29 de jun. de 2016

O “BREXIT”, O FASCISMO E O MEDO.



Depois de intestina disputa que rachou a sociedade inglesa, cujo ápice foi o emblemático assassinato da deputada trabalhista Jo Cox por um fanático fascista que, ao atacá-la a tiros, gritou “a Grã Bretanha primeiro!”, slogan inspirado, assim como o de “o Brasil acima de tudo!”, no “Deutschland Uber Alles!”, do hino nazista, o Reino Unido - cada vez mais desunido - votou, finalmente, por sua saída da União Europeia.    


O resultado provocou terremotos internos e externos. As bolsas caíram em todo o mundo. O primeiro-ministro David Cameron já marcou data para se afastar do cargo.


E pode levar à desagregação do país, já que a Irlanda do Norte e a Escócia anunciaram que pretendem convocar plebiscitos próprios para decidir, a primeira,  se continua na União Européia, e a segunda, se vai unir-se à República da Irlanda.


Além disso, a libra já caiu mais de 10% com relação ao dólar e ao euro, e os alimentos e as viagens para o exterior ficarão mais caras, porque em alguns produtos, como leite e manteiga, e certos vegetais, por exemplo, mais de 50% do que é consumido na Inglaterra vem do continente, no outro lado do canal. 


Comandada pela direita e pela extrema direita, e provocada principalmente pela ignorância característica dos dias de hoje - milhares de britânicos entraram no Google para perguntar, às vésperas do plebiscito, o que era “União Européia” - e pelo medo e a aversão aos imigrantes, a vitória do “Brexit” é mais um poderoso exemplo do comportamento burro, deletério e ilógico do fascismo.

        


Com a saída da UE, a Inglaterra tende a perder influência na Europa; a enfraquecer-se frente a eventuais adversários extracomunitários; a empobrecer econômicamente, diminuindo seu acesso a um dos maiores mercados do mundo; além de aumentar seu isolamento no âmbito geopolítico e sua histórica dependência dos Estados Unidos.


Uma situação que deveria servir de alerta, no Brasil,  para aqueles que querem acabar com a UNASUL e o Mercosul a qualquer preço e substituí-lo por “acordos” de livre comércio desiguais com países e grupos de países altamente protecionistas, como a própria União Europeia, que contam com capacidade de pressão muito maior que a nossa.

  

Decepcionada e frustrada com os resultados das urnas, a juventude inglesa reclamou que seu futuro foi cortado, lembrando que os jovens britânicos perderam, entre outras coisas, a chance de trabalhar em 27 diferentes países, e  engrossou um manifesto de 3 milhões de assinaturas que pede a realização de novo plebiscito - hipótese improvável, praticamente impossível de avançar neste momento, diante da indiferença e do egoísmo dos vitoriosos.


Nunca é demais lembrar que o fascismo, também em ascensão na Inglaterra de hoje, rejeita e despreza - apaixonadamente -  o  futuro.


Mesmo quando se disfarça de "novo" e disruptivo, como ocorreu com a Alemanha Nazista, ele está profundamente preso ao passado, como mostrou claramente Mussolini - e também Hitler com seus monumentos, estátuas, bandeiras e desfiles - ao tentar emular, canhestramente, a cultura   greco-romana e repetir - nesse caso, na forma  de tragédia, com as seguidas derrotas militares italianas - a glória perdida da Roma Imperial.


O fascismo - ao contrário do que muitos pensam - não é glorioso, mas medroso. 


Fascistas temem, paradoxalmente, aqueles que consideram mais fracos, e por isso são “apolíticos”, homofóbicos, eugenistas, antifeministas, racistas, intolerantes, discriminatorios, xenófobos,  anti-culturais e contrários ao voto obrigatório e universal.


A suástica, girando sobre seu eixo,   reproduz o movimento concêntrico de alguma coisa que se encerra em si mesma, repelindo tudo que venha de fora, como uma tribo ignorante e primitiva, um molusco que fecha velozmente sua concha, ou um filhote de porco espinho ou de tatú que se enrola, tapando a cabeça, ao primeiro sinal de ruído ou de aproximação.


Da mesma forma que faziam, patologicamente, os soldados   nazistas, educados no temor da “contaminação” judaica, cigana ou bolchevique, que se comportavam como diligentes técnicos de dedetização tentando conter uma epidemia, fechando-se a qualquer razão ou sentimento, ao matar récem nascidos e crianças de três, quatro, cinco, seis anos de idade, escondidas debaixo da cama, ou trancadas na derradeira escuridão das câmaras de gás, da forma mais fria e repulsiva, como se estivessem exterminando, simplesmente, pulgas, percevejos e ratos, ou esmagando ovos de barata.


O Brexit - a saída da Inglaterra da União Européia - é mais um perigoso aviso, entre os muitos que estão se repetindo, nos últimos tempos - como sinais proféticos - do próximo retorno de um fascismo alucinado e obtuso.


Um retorno que se dá, e se torna possível, mais uma vez, pela fraqueza e indecisão da social democracia, a existência de uma pretensa massa de “defensores” do Estado de Direito e da liberdade, amôrfa, apática, inativa; e de uma esquerda que apenas espera, de braços cruzados, também encerrada, em muitos países do mundo, em seus próprios sites e grupos, disfuncional, estrategicamente confusa, passiva, inerme e dividida, sem reagir ou defender-se quando atacada, nem mesmo institucionalmente, como um letárgico  bando de carneiros pastando ao sol.


O medo fascista está de volta. 

E não se limitará à Inglaterra.


Se não for contido o avanço de sua imbecilidade ilógica, por meio do recurso ao bom senso e à inteligência, outros países da UE, tão xenófobos quanto racistas, seguirão o reino de Sua Majestade em seu caminho de  intolerância, isolamento e fragilidade.


Porque o fascismo só avança com a exploração do medo e do egoísmo.


O medo de quem se assusta com o outro, repele o que é diferente e rejeita o futuro e a mudança.


O egoísmo daqueles que preferem erguer muros no lugar de derrubá-los; que se empenham em separar no lugar de unir; que escolheriam, se pudessem decidir, matar a fecundar, saudando a morte, como fazem em muitos países do Velho Continente e em outros lugares do mundo, jovens e antigos neonazistas de coração estéril, com a artrítica, tremente, mão espalmada levantada,  no ressentimento raivoso de uma velhice amarga, que cultiva e adora o deus do ódio no lugar de celebrar a vida, o amanhã, a alegria, o encontro e a diversidade.


24 de jun. de 2016

OS NÚMEROS DE MAIO

 

 

Contrariando as "previsões" da mídia e do "mercado", o Brasil registrou, no mês passado, superávit de 1.2 bilhões de dólares em transações correntes, devido, principalmente, a um superávit de mais de 6 bilhões de dólares no comércio com outros países, que chegou a quase 20 bilhões de dólares nos primeiros 5 meses do ano.


Em maio, o Investimento Estrangeiro Direto também foi de mais de 6 bilhões de dólares, completando, nos últimos 12 meses, cerca de 79 bilhões de dólares, uma gigantesca soma de mais de 260 bilhões de reais.


Esse é o país - com 374 bilhões de dólares em reservas internacionais, quase um trilhão e quinhentos bilhões de reais guardados - que o  consenso de boa parte da mídia e da massa ignara que domina as redes sociais e o espaço de comentários dos jornais e portais aponta como um país destruído, economicamente  quebrado e sem credibilidade nos mercados internacionais.


Agora, resta saber se os "gênios" do PT - considerando-se que o partido estará sentado no banco dos réus, junto com ela,  no julgamento do impeachment pelo Senado -   vão aludir a dados como estes na defesa da Presidente Dilma, e outros, como o da diminuição da Dívida Pública Bruta e da Dívida Líquida de 2002 até agora, ou se vão continuar recorrendo ao "mimimi" e à retórica contraprodutiva na hora de defender a verdade dos fatos da massacrante consolidação dos mitos e paradigmas de seus inimigos junto à opinião pública.

 

 

15 de jun. de 2016

ELE ESTÁ DE VOLTA.




O lançamento, na Europa, do filme "Ele está de volta", uma "comédia" "leve" sobre o que aconteceria se Adolf Hitler voltasse à Alemanha de nossos dias, com cenas de pessoas parando, na rua, para tirar selfies com o maior assassino da História; e o relançamento de sua obra-síntese, o "Mein Kampf" - "Minha Luta", em vários países - uma edição portuguesa esgotou-se em poucas horas, esta semana, na Feira do Livro de Lisboa - mostram que, mais do que perder o medo de Hitler, o mundo está, para com ele, cada vez mais simpático, no rastro da entrega - quase sem concorrência - dos grandes meios de comunicação globais a meia dúzia de famílias e de milionários conservadores que, se não simpatizam abertamente com o nazismo, com ele comungam de um profundo, hipócrita, e tosco anticomunismo, fantasma a que sempre recorrem quando seus interesses estão em jogo, ou se sentem de alguma forma ameaçados.
 

Como também mostram o filme e o livro, e manifestações em vários lugares do planeta, defendendo a tortura, a ditadura, o racismo, o sexismo, a homofobia, o criacionismo, o fundamentalismo religioso, não é Hitler que está de volta.
 

É o Fascismo.
 

Um perigo sempre iminente, permanente, persistente, sagaz, que se esconde no esgoto da História, pronto a emergir, como a peste, com sua pregação e suas agressões contra os direitos individuais, a Liberdade e a Democracia, regime que não apenas odeia, como despreza, como um arranjo de fracos e de tolos, desprovidos de mão forte na defesa dos seus interesses.
 

Os interesses de uma elite "meritocrática" e egoísta, ou da elite sagrada, ungida por direito de sangue e de berço, na hora do nascimento.

14 de jun. de 2016

O GRANDE GOLPE




(Revista do Brasil) - A direita trabalha agora no sentido de alcançar a aprovação e a conclusão definitiva do processo de impeachment da presidente da República. A frente formada com esse intuito é ampla, reúne a mídia parcial e conservadora, a parte mais corrupta e fisiológica do Congresso, setores do Ministério Público,­ do STF, da Polícia Federal e do Judiciário contra o PT e a esquerda nacionalista. Apesar das dificuldades vividas pelo governo interino, o processo não será fácil de ser revertido. 

 

Não tendo sabido enfrentar, de forma organizada e decidida – a começar pela internet –, os ataques que vinha sofrendo desde 2013; não tendo estabelecido um discurso abrangente que defendesse minimamente suas conquistas, que ocorreram, sim, em importantes momentos dos últimos 13 anos; tendo cometido erros grosseiros do ponto de vista estratégico, político e eleitoral, o que resta ao PT e aos grupos que o apoiam é parar de se equivocar, de serem pautados pelas circunstâncias e pela imprensa adversária, e entender o que realmente ocorre com o país neste momento.

Manter a realização de protestos isolados e constantes contra o governo Temer – acusando-o de golpista – pode ser um exercício retórico, e uma forma de fugir do imobilismo, mas essa abordagem não deve ser a única, nem a principal, nem ser levada às últimas consequências, porque pode conduzir a graves equívocos dos pontos de vista tático e histórico. Não se discute a questão da legitimidade do voto. Mas é rasteira simplificação – que colabora com os conspiradores ocultos, muitíssimo mais perigosos – dizer que o golpe partiu do PMDB, como se ele tivesse nascido quando essa legenda abandonou o governo Dilma.

Dizer que quem compõe o governo interino é corrupto é outra simplificação que também não resolve, nem agora, nem a médio prazo, o problema. Por um lado, porque reproduz em parte o discurso adversário, minimizando o fato de que muitos dos que estão sendo investigados pela Operação Lava Jato à direita estão sendo processados com as mesmas justificativas e argumentos espúrios usados para justificar acusações e as investigações lançadas contra membros do próprio PT. 

 

Por outro lado, porque quem compõe o governo são, com exceção do PSDB e do DEM, basicamente as mesmas forças que estiveram durante tantos anos nos governos do PT, não por afinidade política, mas porque é assim que se estabelece o equilíbrio de governabilidade possível em um regime típico de presidencialismo de coalizão.

Seguindo esse raciocínio, por mais que seja difícil para alguns admitir isso, a mesma miríade de pequenos partidos e legendas de aluguel que apoia hoje Michel Temer, faz parte de seu governo e está sendo atacada pelo PT pode vir a ter de ser, amanhã, cooptada­ de volta por Dilma para compor seu ministério, caso ela retorne ao poder. 

 

O próprio presidente do PT, Rui Falcão, já admitiu que não fará nada para evitar que o partido se alie ao PMDB nas eleições municipais deste ano. 

Devagar, portanto, com o andor.

É preciso cautela, para não parecer hipócrita, na mesma linha de leviandade usada pela direita contra a esquerda – e pela extrema-direita contra a política de modo geral, tendo a democracia e a liberdade como alvos finais dessa linha de atuação. 

Na tentativa de atingir seus adversários, a esquerda não pode cair no mesmo erro – aproveitado com deleite pelos fascistas – na tentação e na esparrela da criminalização da política. Mesmo quando atacada hipócrita e injustamente. 

 

Pois corre o risco de legitimar o discurso de apoio à Operação Lava Jato e o discurso da mídia – muito mais importantes e deletérios do que o PMDB, no processo de golpe que estamos vivendo – e de se equiparar a quem o defende, diante da história e da população.

Vamos ser francos – mesmo que as conversas tenham sido propositadamente gravadas e conduzidas para ser usadas como habeas corpus por um dos interlocutores – os diálogos entre o ex-diretor da Transpetro Sérgio Machado e autoridades como Romero Jucá, Renan Calheiros e José Sarney não podem ser rotulados com o mesmo grau de subjetividade dirigida com que se julgaram e disseminaram outros diálogos gravados com a mesma intenção, e divulgados fora de contexto, como os de Delcídio do Amaral, ou o de Lula e Dilma.

Ao dizer que a Lava Jato representou uma sangria, por exemplo, o senador Romero Jucá diz não mais que o óbvio. Uma sangria em empregos, em interrupção de negócios, em sucateamento de obras e projetos, em desvalorização de ações e ativos, em contratos interrompidos, em prejuízos institucionais e contábeis para as empresas acusadas, com terríveis resultados para o país, em termos estratégicos, de defesa, energia e infraestrutura, e para milhares de empregados e acionistas, o que é evidente e redundante.

Da mesma forma que dizer que era preciso costurar um diá­logo nacional para analisar o assunto, com a participação do próprio STF, a quem cabe corrigir eventuais desvios e ações polêmicas – principalmente no âmbito jurídico –, colidentes com o texto constitucional, seria uma afirmação consequente, lógica, e, no correr da conversa, óbvia e ululante.

Ou será que a Lava Jato não poderia ter investigado e condenado os corruptos efetivamente identificados, com dinheiro em contas no exterior, como Paulo Roberto Costa, Nestor Cerveró e Renato Duque, sem precisar destruir algumas das maiores empresas de engenharia do país? 

 

Ou sem atrasar e prejudicar tantos projetos e programas de interesse nacional, colocando no mesmo balaio de gatos gente que se locupletou pessoalmente - gastando acintosamente o dinheiro roubado à nação, em farras, mesmo que familiares,  bo exterior - e funcionários de partidos que obtiveram doações eleitorais registradas, à época, como rigorosamente normais e legais? 

 

Soltando os primeiros e encarcerando os segundos?

A Lava Jato pode ter tido, indiretamente, alguma influência positiva, sobretudo na identificação do fato de que não existem corrompidos no setor público se não houver os corruptores no âmbito privado. 

 

Facilitando a aprovação de leis como a que acabou com o financiamento privado de campanha. 

 

Mas o que está ocorrendo é que direita, centro e esquerda estão cometendo o erro primário de não entender que o que se está enfrentando é um grupo de forças que se opõem à própria atividade política, por princípio. 

 

E que ao se digladiarem fora do campo das ideias não estão fazendo mais do que favorecer os inimigos da liberdade, saudosos do autoritarismo, que se aproveitam das falhas normais de um regime – que, como diria Churchill, não é perfeito, mas é o melhor que se conhece – para jogar a população contra a democracia e promover e preparar, diligente e coordenadamente, a chegada do fascismo aos cargos mais altos da República.

O processo de impeachment é um golpe jurídico-midiático, mas ele representa apenas um passo, mais uma etapa, para a deflagração de um golpe maior contra a Nação, que levará à derrocada da democracia no Brasil, à aprovação de leis que lembram os nazistas, como a exigência de diploma superior para ministros e presidente, fim do voto obrigatório, volta do escrutínio manual, cassação de registros de partidos políticos, repressão ao trabalho de educadores na sala de aula, criminalização dos movimentos populares e até do comunismo – conforme propostas recentemente encaminhadas à apreciação do Congresso Nacional.

Some-se a isso a eventual chegada de um candidato de extrema-direita ao poder (há pelo menos dois sendo promovidos pela imprensa), ou a consolidação de uma massa de votos que seja suficiente para transformá-la na terceira força política do país, capaz de decidir, com o seu peso, o resultado do segundo turno das eleições de 2018. 

E dá para ter uma ideia concreta do que espera a Nação – se não houver urgente correção de rumo – depois da curva.

9 de jun. de 2016

O PONTO DE FUSÃO




Os principais partidos do país - incluídos PT e PMDB - manifestaram-se, esta semana, contra os pedidos de prisão do Presidente do Senado, Renan Calheiros, do ex-ministro do Planejamento, Romero Jucá, e do ex-presidente José Sarney, encaminhados pelo Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal, com base em telefonemas gravados pelo ex-Presidente da Transpetro, Sérgio Machado, e  “vazados” por O Globo.

Entre as razões citadas, está a alegação da possibilidade de crime de obstrução de justiça, porque os três - que são legisladores, para isso escolhidos pelo voto popular - teriam discutido a aprovação de leis para impedir que acordos de delação premiada sejam feitos com pessoas já detidas e para alterar a determinação - claramente promulgada sob pressão do clamor popular - que prevê prisão após a condenação já na segunda instância.

A verdade é que não se pode mais esconder o fato de que o que está acontecendo é um embate, claro, entre o presidencialismo de coalizão e a Democracia - que, com todos os seus defeitos costumeiros, comuns a todas as nações em que ocorre, ainda é, como dizia Churchill, o melhor sistema possível, baseado na incontestável legitimidade do voto - e setores da plutocracia que pretendem se erguer sobre os três poderes da República, ignorando, ou fingindo ignorar, tanto a História quanto a proeminência lógica, constitucional, da política sobre certas carreiras de estado.

Qualquer cidadão, e, principalmente, os seus representantes, têm o direito de discutir o que quer que seja, e de propor a mudança legislativa que quiser, principalmente quando leis e outros procedimentos podem estar ameaçando o direito de opinião, a liberdade individual, ou o Estado de Direito.

A reação dos partidos à atitude do Procurador Geral, pode e deve, representar, o ponto de fusão resultante da pressão exercida sobre homens públicos de todas as tendências e partidos, nos últimos meses, e levar - independente das diferenças políticas e ideológicas - a uma reação em cadeia contra o que está ocorrendo, antes que seja tarde.

Se houvesse bom senso por parte do Ministério Público, bandidos notórios, eleitos ou não, que se locupletaram comprovadamente com dinheiro público, detentores de contas no exterior, e que gastaram milhares de dólares por dia em nababescas viagens com a família, já estariam presos há meses, e conversas políticas, ainda que gravadas, seriam reduzidas ao que são: meras conversas políticas.

Tudo isso é fruto de uma situação absurda, surreal, em que não se reagiu logo no início, e na qual, no lugar de trabalhar para promover a volta da governabilidade - sabe-se lá por que razão, talvez para lançar um candidato próprio - parte da mídia tomou, conscientemente, a decisão de martelar, exaustivamente, a tese de que o país está quebrado - quando saímos da décima-quarta para a oitava economia do mundo em pouco mais de 10 anos, temos quase um trilhão e quinhentos bilhões de reais em dólares, em caixa, em reservas internacionais, e somos o quarto maior credor individual externo dos EUA;

E de provar que todo o universo político-partidário, sem exceção, é corrupto, e deve ser destituído ou preso, baseando-se em duas premissas absolutamente frágeis: delações premiadas fechadas sob pressão após a prisão dos delatores, que raras vezes se apoiam em provas claras e irrefutáveis; e uma série de gravações de aúdio ou escutas telefônicas que até as pedras sabem que não se sustentam, moral ou judicialmente, como provas, porque foram preventiva, premeditada e intencionalmente feitas e manipuladas, por uma das partes, tanto do ponto de vista do tema, como da condução da conversa, com o intuito de comprometer o interlocutor e de livrar quem as gravou de ser acusado e detido, em um clima digno do Terror Estalinista - em que todo mundo acusa todo mundo das coisas mais estapafúrdias e rocambolescas - na tentativa de não ser massacrado no moinho permanente de um esquema galopante, arbitrário, kafkiano e inconstitucional.

Depois de sangrar umas às outras da forma mais imbecil e suicida, abrindo a Caixa de Pandora da mais rasteira e hipócrita criminalização da política, as lideranças partidárias precisam entender que as diferentes agremiações têm que se reunir em urgente aliança, em defesa da liberdade e dos sufrágios de seus eleitores, e alterar a Constituição, se necessário for, para retomar o controle do país, que está sendo usurpado, na prática, por segmentos do Estado que têm cada vez mais poder, mas - paradoxalmente - nem um voto.

É preciso exigir do Judiciário e do Ministério Público que se prove, irrefutavelmente, a enorme massa de afirmações que têm sido feitas por pseudo-delatores para se livrar de prisões arbitrárias e ilegais, já há mais de 2 anos.

Onde estão as dezenas de bilhões de reais que se afirma - ou melhor, se propaga, à boca pequena, há meses - que foram surrupiados à Petrobras?

Quais são os nomes das pessoas que, nas várias comissões de licitação da empresa, tornaram possíveis esses supostos desvios e sobrepreços, na fantástica escala que circula às vezes na imprensa, e quase sempre nas redes sociais?

O que elas receberam em troca da viabilização desses supostos crimes?

Por que elas não foram identificadas e processadas até agora?

Em que contas foram depositadas as “comissões” e “propinas”, e em que montante?

Que documentos - não ilações condicionais e subjetivas - comprovam esses ilícitos ?

Uma coisa é o desvio feito por bandidos, que se locupletaram de dinheiro sujo, para gastar a tripa forra, em verdadeiras farras do boi, no exterior.

Outra, financiamentos empresariais, feitos para viabilizar a campanha de diferentes partidos, e registrados com todas as letras, na forma da lei, no passado, que estão sendo transformados, agora, como por passe de mágica, em propinas. 

É isso - e não uma longa sucessão de "disse me disses" e vazamentos seletivos e distorcidos, seguindo as conveniências de momento de quem os facilita - que é preciso ser apresentado ao público.

É imprescindível que prevaleça, e seja re-proclamada, aos quatro ventos, a ideia maior que abre a Carta Constitucional.

Todo poder precisa emanar do povo e é em seu nome que ele deve ser exercido.

Chega de boato, manipulação, hipocrisia, mentira e mistificação dos fatos, com o objetivo de desconstruir a Política e a Democracia aos olhos da população, para abrir caminho à alternativa fascista de sedutoras vestais, travestidas de heróis de Polichinelo e de "salvadores" da Pátria.

O processo de construção e de aperfeiçoamento do sistema democrático - e, por extensão das instituições do Estado, que não podem ficar à margem de controle ou aprimoramento - pode, por natureza, ser permanente, árduo, paulatino e, até mesmo,  estar longe de ser perfeito,  mas deve ser conduzido por quem de direito, devidamente ungido pelo sagrado voto popular.

Até mesmo porque a Democracia é um processo nunca acabado de constante busca do equilíbrio possível entre diferentes tendências, grupos, opiniões, corporações, dentro de uma determinada comunidade, sociedade, nação ou território.   

Atalhos e soluções rápidas, populistas, arrogantes e intempestivas, formuladas de modo amador e superficial, na tentativa de reformar o mundo, mesmo que revestidas, supostamente, das melhores intenções, como fez a Emília do Sítio do Pica-Pau Amarelo, costumam, no mundo real, levar a perigosos e quase sempre trágicos e sangrentos desvios, que conduzem ao estupro da liberdade e da dignidade humanas e a gravíssimos retrocessos históricos, políticos, econômicos e institucionais.

5 de jun. de 2016

O PORTA-AVIÕES BNDES



 (Jornal do Brasil) - Na falta do que fazer, alguns segmentos da plutocracia brasileira, que tem proventos gordos - em muitíssimos casos, de mais que o dobro do Presidente da República - e que, ao contrário de nós, trabalhadores comuns e empreendedores, conta com estabilidade no emprego, insiste em dar lições aos "políticos" e meter-se, sem um voto reles de quem quer que seja, a administrar indiretamente o país.


Enfurecidos, ideologicamente, com o Estado que os alimenta - desde que não se mexa em seu salário, carreiras e privilégios - eles querem agora “diminuir” e ajudar a arrebentar com o BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, um dos maiores símbolos do poder brasileiro - vejam, bem, da Nação, e não apenas do Estado nacional.


Esse é o caso da provável aprovação, pelo órgão de fiscalização da União, do pretendido repasse de 100 bilhões de reais do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social ao  Tesouro, aprovado pelo governo interino, para supostamente serem usados na “diminuição” da dívida pública.


Isso, em um momento em que a SELIC está altíssima, e se acaba de obter, paradoxalmente, autorização do Congresso,  para um aumento de mais da metade desse valor - 58 bilhões de reais - para os salários do próprio Congresso e do funcionalismo público.


E em que se está procedendo também, à criação, pelo Legislativo, de 14.000 novos cargos na administração federal.


Ora, quando uma nação está em crise - um mote já há tanto tempo quase monocórdico, e a principal razão citada pelo discurso de parte da mídia no apoio ao afastamento do governo anterior - é preciso  incrementar, e não baixar, os recursos disponíveis para a produção e a infraestrutura.


Logo, se há dinheiro para o funcionalismo, não se pode diminuir o valor destinado aos milhares de pequenos e médios empresários que dependem do  Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social para tocar seu negócio e às grandes empresas que têm acesso a  financiamento dessa instituição a fim de desenvolver - gerando, ou mantendo, milhões de empregos - o atendimento ao  mercado interno e à exportação, cujo superavit tem crescido fortemente neste ano.


Ainda há homens probos e nacionalistas no PMDB, partido que protagonizou a luta pela redemocratização e que, bem ou mal, esteve ao lado do PT na administração federal nos últimos anos.


Essa conversa fiada de endividamento público - que sustentou a tragédia da privatização e da desnacionalização da economia brasileira nos anos 90, com a duplicação, em oito anos, da dívida líquida, a diminuição do PIB e da renda per capita em dólar, segundo números do Banco Mundial - e o aumento da carga tributária, é hipócrita e recorrente.


E sempre omite - convenientemente - que o país acumulou de 2002 para cá, com a colaboração também do PMDB que já estava no governo, e do próprio Ministro Henrique Meirelles, mais de 370 bilhões de dólares em reservas internacionais, fora os 40 bilhões também em moeda norte-americana pagos para liquidar a dívida com o FMI.


O propalado deficit de 150 bilhões de reais deixado pelo governo Dilma, aumentado  pela soma de compromissos a pagar nos próximos anos, representa - embora o PT e o PMDB, seu aliado nessa conquista, de forma incompetente não o digam - apenas cerca de 10% da quantia que o Brasil possui em moeda norte-americana, como quarto maior credor individual externo dos EUA, como se pode ver - lembramos mais uma vez, no site oficial do tesouro USA: http://ticdata.treasury.gov/Publish/mfh.txt


Mas, isso, a parcela da mídia conservadora, entreguista e parcial, que agora ataca, incessantemente, as grandes obras realizadas nos últimos anos com aporte e  financiamento do BNDES,  não o diz.


Como não diz - para a informação da malta que constitui seu público, radical, ignorante e tosca - que o BNDES é uma instituição muitíssimo bem administrada, que deu lucro de 6.2 bilhões de reais no ano passado, de 8.5 bilhões de reais em 2014, de 8,15 bilhões de reais em 2013, de mais de  8 bilhões de reais em 2012, de 9 bilhões de reais em 2011, de 9.9 bilhões de reais em 2010.


Esses resultados, não contam?  
  
Sem falar nas centenas de bilhões de reais emprestados no período, que deram, origem a um incalculável número de empregos e de negócios, movimentando toda a economia do país.


Uma estratégia que foi fundamental para evitar que a crise mundial de 2008 - que, de certa forma, ainda não acabou - não nos alcançasse violentamente antes. E imprescindível, também, do ponto de vista geopolítico, para projetar o “soft power” brasileiro para fora de nossas fronteiras, ajudando na expansão de grandes empresas nacionais no exterior, que agora também estão sendo destruídas, pela mesma plutocracia, por absoluta ausência de bom senso e de visão estratégica, e manifesta e deletéria arrogância.


O Brasil do Dinheiro, e os “burrocratas” - que existem, sim, com todo o respeito pelo conjunto dos funcionários públicos brasileiros - da nova aristocracia “concursista” nacional - bons em pagar cursinho, mas não em entender o país, a História, e as disputas geopolíticas internacionais - precisam compreender que um banco de fomento como o BNDES - que chegou a ser o maior do mundo nesta década - é um instrumento de poder e de persuasão tão forte quanto um submarino atômico ou um porta-aviões - se houvesse uma belonave desse tipo que pudesse ser vendida pelo preço que vale o banco - ou os 100 bilhões de reais que está se alegando que precisam ser “devolvidos” ao Tesouro Nacional.


Tanto é que não existe, no grupo das dez maiores economias do planeta, entre as quais voltamos a nos incluir na última década nenhum país poderoso que não possua - vide o Eximbank, dos EUA, o KFW Bankengrouppe, da Alemanha, o JBIC, do Japão - o seu próprio BNDES, ou que tenha alcançado a posição que ocupa, no concerto das nações, sem um igualmente forte e poderoso banco - estatal - de fomento e de desenvolvimento.


Se banco estatal fosse sinônimo de incompetência, as maiores instituições do mundo não pertenceriam ao estado - verifiquem o ranking: http://www.relbanks.com/worlds-top-banks/assets , e os três maiores bancos do planeta não seriam de um país comunista, a República Popular da China  - e a Caixa Econômica Federal não teria acabado de ultrapassar o Itaú esta semana, passando a figurar, logo depois do Banco do Brasil, como a segunda maior instituição bancária brasileira.


Por mais que se tente convencer os incautos do contrário, bancos particulares visam, antes de mais nada, o lucro. Enquanto bancos públicos visam - ou deveriam visar, sempre, se os deixassem trabalhar em paz - o desenvolvimento de seus países, e crescem, principalmente no varejo, porque fazem empréstimos de menor valor e menor risco, e portanto, mais democráticos - a custos menores, para seus tomadores.


Mas uma vez, o Brasil do Dinheiro, dos  grandes comerciantes, agrícultores, pecuaristas e fabricantes, e de seus filhos que eventualmente entraram para a plutocracia graças à valorização das carreiras de Estado propiciada pela visão estratégica e republicana de governos que aprenderam a desprezar e odiar, apoiados pelo mesmo PMDB que está no poder atualmente, precisam aprender a viver com - e a respeitar - o Brasil do Futuro: o Brasil dos interesses estratégicos e perenes da Pátria e do povo brasileiros; o Brasil das grandes hidrelétricas; das gigantescas plataformas de petróleo; dos caças supersônicos; dos submarinos convencionais e atômicos; das bases de submergíveis;  das rodovias de alta velocidade; das ferrovias, como a norte-sul, que já une Anápolis, em Goiás, a Itaqui, no Maranhão;  das hidrovias; dos cargueiros aéreos militares; de aceleradores de partículas, como o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron; a maior parte, obras que  foram realizadas nos últimos anos, com apoio do partido que está agora no governo - lembramos mais uma vez - e o financiamento do próprio BNDES.


O Brasil do Futuro, dos blindados, dos mísseis de saturação, dos novos rifles de assalto que disparam 600 tiros por  minuto, da terceira maior usina hidrelétrica do mundo - que recentemente começou a operar na Amazônia - não pode nem deve depender de bancos privados - cujo objetivo primordial é o lucro e não o fortalecimento da pátria - para financiar esse tipo de projeto.


Projetos estratégicos - que podem eventualmente, até atrasar e até aumentar de preço - como ocorre em outros países - têm que ser vistos como etapas necessárias, mesmo que nem sempre bem sucedidas - do processo de fortalecimento nacional.


Ou quanto a plutocracia brasileira acha que foi jogado “fora” em dinheiro pelos Estados Unidos, com financiamento público, em tentativas fracassadas, até que eles conseguissem chegar à Lua, ou desenvolver armas atômicas, ou sua primeira frota de submarinos ou de bombardeiros estratégicos, ou o computador e a internet?


E no financiamento do New Deal, um projeto, antes de mais nada, social, que tirou os EUA da Grande Depressão, em que estava mergulhado desde o início da década de 1930?  


Ou alguém ainda acha que os EUA vão  destruir, algum dia,  suas principais empresas - todas ligadas  ao esforço de defesa e com o complexo industrial-militar - e interromper seu projeto de hegemonia, por causa de conversa fiada de falsos fiscalistas e monetaristas, pseudo-escândalos de corrupção, ou contos da Carochinha como o da Operação Mãos Limpas - cujo êxito está sendo históricamente desmentido por outra operação,  que investiga o escândalo da Mafia Capitale, de 10 bilhões de euros, na Itália?


Os militares da reserva, os industriais e os empresários brasileiros, os trabalhadores, os milhares de empreendedores que possuem um Cartão BNDES, e que sabem muitíssimo bem a diferença das taxas de financiamento cobradas por esse banco e aquelas da banca privada - e os proprios funcionários da instituição e das empresas em que ela possui participação - precisam  mobilizar-se para fazer ampla campanha em defesa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, começando com um manifesto-slogan, com o tema de "não toquem no BNDES".


O Brasil não pode permitir que o desmonte dos pilares estratégicos que sustentam e podem fazer avançar o projeto de desenvolvimento nacional, comece logo por nosso maior banco de fomento, sem o qual não teríamos nos projetado para a nossa área de influência - a África e a América Latina - e ainda estaríamos relegados a ser um país apenas, e eminentemente, agrícola e servil.


Querem - e nossos concorrentes estrangeiros iriam vibrar se isso ocorresse - afundar o porta-aviões da economia brasileira.


E cabe aos setores mais responsáveis e organizados da sociedade civil, em nome também de nossos filhos e netos, se organizar e lutar, para evitar que isso ocorra.