de se enganar e manipular a opinião pública.

Descontado isso, e pressionado por uma ideologia neoliberal nefasta que não aceita mais empreendimentos 100% "estatais" no país, Lula pode ter feito isso porque achava bom para a nação que ela tivesse mais um, ou ao menos um grande grupo empresarial brasileiro na área petroquímica, no caso, a Odebrecht.

O atual governo - e a fascistada que ladra na internet - prefere criar "campeões" estrangeiros na área, vendendo indústrias gigantescas como a Petroquímica Suape a outros países, pelo equivalente a cinco dias de faturamento da Petrobras, ou cerca de 10% dos recursos que foram investidos para construí-la.

21 de abr. de 2017

ALGUMAS RAZÕES PARA NÃO IR A CURITIBA AO ENCONTRO DE LULA.




A oposição pode estar se equivocando com a ideia das pessoas irem para Curitiba no dia 3 de maio para se  solidarizar com Lula.


Em primeiro lugar porque, quando começou-se a falar nas redes sociais e nos comentários dos portais de notícias, de partir para a capital paranaense para  impedir, “na marra”, a prisão do ex-presidente, caso ela viesse a ser decretada no dia do depoimento, pelo estilo das intervenções e a própria hipótese, descabida, era  evidente que essas mensagens estavam vindo do campo adversário para montar uma esparrela, uma arapuca - como se vê no "meme" acima - na qual  qualquer pessoa de bom senso dificilmente acreditaria que se viesse a cair com a facilidade e rapidez com que isso ocorreu.  


Se a ideia é demonstrar apoio, por que razão não fazer exatamente o contrário do que os adversários estão esperando, e em vez de se manifestar em Curitiba, estabelecer vigílias simbólicas, em todas as capitais do país, durante a tomada do depoimento, com exceção, exatamente, da  capital paranaense?


Em segundo lugar, porque um depoimento não pode se transformar em um cavalo de batalha.
Que os calvos nos desculpem a expressão, mas todo mundo está careca de saber que quem está se dando bem com a politização da justiça, com a decisiva ajuda da parte mais venal e hipócrita da mídia - é a direita.

Se Lula for abertamente hostilizado, ou alguma coisa injusta acontecer com ele, em Curitiba, o fato de ele estar enfrentando, sozinho, a situação, representará um tiro pela culatra para aqueles que querem enfraquecê-lo, fortalecendo, institucionalmente o seu papel, e ressaltando a injustiça e o arbítrio contra ele, não apenas junto à opinião pública nacional, mas aos olhos do mundo.
Em terceiro lugar, porque vai se dar ao Sr. Sérgio Moro mais importância ainda do que ele já pensa que tem, o que o discreto - e modesto - magistrado, ao ver as pessoas se digladiando, na rua, em sua defesa - poderá acabar achando uma maravilha.


Em quarto lugar, porque os fascistas estão desesperados com a consolidação de Lula nas pesquisas, apesar do massacre midiático cotidiano, e precisam de um fato novo, chocante e contundente, aos olhos da maioria da população, para tentar mudar esse quadro.


Quando tem gente que está louca para produzir um confronto, pode até se armar  um atentado, para acusar o adversário de estar por trás dele.


Ou, no mínimo, existe o risco de que se tente infiltrar sabotadores e vândalos no lado pró Lula, para atacar, vestidos de vermelho - quando é que esse pessoal vai entender que o uso do verde e amarelo não é prerrogativa oficial da direita?- as forças de segurança presentes e desaparecer logo depois na multidão, justificando todo o tipo de violência que venha a ocorrer em seguida.


Essa é a tática que foi usada pra engrossar as estúpidas manifestações de 2013 e 2014, no Brasil, que está sendo usada na Venezuela, e que foi adotada na Ucrânia e na maioria dos países árabes, no início da tal “primavera” que os mergulhou no inferno de destruição, miséria e guerra em que se encontram agora.
Ou alguém duvida que, em caso de confronto, com a mentalidade predominante atualmente na polícia, na justiça, no ministério público, as vítimas vão ficar todas de um lado e as simpatias - e as armas - todas do outro?    


A recente condecoração, no Dia do Exército, com a máxima comenda da Força Terrestre, de um jornalista que se deu ao trabalho de escrever um livro diminuindo o papel da FEB na Itália - publicamente criticado, quando de seu lançamento, pelo Comandante do Segundo Exército, General Sebastião Ramos de Castro - e de um magistrado que, com a sua atuação, está colocando em risco projetos estratégicos de material de defesa que levaram décadas para voltar a ser executados em nosso país, são significativos dos estranhos tempos que estamos vivendo.    


Se, no lugar de aceitar provocação - a começar a do próprio juiz que pretende obrigar Lula a assistir ao depoimento de todas as suas dezenas de testemunhas de defesa - e ir para as ruas em Curitiba, as pessoas que estão se preparando para viajar para lá tivessem defendido a governabilidade e a democracia nas redes sociais, desde o início desse processo nefasto, em 2013,  com o mesmo denodo e empenho,  o  fascismo jurídico-midiático não teria chegado ao ponto que chegou, a - suposta - luta contra a corrupção não teria se transformado em um amplo movimento pela antipolítica, Dilma não teria caído e Lula não estaria depondo nas condições em que irá depor no início do mês que vem em Curitiba.


A guerra pela Democracia, a Constituição e o Estado de Direito, para males do debate livre e benefício do pensamento único imperante, foi perdida na internet, que continua praticamente vazia de comentários, nos espaços ditos "neutros", de gente que está incomodada com o que está ocorrendo com o país.   


E ela - infelizmente para aqueles que desprezam a persistência e o planejamento - só poderá ser vencida se for travada no mesmo espaço, com garra, paciência, serenidade, informação e coragem.


Isso, se as pessoas entenderem que é preciso se mobilizar - inteligentemente - tanto do ponto de vista dialético como do jurídico - como mostrou a indenização que Chico Buarque recebeu recentemente por ter sido caluniado.


E não esquecerem que é preciso correr contra o tempo para se evitar a ascensão de um governo radical e fascista no Brasil, já que resta menos de um ano para se tentar vencer a batalha da opinião pública, na defesa da democracia, da liberdade, do voto, da República e das instituições, até que seja dada, oficialmente, em meados de 2018, a decisiva largada da campanha para as próximas eleições presidenciais.

20 de abr. de 2017

ABUSO DE AUTORIDADE - A MILITÂNCIA POLÍTICA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DESAFIA A LEI E O CONGRESSO NACIONAL.





Como se tratasse de um partido, em mais um ato descaradamente político -  como já se tornou hábito nos últimos anos, no Brasil, sem contestação por parte da imprensa e de órgãos de controle - procuradores do Ministério Público tem produzido   e divulgado vídeos - em defesa de seus próprios interesses - a propósito da Lei de Abuso de Autoridade em exame, neste momento, pelo Congresso Nacional.

Se membros do Ministério Público, aliás, parte de seus membros, que se arvoram em representar a classe, quando, graças a Deus, nem todos os procuradores - e juízes - brasileiros concordam com os absurdos que vêm acontecendo, quiser legislar, que renuncie à carreira e se lance candidato a deputado ou senador nas próximas eleições.

Afinal, já existe até um partido que adotou o símbolo de um certo movimento político que partiu, também, sem ser coibido, de membros do Ministério Público.

Nunca é demais lembrar que o MP foi criado não para fazer, mas para obedecer à Lei.

Quem legisla, neste país é o Congresso, que tem, com todos os seus defeitos, uma coisa chamada voto, que  o legitima para isso, que o Ministério Público não tem. 

A questão da nova Lei de Abuso de Autoridade é fundamental para o futuro do Legislativo e da Democracia Brasileira.

Com ela, se irá decidir não apenas os direitos dos cidadãos frente a um estado cada vez mais repressivo, arrogante autoritário, mas quem vai mandar no país daqui pra frente.     

Em jogo está a autonomia - palavra tão em voga ultimamente para certos setores do aparato repressor do Estado - do Legislativo e da Política frente a uma plutocracia que acredita poder comandar a República.

Uma plutocracia que não é perfeita nem inocente, e que apresenta inúmeros problemas, começando por privilégios como altíssimos rendimentos, que ultrapassam, em muitos casos, dezenas de salários mínimos e em várias vezes o que recebe o Presidente da República.

Trata-se de um momento histórico e decisivo e de uma oportunidade única, que o Senado Federal não pode deixar passar de colocar as coisas, do ponto de vista institucional,  em seu devido lugar.

Os legisladores não devem se deixar tolher nem intimidar  pela massacrante campanha midiática - que não por acaso não se afrouxa nem por um instante justamente neste momento - nem por um suposto apoio da  população ao que está ocorrendo no país, apoio que está minguando a olhos vistos, como se percebeu pelo fracasso das últimas manifestações convocadas para reforçar a pressão e a chantagem sobre os representantes eleitos, e a última do IBOPE, de hoje, que mostra Lula como o eventual  candidato a presidente com maior potencial de votos.

Numericamente, cerca de menos de 1% de brasileiros que apoiaram mudanças na legislação destinadas a reforçar o poder de repressão do Estado, situados majoritariamente na classe média - a periferia e o campo tem mais o que fazer e com o que se preocupar - não representa, nem pode representar, a maioria da população brasileira.

Crescentes parcelas da opinião pública, embora manipuladas cotidianamente pela máquina midiática, desconfiam cada vez mais das intenções e consequencias de um  "combate à corrupção" que está arrebentando com a economia, com os empregos, a engenharia e a soberania nacionais, destruindo o equilíbrio entre os poderes e colocando em risco o Estado de Direito e a própria democracia no Brasil.

O  Congresso precisa mostrar se ainda tem um mínimo de hombridade e dignidade ou se  vai passar para a História como uma legislatura acoelhada, que institucionalizará definitivamente o avanço de um Estado de Exceção, de fato, e a entrega e a rendição da sociedade brasileira - e do universo político - ao abuso de poder de uma plutocracia arrogante e vaidosa, que pretende mandar no país sem voto e sem mandato constitucional.     

Todo poder emana - por meio das urnas e do título eleitoral - do povo, e em seu nome deve ser exercido, reza a Constituição Federal.

Que sabiamente proíbe - não dá para subjetivar nem relativizar a clara intenção por trás do texto - e isso deveria estar sendo lembrado a todo momento pelo Congresso Nacional - o exercício da atividade política por parte de juízes e de procuradores do Ministério Público que só estão faltando montar - diretamente - seus próprios partidos políticos, vestir uniformes - o preto, o marrom e o dourado tem feito sucesso ultimamente - costurar  estandartes e bandeiras e começar a marchar a passo de ganso.

18 de abr. de 2017

ESTÁ FALTANDO UMA DISCIPLINA NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR: A DEMOCRACIA.



Duas vereadoras paulistanas tiveram seus números de telefone celular divulgados e estão sendo alvo de uma campanha fascista de pressão, com insultos e mensagens em massa, por não apoiarem as teses do tal "Escola sem Partido".      

Pelo comportamento daqueles que as estão insultando, pela tática de pressão covarde e anônima adotada, pela covardia de quem divulgou seus números de telefones celulares, dá para adivinhar o partido, não oficial, nem declarado, que está por trás dos ataques: o do fascismo.

Enquanto isso, outro vereador paulistano resolveu dar uma de Dória - a quem apoiou nas eleições - ou seria de Jânio Quadros? - e decidiu invadir e fiscalizar pessoalmente escolas públicas, para verificar o conteúdo das aulas e pressionar professores, no contexto do mesmo "movimento", descaradamente partidário e ideológico - o de impedir - fazendo exatamente o que condena- uma suposta "politização" do ensino.

Tudo isso ocorre no mesmo momento em que o MEC encaminha, ao Conselho Nacional de Educação, a proposta da nova Base Nacional Comum Curricular, que contempla 10 diferentes "competências" que devem ser buscadas na formação dos alunos, nenhuma delas explicitamente voltada para sanar o maior déficit do sistema educacional brasileiro: o da formação política e cidadã da nossa gente.

Não tendo a menor ideia do que está escrito na Constituição, do equilíbrio institucional e democrático que deveria reger o convívio em sociedade, tanto de cidadãos como de segmentos sociais;  do funcionamento de nosso sistema político; do papel de cada um dos Três Poderes; dos limites e atribuições dos agentes do Estado; do que é o Estado de Direito; dos direitos e deveres individuais; as crianças brasileiras não podem se situar no contexto da Nação, da sociedade e da República, nem aprender a votar com consciência, porque não sabem sequer para que serve o Congresso, qual o papel dos vereadores, prefeitos, deputados,  senadores, e como funciona - como se pode ver pelos mitos que cercam a utilização das urnas eletrônicas - o sistema eleitoral vigente.

Caso já houvesse esse tipo de ensino, há alguns anos, as bestas quadradas que estão por trás da campanha do Escola sem Partido teriam aprendido na escola que a educação é um direito democrático, que deveria possibilitar às escolas e professores - ao contrário do que existe hoje, principalmente nas escolas particulares, com a disseminação apenas do discurso único direitista - estabelecer livremente a abordagem que pretendem dar à formação de seus alunos e estimular o debate como método de desenvolvimento político do cidadão.

Entre os equóvocos dos setores populares e nacionalistas, nos últimos 15 anos, está o fato de não terem estabelecido, para a população, uma opção ao padrão político-educacional imperante, aprovando a obrigatoridade do ensino da Constituição Federal no ensino público, ou, no mínimo, estimulando a criação de dezenas, centenas de cooperativas de ensino, em todo o país, que pudessem dar a seus filhos a possibilidade de ter acesso a uma narrativa alternativa à estabelecida pela midiotização imposta majoriariamente no Brasil pelos grandes veículos de comunicação.

A Democracia estabelece-se pela diversidade, e não apenas pela diversidade de gênero, de origem étnica e cultural,  de comportamento, mas, sobretudo, pela diversidade  de pensamento POLÍTICO. 

Pelo direito que as pessoas devem ter de ter acesso a diferentes informações e visões de mundo e de aprender, por meio delas, a pensar, a analisar as diferentes abordagens que estão à sua frente, e estabelecer com total liberdade, incluída a do debate, o seu caminho na vida e a uma prática de cidadania plena.

Hoje, os filhos e netos daqueles  que não se alinham com o pensamento único dominante sabem o que estão passando na maioria das escolas, e, principalmente nas particulares, em que o "partido" e a "filosofia", determinante e majoritária, são o consumismo e o preconceito, a busca superficial do dinheiro e do "sucesso" como principal objetivo na vida - que deve incluir numerosas idas à Disney e a Miami como ritual de passagem para a adolescência e a idade adulta -  a manipulação midiática, a vira-latice com relação aos estrangeiros, a ignorância política, e a sua filha dileta, a "antipolítica", a desinformação e o fascismo.

Em uma situação como essa, agora piorada com a possibilidade de um professor  ou de uma escola serem acusados de comunismo, caso se afastem do que é imposto pelo "estado de direita" em que vivemos cotidianamente,  as escolas privadas - e as públicas, patrulhadas por malucos, como está ocorrendo na cidade de São Paulo  - não ousam se arriscar a sair, nem por um milímetro, do figurino.

Nesse quadro, para além - salvo poucas e honrosas exceções - do universo muitas vezes engessado e reprimido do ensino público, a saída para preservar o bolso dos pais, um salário mais alto para os professores, uma melhor formação para os alunos, bolsas para crianças carentes e  liberdade para todos, pode, para resolver pelo menos em parte o problema, o associativissmo e o cooperativismo de ensino.

Que tal pensar no assunto?

13 de abr. de 2017

O ESCÂNDALO DA PETROQUÍMICA SUAPE - A "PASADENA" DO GOVERNO TEMER.



Com 9 bilhões de reais investidos e capacidade de produção de 640.000 toneladas de PTA e 450.000 toneladas de PET por ano, uma novíssima refinaria da Petrobras em Pernambuco está sendo vendida pela empresa para mexicanos pelo equivalente a apenas cinco dias de seu faturamento.

(Rede Brasil Atual) - Após a derrota de sindicatos - que deveriam ter insistido, em todo o país, com novas ações - o Judiciário autorizando a escandalosa venda  da Petroquímica Suape e da Citepe, de Pernambuco, nas quais foram investidos 9 bilhões de reais - pela Petrobras, a mexicanos, pelo  equivalente ao valor de pouco mais de cinco dias de seu faturamento.   

Para que vender a Petroquímica Suape se, no final de 2015, a dívida da empresa era menos de dois bilhões, o equivalente, portanto, a apenas 2 anos vendas, se a sua receita líquida cresceu em 19% naquele ano e o seu prejuízo caiu em 35% frente a 2014?

Prejuízo esse cujas razões devem ser procuradas no próprio México, que, devido a um acordo de preferências tarifárias, por meio de empresas como a empresa que está comprando a refinaria, a ALPEK, vende milhares de toneladas de PET ao Brasil sem pagar um centavo de imposto, e é o principal concorrente, em nosso próprio país, da mesma Companhia Petroquímica Suape, obrigando-a a trabalhar com um baixo nível de ocupação de apenas 65% de sua capacidade instalada?

Ora, as perguntas que não querem calar, são, por que - se tocar a petroquímica é um mau negócio - nossos "hermanitos" mexicanos estão comprando a empresa, que, aliás, poderia ter sido negociada com compradores que têm potencial para pagar muito mais, como os chineses, por exemplo?

Ou, simplesmente, por que não se colocou, a esse preço de ocasião, a empresa para ser vendida em bolsa, diluindo o seu capital e beneficiando, com esse negócio de pai para filho,  milhares de acionistas brasileiros?

A primeira e mais óbvia razão para a compra pelos mexicanos, é que ela está sendo vendida a preço de banana, por acionistas da Petrobras - como fundos de investimento, por exemplo - que, querendo - nada os impede disso - podem comprar ações da ALPEK na Bolsa Mexicana de Valores antes, ou logo depois da concretização do negócio, lucrando, junto com os donos da Alpek, uma fortuna de bilhões de dólares na compra da refinaria por pouco mais de  10% do que foi investido no negócio.

Vendendo barato, com uma mão, e comprando com a outra, fora do país,   um patrimônio que foi levantado com dinheiro de todos os brasileiros e que pertence majoritariamente a toda a população brasileira.  

A segunda é que a ALPEK e o seu controlador, o Grupo ALFA, não passam, exatamente, por um bom momento - por isso suas ações estão ainda mais "baratas" do que o normal - e precisam produzir boas notícias.

O fundador do grupo ALFA, controlador da ALPEK, Armando Garza, faleceu na semana passada, e as ações da ALPEK já tiveram uma queda de 16% no primeiro trimestre de 2017, com uma baixa de valor de mercado de mais de 5 bilhões de pesos mexicanos.

Os investiddores mexicanos estavam preocupados com o futuro das ações da ALPEK devido à debilidade de seu relatório trimestral, justamente na área em que pretende se consolidar  no Brasil, a de poliester e de polipriopileno, na qual suas vendas retrocederam em 3%, fazendo com que o seu EBTIDA tenha diminuído em 2016 em 7% com relação ao último trimestre de 2015.

Por tudo isso, a imprensa mexicana comemora ruidosamente em suas manchetes a compra da petroquímica de SUAPE pela ALPEK.

A aquisição aumentará, potencialmente, a produção  de PTA do Grupo ALPEK em 33% e a de PET em 25% - pagando-se  uma mixaria, a metade do valor que era esperada no início pelos observadores. 

Calculava-se, na Cidade do México, que a compra poderia sair por um valor mínimo de 600 milhões de dólares - só os ativos valem várias vezes isso - quando o preço final ficou por pouco menos de 400 milhões, o equivalente a aproximadamente dois dias de faturamento da Petrobras, por um patrimônio no qual foram investidos, voltemos a lembrar, 9 bilhões de reais, que embute, na prática, o virtual controle do mercado brasileiro de um dos insumos mais usados em nossa economia. 

A terceira razão do negócio, e a mais importante, para os mexicanos, é - independente da situação da ALPEK e a da Petrobras, que, com crescimento constante de sua produção neste ano, e um aumento no valor de suas ações de  200% nos últimos doze meses, é muitíssimo melhor do que a do grupo mexicano - é de interesse nacional, por sua natureza geopolítica e estratégica.

O México resolveu controlar a produção de polietileno, um artigo que se usa aos milhares de toneladas por dia, no Brasil - que tem um mercado maior que o mexicano e é o maior da  região - para afastar o Brasil como concorrente e controlar o mercado desse insumo, nãao apenas aqui, no Brasil, mas, em dimensão continental, na América Latina como um todo.

Com a entrega da Petroquímica de Suape à ALPEK, o mercado brasileiro de PET passa a ficar nas mãos dos mexicanos, que poderão, a partir de agora, até mesmo fechar, no futuro,  a fábrica pernambucana, ou diminuir a sua produção quando lhes der na telha.

Para isso, ele podem, por exemplo, aumentar as exportações de PET para o Brasil a partir de suas fábricas mexicanas, ou produzir, aqui, no Brasil, com petróleo vindo do México, beneficiando, indiretamente, a PEMEX, a companhia estatal de petróleo mexicana.

E regular a oferta em nosso mercado,  para aumentar o preço do insumo,   estabelecendo um virtual monopólio nessa área.

Cortando a possibilidade estratégica que o Brasil tinha de alcançar a autosuficiência na produção de PET e de produzir aqui mesmo com petróleo nacional, agregando valor ao petróleo produzido pela Petrobras.

Tirando do Brasil a possibilidade que ele tinha, com essa refinaria, de disputar a supremacia,  com o beneficiamento direto de nossa crescente produção de petróleo, com os nossos maiores concorrentes nessa área, que são - ou melhor, eram, porque saímos praticamente do negócio depois de gastar bilhões montando essa unidade petroquímica para eles - justamente nossos hermanos do país  dos tacos, do Chapolin Colorado e do Speedy Gonzalez, o Ligeirinho.

Os negócios envolvendo a compra, pela Petrobras, da refinaria norte-americana de Pasadena, com um controvertido  prejuízo - foram pagos 7.200 dólares por barril de capacidade de processamento, em um ano em que a média de negócios nessa área (11 vendas de refinaria em todo o mundo) foi feita com preço mais alto, de 9.200 dólares o barril)  tranformaram-se em uma das principais bandeiras da campanha midiota-jurídico-política que levou à derrubada de Dilma Roussef da Presidência da República.

Não é de se estranhar que a desculpa do governo Temer, de diminuir os prejuízos da construção da Petroquímica SUAPE - que por maiores sejam, um belo dia se pagariam e começariam a dar lucro - não desperte - neste país cada vez mais canalha e hipócrita - a mesma indignação por parte da imprensa e de  milhares de carregadores de pato e de batedores de panela, que, sem embargo, como cidadãos, estão levando, na entrega de mão beijada  dessa gigantesca refinaria aos mexicanos, um prejuízo várias vezes maior do que o primeiro.

Comprar uma empresa lá fora - expandido nossa influência no mundo -  é um escândalo. 

Repassar uma empresa brasileira, muito mais moderna, aumentando o poder de estrangeiros aqui dentro, para gringos, a preço de banana, é a coisa mais normal do mundo. 

4 de abr. de 2017

DE GHOST WRITERS E DE PRESIDENTES




Operário da palavra, como se dizia antigamente, tive, na minha vida profissional, e, principalmente, política, a oportunidade de colaborar com alguns presidentes da República, todos honrados e patriotas, graças a Deus.

Na maioria das vezes o fiz na condição de "ghost writer", mas como os "fantasmas", mesmo que eventualmente se divirtam, devem ser preferencialmente discretos, não esperava agora nesta minha vestustíssima idade, ser citado seis vezes, quase sempre devido a essa condição, nas memórias de outro ex-presidente, com o qual tive a honra de não trabalhar quando ocupava o comando do executivo, em um governo no qual, segundo estatísticas do Banco Mundial, o Brasil andou para trás, do ponto de vista de PIB nominal, salário mínimo e renda per capita, em dólares, e muitíssimo mais no âmbito da erosão da soberania, da desnacionalização da economia e da subalternidade geopolítica.

Procurado por uma revista semanal para comentar o acontecido, confesso que meu primeiro impulso foi retornar a ligação e dizer que há tempos, atendendo a recomendação do próprio,  esqueço ou ignoro qualquer coisa que esse senhor já escreveu, escreva ou venha a escrever no futuro.

Também me passou pela cabeça usar uma frase muito em voga nos anos sessenta - dos quais ainda não saímos historicamente - e responder, de chofre: não li e não gostei... os senhores vão me desculpar mas tenho mais o que fazer do que ficar dando importância ao tal de fulano. 

Mas refreei, ainda a tempo, a grosseria, já que a frase, independente da intenção e do contexto, poderia parecer rasteira e leviana, e decidi declinar de ouvir o que queria ler-me o repórter ao telefone, dando a entender que preferia esperar que a "obra", devidamente impressa, chegasse às livrarias. 

Não pretendo responder ao que foi escrito, nem declinar, em contexto pessoal, o nome do autor neste texto, embora às vezes seja obrigado a usá-lo em um ou outro trabalho jornalístico.

Da mesma forma que também não falo dele - sequer em pé de página - em minhas lembranças, que descansam, sem nenhuma ansiedade, na gaveta, esperando a hora de vir a público.

Não o farei agora, nem muito menos - se ele vier a partir primeiro - depois que o personagem em questão entrar naquela idade póstera e escura, aquela da qual não escapam nem os príncipes nem os faróis, que, em sua arrogância, estão condenados a se misturar aos mendigos e às paredes esfareladas das choupanas, no barro anônimo e humilde que será cultivado, pisado, cuspido e marcado, etologicamente, com urina, por aqueles que vierem no futuro, quando as lápides - por mais caras sejam, ou mais brilhantes ou mais duras - já tiverem se tranformado em pó e em esquecimento.

Não tenho por hábito praticar o esporte feio, fácil e indigno de atacar os mortos - impossibilitados que estão de defender-se pela rigidez de suas mandíbulas - mesmo com a desculpa de dar a entender que os insultos foram escritos entre paredes - como as cantadas no velho fado de Amália Rodrigues - quando os alvos ainda estavam vivos, respirando.


2 de abr. de 2017

O GATO DE SCHRODINGER E AS MATRIOSHKAS MALDITAS.




A Operação Carne Fraca disse muito a respeito do que está ocorrendo no país, e não apenas com o Estado de Direito, ou o Ministério Público, o Judiciário, a Polícia e a mídia nacional.

Sem querer discutir a questão política por trás dessa e de outras operações - o que já fizemos em outras ocasiões - o  que está ocorrendo no Brasil de hoje é que entramos em um perigoso e kafquiano território quântico.

Uma espécie de dimensão espaço-temporal  na qual, como no caso do Paradoxo do Gato de Schrodinger,  sem as referências - perdidas - da Constituição e da Lei, ninguém sabe se o animal fechado dentro da "caixa" da República está morto, vivo, ou "vivo-morto", ou como ele ficará, se abrirmos a caixa para ver o o que está acontecendo, ou melhor, o que ocorrerá no exato momento em que a abrirmos.

Em um estado pleno, vigente, indiscutível, de Direito, dificilmente uma operação como a Carne Fraca - ou mesmo a Lava Jato, em muitos de seus aspectos, poderiam ter ocorrido da forma como se deu.

O pecado original que nos conduziu até aqui foi aceitar mudar as regras do jogo para derrubar um governo, depois do estado de sítio estabelecido, paulatinamente, contra a governabilidade, a partir das "manifestações" contrárias à "Copa de 2014". 

Trocamos o universo tridimensional - judiciário, executivo, legislativo - da física política conhecida, que dava sustentação à República, pelo princípio da  incerteza - que Heisenberg me desculpe pelo paralelo com a sua teoria que envolve a medição dos elétrons - do verdadeiro pega pra capar que impera agora,  em que a plutocracia - suas diferentes corporações - se digladia pelo poder e os holofotes, querendo substituir os eleitos no comando da Nação, e as grandes vítimas são  a Liberdade, a Democracia, o país e o cidadão.

A culpa por esse estado de coisas, começa com o equívoco - para responder à pressão - do governo anterior, de pretender dar ao Estado "autonomia" com relação ao poder político.

Ora, se o Estado, ou certas parcelas privilegiadas dele, pudessem se sustentar, moralmente, apenas com o direito à autonomia (como se vivessem em uma bolha de plástico esterilizada totalmente isolada do que ocorre à sua volta) não seria mais preciso partidos, candidatos, eleições, Poder Executivo, voto ou Congresso.

O Estado só existe quando submetido ao poder político, que o legitima.

Senão ele não é Estado, e sim imposição, uma impostura.

Já que a Democracia existe para que o povo mande na plutocracia, paga regiamente por ele, e não para que uma plutocracia com "autonomia", mas sem voto, e, no caso de hoje, sem limites, se sinta autorizada, como parece estar acreditando agora, a querer mandar no país, na Nação e na República .

A falta de autoridade do poder político sobre a plutocracia, o abandono do império da lei, levou-nos a uma situação em que, depois de se rasgar as roupas de baixo da Constituição, expondo-a a todo tipo de violação, tudo passa a valer, e, dentro da estrutura do Estado, cada um com um mínimo de autoridade faz o que quer, quando e como quiser.

Não existem mais fronteiras definidas entre os poderes, e, dentro dos poderes, não existe mais ordem, herarquia, regras, liturgia,   atribuições claras para os diferentes níveis e personagens que os compõem.

Em um país, sejamos comedidos, acéfalo, completamente desorganizado do ponto de vista institucional, não é de se estranhar que procuradores e juízes mandem recado e façam "veladas" ameaças, de elefantina sutileza, ao Congresso, querendo, isso sim, tolher a autonomia do Legislativo Federal,  como está ocorrendo, agora, no caso da discussão e aprovação da Lei de Abuso de Autoridade.

Como não é de se estranhar que procuradores insultem publicamente ministros do Supremo.

Que corporações de funcionários - e até mesmo órgãos do Estado - lancem campanhas públicas, em busca de assinaturas de apoio, como estudantes vendiam "votos", no passado, para a Festa da Primavera.

Que essas "campanhas" dêem origem - até a simbologia é a mesma -  a partidos políticos feitos para apoiar categorias de funcionários públicos às quais está claramente vedada a atividade política.

Que juízes de primeira instância aprovem ou desaprovem, publicamente, a indicação de Ministros  da Suprema Corte; ou peçam, como se tratassem de concorrentes do Big Brother Brasil, apoio popular, em suas próprias e autobajuladoras páginas na internet.

Que candidatos a ministro tenham que prestar contas e juras a emissoras de tv para eventualmente assumir seu cargo.

Que pessoas sejam conduzidas coercitivamente sem terem sido intimadas previamente.

Que prisoes temporárias sejam sucessivamente prorrogadas por meses e anos, com o intuito de pressionar detidos, até que eles digam o que se quer.

Que empresas sejam ameaçadas para fazer o mesmo, admitindo todo um arcabouço mistificante e mendaz, sob pena de não poder mais trabalhar, e que, mesmo assim, continuem alijadas de crédito e do mercado governamental, porque CGU, AGU, MP, TCU não se entendem - e não apenas no caso dos "acordos" de leniência - na espetaculosa geléia geral em que se transformou o estado nacional.

Que ministros do Supremo sejam insultados da forma mais baixa na internet e redes sociais sem nenhuma reação.

Que existam sujeitos que se auto-intitulam pré-candidatos à presidência da República, em plena campanha há anos, dentro e fora da internet, sem ser praticamente incomodados pela Justiça Eleitoral.

A sensação de falta de controle é tão grande, que uma multinacional estrangeira - sem nenhuma contestação de algum partido político, de um cidadão, ou do CONAR - coloca no ar uma campanha de lançamento de carro, de teor descaradamente  político, com o tema  - você na direção da mudança (que mudança? A quem interessa a mudança que aí está?) traduzindo, por meio de um automóvel de mais de 80.000 reais, o sonho de consumo e a conquista do país por uma certa classe "média" conservadora, "vitoriosa", supostamente ascendente.

Quando a realidade é a da quebra - da engenharia à indústria de alimentos, agora - de centenas de grandes, médias e pequenas empresas, de milhares de acionistas, investidores - na bolsa e fora dela - fornecedores, vendedores, distribuidores, exportadores, e de centenas de milhares de trabalhadores que foram para o olho da rua devido ao caos político-institucional imperante e ao terror imposto ao setor produtivo, por funcionários públicos que não têm a menor ideia do que estão fazendo ou da repercussão econômica, política e social de suas ações.

Este é um tempo em que "investiga-se", rasteiramente, a torto e a direito, sem justificativa nenhuma, ou com base em ilações pontuais, insustentáveis, fortuitas, normalmente colocando sob escuta - já não há mais o menor controle sobre prazos, renovam-se, ad aeternum, as autorizações judiciais -por anos ou meses, diferentes setores da economia ou da vida nacional.

O que começou como uma manobra  político-jurídica, dirigida a derrubar o governo anterior, em um  impulso inercial que ainda continua, transformou-se, agora, em uma desatada fogueira das vaidades em que os setores encarregados de um novo tipo de repressão "giorgio-armaniana" competem entre si para mostrar quem manda mais, ou quem está fazendo mais em uma suposta "guerra contra a corrupção" que agride a Constituição, destrói a economia e sitia o que sobrou - depois do "impeachment" - de legitimidade no poder político.

Os alvos são aqueles segmentos pelos quais se cultiva antipatia ideológica, que continuam na mira, e, agora, aqueles ligados a temas que são passíveis de ter maior poder de repercussão junto à opinião pública - como a saúde ou alimentação, por exemplo - que são monitorados até que alguém diga, ao telefone, algo capaz de justificar uma "operação" de grandes proporções.

Então, o Ministério Público pede, e os juízes autorizam, muitas vezes apenas com base nessas interceptações,  novas e mais amplas quebras de sigilo nas comunicações, prisões preventivas, conduções coercitivas, mandados de busca e apreensão.

Invade-se, apreende-se, prende-se, se conduz, com estardalhaço e muitas vezes sem provas, mantendo-se o "material apreendido" sob guarda da justiça, durante meses, anos, mesmo que seja apenas o tablet de uma criança.

Imediatamente, a mídia - ou a maior parte dela - reverberará, então, em gongos colossais, a versão do  "sistema", sem checar também absolutamente nada, porque não o faz mais profissionalmente, mas automaticamente, ideologicamente, ininterruptamente, regurgitando, como um pinguim, o que recebe dos outros, sem digerir o que lhe passam terceiros, por meio de "notas" e vazamentos, em um jogo sujo e permanente de descarada manipulação.

Isso, sem dignar-se a  perguntar a si mesma se quem fala de papelão e plástico pode estar se referindo a embalagem, ou sequer entrar no Google para ver que ácido ascórbico não é um tremendo veneno cancerígeno, mas um simples e corriqueiro tipo de vitamina C.

Se consultada, não há porque se preocupar. 

Pressionada e seduzida pelo "clamor" das ruas - tão superestimado quanto ilusório - e pela narrativa preponderante vigente, a "justiça" estará quase sempre ao lado desse processo, desse novo estado de coisas, dessa estranha jurisprudência, dessa inédita situação - enquanto presos se decapitam nas prisões e tribunais inferiores absolvem, regularmente, agentes públicos filmados atirando em indivíduos desarmados ou jogando outros de telhados, por exemplo.  

Tudo que for do interesse dessa "campanha", desse discurso único, será  repetido, exagerado, multiplicado, à exaustão, em sites, jornais, portais  e blogs.

Não apenas naqueles criados especialmente para divulgar mentiras, sem reação das autoridades - a ponto de publicar que uma pessoa morta foi vista viva em outro país, para jogar a população contra uma determinada liderança ou partido político - mas também nas redes sociais e nos comentários dos portais, por uma multidão de trolls, que, algumas vezes, primam pela ignorância, mas na maioria delas, são constituídos pelo ódio, pelo preconceito,  pela estupidez, pela imbecilidade, sem contestação.

E assim, chega-se à fórmula mágica por meio da qual passamos a viver em um país dominado, de alto a baixo, pela  mentira e a hipocrisia, que marcha, a passos firmes, coordenados, para um governo quase que certamente fascista, a partir do final do ano que vem.

Não é possível continuar reduzindo os problemas da Nação à corrupção, distraindo a população de outras gravíssimas questões, como os juros e a sonegação, nem podemos permitir que se percam de vista os parâmetros que regem o contrato social maior da Democracia, sob pena de que se perca a governabilidade e o controle do país.

Os graves erros cometidos pelo PT e pela oposição ao PT nos últimos anos, vide "O PT, O PSDB, e a arte de cevar os urubus", nos meteram em uma camisa de sete varas.

Em um jogo de matrioshkas - as  bonequinhas russas de madeira pintada que guardam, dentro, outras, menores e aparentemente iguais - em que cada novo golpe, ou tentativa de golpe, esconde, em uma sucessão de pequenos kinder-ovos envenenados, uma "surpresinha" cada vez pior.

Sabemos, como no caso do gato, do martelo e do frasco de veneno do experimento mental de Schrodinger, a que nos referimos antes, que, dentro da primeira matrioshka, a matrioshka do "impeachment" contra Dilma, no ano passado, existem pelo menos mais duas bonequinhas, que dominarão, nos próximos meses e anos, se nada for feito para impedi-lo, o país e a vida política nacional.

Uma delas é o avanço permanente, contínuo, incontestável, do Estado de Exceção, com a conquista da  República -  com a desculpa de uma "autonomia" e de uma "independência" surreais (vide aí novamente a importância da aprovação da lei de Abuso de Autoridade) - por parte de uma plutocracia que não deveria ter, porque não tem voto, nenhum poder político.

A outra tem a ver com dois pré-candidatos - um deles, ainda eventual - ególatras e autoritários, os dois extremamente ligados a essa parcela da funcionalismo público preconceituosa, arrogante e hipócrita.

As duas maiores lideranças conservadoras do país, hoje, que,  independente de só um deles sair candidato, inevitavelmente se apoiarão em um segundo turno contra Lula.

Que ninguém se iluda com o baixo comparecimento nas últimas manifestações "coxistas".

Quem quiser saber como anda o estado da extrema direita, no panorama geral do "Estado de Direita" nacional, que entre nas páginas na internet e em suas centenas de canais no youtube, e consulte o número de curtidas, adesões, assinaturas e comentários, para ter ideia da enorme dimensão que  conquistou nos últimos anos no contexto da sociedade brasileira.         

Esse quadro, cada vez mais complexo e desafiador, nos leva a perguntas difíceis de serem feitas e respondidas, mas que não podem ser adiadas, historicamente, por quem estiver minimamente preocupado com a sobrevivência da Democracia no Brasil: 

Qual das duas matrioshkas - a plutocrática ou a fascista - se consolidará primeiro? 

Até que ponto elas trabalharão, intimamente, nos próximos meses, e, principalmente, consolidando esse absurdo estado de coisas, ou sabotando um eventual governo de esquerda, a partir da posse de um novo presidente, em janeiro de 2019? 

Se Lula for candidato, até que ponto se poderá estruturar e alcançar uma contundente vitória fascista, por meio de uma ampla aliança no segundo turno - de todos, do "centro" fisiológico à extrema direita - contra ele?

Ou melhor, no ano que vem, se Lula for candidato, com quem ficarão os outros concorrentes que não forem para o segundo turno?

Contra ou a favor do fascismo que ameaça se assenhorear do país?