30 de mai. de 2014

OS ORÁCULOS DA PILANTRAGEM





(Hoje em Dia) - A Comissão Européia acusou, formalmente, na semana passada, os bancos HSBC, Crédit Agricole e JP Morgan, de promover acordos, por debaixo do pano, para manipular a taxa interbancária EURIBOR - que afeta diretamente o custo dos empréstimos para os tomadores.

Do golpe, participavam também o Barclays, o Societé Generále, o Royal Bank of Scotland, e o Deutsche Bank, já condenados, pelo mesmo crime, em dezembro, a pagar multa de mais de um bilhão de euros.
   
O Deutsche, maior banco da Alemanha, teve de ser capitalizado em 8 bilhões de euros, esta semana, para  para não quebrar. O Banco Espírito Santo, de Portugal, também a ponto de quebra, foi acusado, pela KPMG, de graves irregularidades em suas contas. E o Crédit Suisse foi condenado a pagar 2.6 bilhões de dólares à justiça dos EUA, por favorecimento ao desvio de divisas e à sonegação de impostos. 

Para Bertold Brecht, era melhor fundar um banco que assaltá-lo. E Bernard Shaw lembrava que não há diferença entre o pecado de um ladrão e as virtudes de um banqueiro.

O mundo muda. Hoje, uma diferença de menos de 2% separa o peso das seis maiores economias emergentes das seis maiores economias “desenvolvidas” e as reservas em mãos do primeiro grupo quase triplicam as do segundo.

Mas, no Brasil, continuamos ouvindo, como se fossem oráculos, a opinião dos banqueiros estrangeiros, que só estão em nosso país para organizar a espoliação sistemática de nossas riquezas e do nosso mercado.

Lá fora, a opinião pública chama essa gente de banksters (foto) unindo em uma só palavra o termo bankers (banqueiro) e gangsters (bandidos)

Aqui, o que diz um representante deles - que estão quebrando ou são acusados de crimes em seus países de origem - é sagrado.

Independente de quem estiver no poder no governo, o Brasil, se quiser continuar atraindo dinheiro externo, precisa estabelecer instrumentos próprios de defesa da imagem do país lá fora, criando, como se está projetando fazer com os BRICS, agências próprias de qualificação, bancos de fomento, fundos de reserva, etc.

Até mesmo porque a credibilidade das principais agências de qualificação que existem hoje está tão baixa, no exterior, quanto a dos bancos, aos quais tantas vezes se aliam e protegem, para enganar e pilhar países e correntistas.    

É preciso que aprendamos a não dar ouvidos aos enganosos oráculos da pilantragem.

Assim como no Brasil, na China os maiores bancos são estatais, e a dependência de capital externo no mercado financeiro é – até por uma questão estratégica - marginal e quase irrelevante.

A diferença que existe entre nós e eles – prestes a se transformar na maior economia do planeta – é que, no Brasil, a opinião de instituições externas, acusadas de envolvimento em duvidosos episódios e nas últimas crises internacionais, orienta e pauta as ações do governo, e vai para a primeira página dos jornais.

Em lugares como Pequim e Xangai, o país, os empreendedores e os consumidores, estão se lixando, redondamente, para a opinião dos bancos ocidentais. 

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NA EUROPA, AGRICULTORES NÃO QUEREM SABER DE CONVERSA COM O MERCOSUL.



(Jornal do Brasil) - Enquanto há gente dando como favas contadas a assinatura do acordo de livre comércio entre a União Européia e o Mercosul, há setores, na própria Europa, que não querem ouvir falar do assunto.

Enquanto técnicos do Mercosul estão se reunindo para fechar a proposta dos países do bloco sul-americano a ser apresentada à União Européia, a imprensa divulga que diversas associações de agricultores e pecuaristas europeus se manifestam, mais uma vez, contra a assinatura de qualquer tratado que afete os seus interesses.
A COPA-COGECA – que reúne mais de 100 associações de agricultores e de cooperativas agrícolas da União Européia e de países como a Turquia, Islândia, Noruega e Suíça, enviou documento às autoridades responsáveis pela agricultura na União Européia, lembrando que 70% das carnes importadas pela região já provêm do Mercosul.

Na carta, as organizações afirmam que a aprovação do tratado traria bilhões de euros em prejuízo para os agricultores  e pecuaristas europeus.

A alegação é a de que o Mercosul não pode oferecer os mesmos padrões sanitários e de “rastreabilidade” cobrados dos agricultores do velho continente, e de que existem barreiras à entrada de produtos agrícolas europeus nos países do Mercosul.

Mesmo que não houvesse a mobilização clara dos agricultores europeus por seus interesses – mobilização que tem que ser levada em conta na avaliação da proposta européia para o Mercosul – ainda assim, não teríamos nenhuma garantia para nosso setor agrícola, tradicionalmente prejudicado pelos subsídios da Europa e  dos Estados Unidos à sua agricultura.

Novas leis em processo de aprovação pelos EUA e a U.E, no lugar de acabar com os subsídios, estão substituindo-os por mecanismos de apoio, como seguros, que na prática representam mais dinheiro vivo para os agricultores.

E a própria COPA-COGECA continua fazendo pressão para ter apoio e entrar em novos mercados, como fez, em recente manifesto, pedindo que se mantenham subsídios, no setor leiteiro, afim de que se possa “aproveitar” as oportunidades, abertas pelo aumento do consumo de leite na índia e na China, que deverá ser de 30% nos próximos dois anos.   

Esse tipo de mobilização é mais que  suficiente para mostrar que, por mais que nos abaixemos, e abramos célere e irresponsavelmente nossos mercados para os europeus e norte-americanos, nunca seremos tratados como iguais.

E se não é para sermos tratados como iguais, mas para entregar a América do Sul, único mercado para os manufaturados feitos no Brasil, então para que assinar esse tratado, principalmente quando estamos tendo crescentes déficits no comércio com a Europa e os EUA nos últimos anos?

Achar que esses déficits vão se transformar em superávits se abrirmos nossas fronteiras para os europeus beira a  insensatez e a ingenuidade, já      que nem sequer na agricultura, onde somos reconhecidamente competitivos, eles querem ceder afim de levar vantagem em outras áreas, como as de serviços e manufaturas, por exemplo.

Sem se preocupar em mostrar suas verdadeiras intenções, a União Europeia entrou, ontem, com denúncias contra o Plano Safra brasileiro 2013/2014 na OMC - Organização Mundial do Comércio, menos de 15 dias depois do seu anúncio pela Presidente Dilma.

A intenção é pressionar o Brasil - aproveitando o ano eleitoral - até o limite, obrigando o governo a aceitar condições danosas para o nosso país, no futuro. 

O Ministro Mauro Borges, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, afirmou, recentemente, que o Mercosul “não aceitará um acordo de livre comércio, sem uma proposta agrícola que for “para valer”, e contou aos repórteres que a Presidente Dilma Roussef teria perguntado o que a União Européia tem a oferecer para o Brasil.


O Ministro poderia ter sido sincero, e respondido que a U.E está oferecendo ao nosso país, o que costuma oferecer sempre que há esse tipo de negociações de araque, como ocorreu, pela última vez, em 2004: rigorosamente, nada.  

28 de mai. de 2014

CHUMBO TROCADO NÃO DÓI


(Hoje em Dia) - O governo dos EUA acusou, formalmente, há alguns dias, cinco militares chineses, de uma suposta “Unidade 61398”, com sede em Xangai, de atividades de espionagem eletrônica. Sua finalidade: o “roubo de informações industriais” de empresas norte-americanas, para entrega a concorrentes chineses - principalmente indústrias estatais.

Trinta e uma acusações foram feitas pelo Estado da Pensilvânia contra Wang Dong, Sun Kailiang y Wen Xinyu, por responsabilidade material, e contra Huang Zhenyu e Gu Chunhui, pela manutenção da infraestrutura usada nas operações de infiltração. Eles podem ser condenados à revelia, de  dez a quinze anos de prisão.

Entre as empresas e instituições norte-americanas supostamente prejudicadas, citam a Westinghouse, a filial da alemã Solarworld, a U.S. Steel, a Alcoa, a Allegheny Technologies, e a United Steel Workers, que congrega empregados do setor siderúrgico. Os dados desviados teriam a ver com o desenho de uma usina nuclear; com  disputas comerciais com a China, nas áreas de produção de aço e células solares. E também com o roubo de credenciais de acesso de funcionários à empresa Allegheny Technologies.

Em rematado exercício de cinismo - considerando-se a lisura dos Estados Unidos na matéria - John Carlin, o diretor do FBI encarregado da Divisão de Segurança Nacional da instituição, afirmou: "que fique claro, que essa conduta é criminal e que não é a que se espera de uma nação responsável e nem que seja tolerada pela comunidade econômica global”, e, também, que os EUA “não exercem atividades de espionagem em benefício de suas empresas.”

O Sr. Carlin poderia, explicar, então, junto às outras autoridades norte-americanas, encarregadas do caso, em benefício de quem foi espionada a Petrobrás, além do próprio governo brasileiro,  e cidadãos de todo o mundo. 

Ou responder o que ocorreria, se, em resposta às atividades de espionagem eletrônica em massa das agências norte-americanas de informações, o governo chinês, o brasileiro, e tantos outros, decidissem levar aos tribunais os milhares de funcionários que trabalham espionando para o governo dos Estados Unidos, todos os dias, apenas na NSA.    

Chumbo trocado não dói. Se os EUA estão preocupados com a espionagem chinesa - embora do ponto de vista moral não tenham  nenhuma condição para isso - os chineses agem, também,  da mesma forma,  ao proibir, como fizeram, também ontem, a utilização do Windows 8 como sistema operacional em computadores de sua administração pública.


BLANCHARD E A CONVERSA FIADA DO FMI


(Jornal do Brasil) - Na falta do que fazer com relação a certos países, o pessoal do FMI tergiversa como é o caso do economista-chefe da  instituição, Olivier Blanchard. Blanchard anunciou, em palestra proferida na semana passada, em Nova Iorque, que os “investidores” estão preocupados com o Brasil, e os países emergentes irão “crescer menos” nos próximos anos, enquanto as “nações desenvolvidas” farão exatamente o contrário.

Por essa lógica peculiar, que costuma ser repetida à exaustão por certos meios de comunicação e revistas internacionais, projetam - em previsões que quase nunca coincidem depois, com os números reais - que os EUA vão crescer 2.9% este ano, e   a China, 7.5%, ou seja, quase o triplo dos norte-americanos - e são os emergentes que estão deixando de crescer e os “desenvolvidos” que os estão ultrapassando.

Quanto ao Brasil, o economista afirma que os investidores estão “preocupados com o país”, citando problemas como a inflação – que está dentro da meta;  as contas externas e as contas fiscais;  e o superávit primário,  que continua sendo cumprido.  E não dá a mesma atenção ao fato de que importantes recursos, vindos de fora, voltaram ao Brasil, atraídos pelo aumento dos juros e pela Bolsa.

A mesma lógica  diz que o México vai bem, e o Brasil vai mal, quando tivemos superávit no comércio com a China, no ano passado, os mexicanos amargaram um déficit de 51 bilhões de dólares com os chineses, e nós crescemos 2.3% e eles, 1.2%.

É certo que temos tido problemas, principalmente em relação ao comércio exterior. Mas Olivier Blanchard se esquece de que o FMI é mais relevante para os países que lhe devem dinheiro, do que para os que lhe emprestam, como é o caso do Brasil, credor da instituição  desde a crise da Grécia em 2008; detentor da sexta maior reserva monetária do mundo; e quarto maior credor individual externo do Tesouro dos Estados Unidos.

O FMI já foi importante para o Brasil quando, na condição de credores - e de sétima maior economia do mundo - ainda tínhamos paciência e esperança nas  reformas destinadas a dar maior peso aos países emergentes na organização.

Com o provável anúncio da constituição do banco dos BRICS, na cúpula presidencial que reunirá os presidentes do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, em Fortaleza, em julho, o Fundo vai ficar, para o Brasil, ainda menos relevante. 

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22 de mai. de 2014

A RAPOSA E O GALINHEIRO


(Hoje em Dia) - O escritor Hans Christian Andersen, que entendia do assunto, dizia que “os contos de fadas são escritos para que as crianças durmam, e os adultos despertem.”

Em uma das fábulas que envolvem canídeos e galináceos, ambas da tradição lusitana, aprende-se porque não se deve deixar a segurança do galinheiro a cargo desses predadores.

A lembrança vem à tona com a notícia, publicada pelo Valor Econômico, de que a Boeing, norte-americana, está trazendo, para o Brasil, sua divisão de Defesa, Espaço e Segurança, para tentar prestar serviços de segurança cibernética a órgãos como o Ministério da Defesa, o da Ciência e Tecnologia, grandes estatais, bancos e companhias do setor privado.

Justamente algumas das áreas que foram mais visadas, e que, com certeza, continuam a ser  espionadas, por agências norte-americanas de informação, como a NSA, no âmbito do vasto “galinheiro cibernético” da rede mundial de computadores.

Embora no site oficial da BDSS – o braço de defesa da Boeing – o link relativo à “defesa nacional” não leve mais a parte alguma, na seção Government Operations fica clara, como não poderia deixar de ser, a estreita ligação da empresa com o seu país de origem, onde tem fábricas e instalações em mais de 50 estados, e conta com 58 mil funcionários, e um faturamento de 33 bilhões de dólares.

No Brasil – mesmo que contem com fortes concorrentes de outras regiões do mundo -  basta que empresas sejam norte-americanas, e tenham certa reputação estabelecida, ao longo dos anos, por meio de ações de marketing, para que as portas se abram como em um passe de mágica, muitas vezes, sem que sequer seja obedecida a legislação, do ponto de vista de licitação e contratação de serviços.

Esse está sendo agora o caso da joint- venture assinada pela CEF com a IBM, em 2012, para prestar serviços no montante de mais de 1 bilhão de reais, que está sendo contestada e avaliada pelo TCU – o Tribunal de Contas da União.

Na administração pública, é preciso tomar cuidado com quem se coloca dentro de casa, e  se assinam certos convênios, como foi o caso da contratação da Academi, ex-Blackwater -uma empresa privada de mercenários, acusada de crimes em várias regiões do globo -  para o treinamento de policiais brasileiros responsáveis pela segurança da Copa do Mundo.     

No lugar de contratar empresas estrangeiras, o Governo Federal – e os estaduais – por meio do SERPRO, da TELEBRÁS, de nossas universidades e institutos de pesquisa, precisa investir em software nacional e livre, servidores próprios, e criptografia. E  estabelecer parâmetros que proíbam ou desestimulem a compra de soluções externas – principalmente de países que já nos espionaram –  nas quais, eventualmente, como a raposa dentro do galinheiro, possam vir “portas” ocultas  para dar acesso a empresas e governos de outros países a nossas informações nacionais estratégicas. 

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