31 de mar. de 2018

ESQUEÇAM OUTUBRO. O SUPREMO DECIDE. PARA AS ELEIÇÕES, FALTAM 4 DIAS.




(Do blog com equipe) - As mais poderosas mentes da Justiça brasileira têm apenas alguns dias para entender que, ao insistir em cercear o direito de ampla defesa – com a transformação da prisão após julgamento em segunda instância em regra, pois é assim que vem sendo tratada pelos juízes e o Ministério Público – irão fazer, conscientemente, uma óbvia e decisiva intervenção no processo político. Mais do que colocar Lula atrás das grades, levarão inevitavelmente o senhor Jair Bolsonaro – e tudo o que ele representa e defende – à presidência da República.

Os ministros da Suprema Corte, pelo menos aqueles que provocarem, com seus votos, uma nova vitória dessa tese que representou em 2016 um marco na escalada autoritária que se vive neste país desde o julgamento do mensalão, terão de preparar-se para o tranco.

Depois, quando sobre a sua consciência recair o entendimento do resultado de suas ações, não adiantará dizer que a cigana não avisou, como dizem os gaúchos. Eles terão de assumir o pesado destino de ser cobrados e responsabilizados, até o fim de seus dias – e depois disso, pelo implacável julgamento da História – pelas consequências claramente políticas das decisões que estão tomando agora.

O que poderá implicar na transformação de nosso país em uma espécie de Argentina às vésperas do golpe militar de 1976, com o crescimento de uma espiral de violência incontornável, e sequelas – do ponto de vista da destruição do que nesta república ainda resta de democracia – que poderão ser tudo, menos leves ou passageiras.

A longa lista de assassinatos de militantes e lideranças de esquerda e de defensores dos direitos humanos, no último ano, não se limita ao emblemático caso da vereadora Marielle Franco, do Psol do Rio, e do motorista Anderson Pedro Gomes. Seguido de uma expressiva onda de comemoração fascista nas redes sociais, por parte dos mesmos energúmenos que tentam pressionar agora, com ataques e ameaças, a própria Suprema Corte.

E que não se enganem os ministros do STF: a violência dos ataques a caravanas como a de Lula, como ocorreu no interior do Rio Grande do Sul, elogiados de forma infame por certos senadores, são os primeiros passos, caso a extrema direita chegue ao poder com sua ajuda, de uma onda de terror que não precisará necessariamente ser ordenada pelo governo, que trará como resultado um processo de radicalização – inicialmente reativo e defensivo – por parte de setores da esquerda, que nos empurrará para uma situação de virtual guerra civil de parte a parte, nos próximos anos.

Quando a situação chega ao grau de radicalização que estamos chegando agora, sociedades e democracias maduras costumam recorrer ao único remédio que efetivamente funciona contra esse tipo de impasse: o voto.

Mas desde que a oposição ao PT afastou-se do recurso à disputa eleitoral para apear, por meio de uma campanha solerte, o Partido dos Trabalhadores do poder por outros meios, contando, para isso, com a omissão e, em muitos casos, com a aberta cumplicidade da Justiça e de setores do Ministério Público, o Brasil deixou de ser – como já se reconhece em muitos lugares do mundo – uma república.

Para transformar-se, como qualquer um pode ver, em uma democracia que está apodrecendo de dentro para fora antes de tornar-se madura.

Os ministros que – por mais erros que tenham eventualmente cometido – estão colocando sua consciência acima dos ataques que têm recebido por sua posição a favor da Lei e da Constituição, estão comprando, com suas vicissitudes atuais, um lugar digno e decente para passar o tempo que lhes couber no condomínio da memória nacional.

Os outros, que não se deixem iludir pelo medo ou o oportunismo. Os cães que hoje ladram serão ultrapassados, mais cedo do que tarde, pela altaneira e nunca interrompida passagem da História.

O que a Suprema Corte não pode perder de vista é a consciência de que, quando se reunir pela manhã do dia 4 de abril, para discutir o primeiro assunto da pauta, não estará decidindo apenas o futuro de uma medida arbitrária e inconstitucional, que aprovou por apenas um voto, em 2016, obedecendo à pressão direta do torniquete fascista jurídico-midiático, das redes sociais e da burocracia.

Ou os seus ministros devolvem ao povo a prerrogativa de decidir sem casuísmos, amarras e subterfúgios, nas próximas eleições, o seu futuro, restaurando o império da Constituição e do Estado de direito, ou assumem a responsabilidade de entregar desde já, ao até agora segundo colocado nas pesquisas de intenção de voto, as chaves do Palácio do Planalto.

Os dados já foram lançados e eles apontam, todos, para a mesma direção. Ou Lula disputa com Bolsonaro e o mais votado dos dois assume, ou Bolsonaro chega ao poder como resultado direto e inevitável da decisão que será tomada, em poucos dias, pelo Supremo.

Estão muito enganados aqueles que acharem que haverá prazo ou lucidez e quilíbrio, por parte de uma sociedade esfrangalhada, nos últimos anos, pelo ódio, a hipocrisia e a ignorância, para que se encontre, na pequena distância que nos separa das urnas, para esse quadro, uma solução alternativa.   


   

ESQUEÇAM OUTUBRO. O SUPREMO DECIDE. FALTAM CINCO DIAS PARA AS PRÓXIMAS ELEIÇÕES.




(Do blog com equipe) - As mais poderosas mentes da justiça brasileira tem apenas cinco dias para entender que ao insistir em cercear o direito de ampla defesa, com a transformação da prisão após julgamento em segunda instância em regra - pois é assim que ela vem sendo tratada pelos Juízes e o Ministério Público - irão fazer, conscientemente, uma óbvia e decisiva intervenção no processo político que mais que colocar Lula atrás das grades, conduzirá inevitavelmente o Sr. Jair Bolsonaro - e tudo o que ele representa e defende - à Presidência da República. 
Os ministros da Suprema Corte - ou pelo menos aqueles que eventualmente provocarem, com seus votos, uma nova vitória dessa tese - que representou em 2016 um marco na escalada autoritária que se vive neste país desde o julgamento da AP-470 - terão de preparar-se para o tranco. 
Depois - quando sobre sua consciência cair como uma pedra o entendimento do resultado de suas ações, não adiantará dizer que a cigana não avisou - como dizem os gaúchos. 
Eles terão de assumir o destino de ser cobrados e responsabilizados, até o fim de seus dias - e após isso, pelo implacável julgamento da História - pelas consequências avassaladoramente políticas das decisões que irão tomar agora. 
Que poderão implicar na transformação de nosso país em uma espécie de Argentina às vésperas do Golpe Militar de 1976, com o crescimento de uma espiral de violência incontornável, e sequelas que poderão ser tudo, menos leves ou passageiras, do ponto de vista da destruição do que nesta República ainda resta de democracia
A longa lista de assassinatos de militantes e lideranças de esquerda e de defensores dos direitos humanos, no último ano - que não se limita ao emblemático caso da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Pedro Gomes - seguida de abjeta e ruidosa comemoração fascista nas redes sociais por parte dos mesmos energúmenos que tentam pressionar agora, com ataques e ameaças, a própria Suprema Corte. 
A violência dos ataques a caravanas como a de Lula, como ocorreu no interior do Rio Grande do Sul, elogiados de forma infame por alguns senadores, são os primeiros passos - que não se iludam os Ministros do STF - para que, caso a extrema-direita chegue ao poder por intermédio de sua ajuda, sobrevenha a eclosão de uma série de atos terroristas - que não precisarão ser necessariamente ordenados pelo governo - contra os seus adversários, que trará como resultado um processo de radicalização - inicialmente defensivo - por parte de setores da esquerda, que poderá transbordar, em reação à estupidez da direita, para uma guerra civil não declarada. 
Quando a situação chega ao grau de ruptura que estamos chegando agora, sociedades e democracias maduras costumam recorrer ao único remédio que efetivamente funciona contra esse tipo de ameaça: o voto. 
Desde que a oposição afastou-se, no entanto, do recurso à disputa eleitoral, para apear - com uma campanha solerte - o Partido dos Trabalhadores do poder por outros meios, contando, para isso, com a omissão e, em muitos casos, com a aberta cumplicidade da Justiça e de setores do Ministério Público, que o Brasil deixou de ser - como já se reconhece em muitos lugares do mundo - uma República. 
Estamos, no lugar disso, nos transformando, como qualquer um pode ver, em uma Democracia que apodrece cada vez mais, de dentro para fora, antes e no lugar de se tornar madura.
A Suprema Corte precisa ter consciência de que, daqui a cinco dias, quando se reunir pela manhã para discutir o primeiro assunto da pauta, não estará decidindo apenas o futuro de uma medida arbitrária e inconstitucional, que aprovou por apenas um voto, em 2016, obedecendo à pressão direta - que deveria ser apenas circunstancial - do torniquete fascista jurídico-midiático que se instalou em segmentos da mídia, das redes sociais e da burocracia. 
Ou os membros do STF devolvem ao povo para que dela faça livremente uso - e há ministros dispostos a resistir em troca de um lugar no mínimo decente para a própria biografia no condomínio da memória política brasileira - a prerrogativa de decidir sem casuísmos, amarras e subterfúgios, nas próximas eleições, o seu futuro, restaurando o império da Constituição e do Estado de Direito, ou assumem a responsabilidade de entregar desde já, ao até agora segundo colocado nas pesquisas de intenção de voto, as chaves do Palácio do Planalto. 

Os dados já foram lançados e eles apontam, todos, para a mesma direção.

Ou Lula disputa com Bolsonaro e o mais votado dos dois assume, ou Bolsonaro chega ao poder como resultado direto da decisão que será tomada, dentro de alguns dias, pela Suprema Corte.

Iludem-se aqueles que acreditam que haverá prazo ou maturidade por parte de uma sociedade esfrangalhada, nos últimos anos, pelo ódio, a hipocrisia a a ignorância, para que se encontre, na pequena distância que nos separa das urnas, uma solução alternativa.

18 de mar. de 2018

O SANGUE DE MARIELLE, A IMPUNIDADE DAS ARMAS, E A SUPREMA CORTE.




(Do blog com equipe) - O tráfico de drogas tem se transformado, em todo o país, nos últimos tempos, em um esquema simbiótico em que policiais corruptos muitas vezes chantageiam, pressionam, matam e sequestram traficantes e membros de suas famílias em troca de dinheiro e entorpecentes.  

Há casos, como no Ceará, em que policiais civis sequestravam traficantes para pedir resgate. No Rio Grande do Norte, pms roubavam de traficantes até mesmo aparelhos celulares. No Distrito Federal policiais militares se passavam por policiais civis e invadiam, com mandatos falsos, casas de traficantes, para depois dividir entre si as “mercadorias” apreendidas. Policiais corruptos de Minas Gerais e do Paraná atuavam em conjunto para a apreensão de “transportes” de drogas e de contrabando. 

E em São Paulo, o DENARC ficou famoso pela corrupção e o desaparecimento de drogas apreendidas guardadas em seus próprios cofres, a ponto do traficante colombiano Juan Carlos Abadia ter dito, certa vez, que “para acabar com o tráfico em São Paulo, basta fechar o Departamento Estadual de Prevenção ao Narcotráfico”.

Na mão de quem deveria estar do lado da lei, a extorsão virou um grande negócio, que atinge também as prisões. 

Todo mundo sabe que não há  droga, arma ou celular e, em muitos casos, mulheres que entrem em presídio para visita intima, sem a “licença”, anuência ou participação direta e indireta de agentes penitenciários corruptos, que também extorquem detentos em troca de privilégios, “proteção” e benefícios.

A situação chega a ser tão ridícula que se gastam milhões para bloquear sinais de telefonia móvel em presídios - em um caso  típico de tirar o sofá da sala para tentar impedir o adultério - quando bastava colocar um pouco de vergonha na cara e controlar com rigor e responsabilidade a entrada de funcionários dos presídios. 

Mas só no Rio de Janeiro, além de roubar traficantes, policiais e ex-policiais corruptos extorquem também, massivamente, a população mais pobre.

Nesse estado, a violência policial não está presente apenas na opressão a comunidades de periferia - espaço preferencial para o exercício do achaque de varejo a grupos de traficantes com a cobrança de mensalões ou semanões fixos que já ocorreu de forma fartamente documentada com membros de diversos batalhões da PM em dezenas de favelas - mas  também no controle direto de vastíssimos territórios urbanos, especialmente em Niteroi e na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

Verdadeiras cidadelas que são exploradas, na  modalidade atacado, por organizações e milícias formadas por bombeiros e ex-policiais, onde corre solta a cobrança de taxas de “segurança”.

A venda ilegal e compulsória de “gatonets” - redes clandestinas de tv a cabo.

A exploração de serviços de vans e de mototáxis.

O  monopólio da comercialização de gás de cozinha.

Com a imposição, por meio da violência e da força das armas, de um regime contínuo de terror sobre centenas de milhares de pessoas.

Não há também lugar em que fique mais clara a estreita dependência entre o discurso do medo como  pretexto para a necessidade de fortalecimento constante da polícia, os interesses da indústria de segurança privada e os da industria  de armas -  nacionais e importadas - os programas sensacionalistas de televisão e a doutrina do proibicionismo de que todos eles dependem direta ou indiretamente.

Considerando-se, obviamente, que se viesse a passar a descriminalização, o futuro desses setores ficaria tão  afetado - é preciso, infelizmente, reconhecê-lo - como o das funerárias e cemitérios, por exemplo.

Assim como não há outro lugar em que a politização e a exploração ideológica da questão da segurança pública tenha atingido níveis tão altos.

Graças ao discurso do combate ao  tráfico, o Rio é hoje não apenas o grande palco para espetáculos como a “intervenção” federal montada pelo governo Temer, que não levará a nada, já que não atinge a raíz do problema, mas também o território em que se dão os maiores avanços - a pretexto também da demagógica necessidade do combate à “bandidagem” - da direita e da extrema-direita no país.

Ainda mais que em São Paulo, a capital fluminense e as áreas que a cercam representam, eleitoralmente, a face mais evidente de um acelerado processo de radicalização da polícia e de quem a defende, mesmo quando alguns de seus membros se envolvem com crimes como a corrupção e o genocídio.

Não por acaso, o Rio transformou-se no espaço preferencial, por meio de centenas de milhares de votos alcançados por candidatos como Jair Bolsonaro, para o avanço do discurso de combate ao crime por internédio, apenas, de ainda mais e mais repressão e violência, e, por extensão, para a consolidação, que vem acoplada a esse  discurso, dos mais obtusos fascismo e  anticomunismo no Brasil.

Por todas essas razões, é muito difícil classificar o recente assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Pedro Gomes, como um crime comum.

Por mais que se trate, ainda, de uma “execução provável” nas palavras da polícia - o que equivale a um verdadeiro escárnio diante das evidências colhidas - e que o atentado que a vitimou tenha sido  relacionado às denúncias que estava fazendo sobre o assassinato de jovens negros de periferia e o clima de terror imposto pela polícia sobre certas comunidades cariocas como a do Acari, por exemplo.

Em um país em que foram celebradas por milhares de comentários nas redes sociais, as mortes brutais de Marielle Franco e de Anderson Pedro Gomes foram profunda, descarada e intensamente políticas.

Isso pode ser visto tanto pelos ataques públicos que ela e seu partido receberam nas últimas 72 horas, de personalidades que vão de um comandante da Polícia Militar de um estado do sul do país - embora Marielle tenha sempre defendido e ajudado também famílias de policiais mortos - a uma desembargadora do Rio de Janeiro - que deveria ser acionada pelo PSOL para provar suas acusações - quanto pelas insultuosas observações que reproduzimos abaixo, colhidas rapidamente de apenas duas matérias publicadas em dois diferentes portais da internet brasileira:
            
- “Vi um vídeo de um discurso dela na Câmara mencionando chacina em favela e defendendo traficantes armados. Não mencionou os quase 120 policiais mortos só nesse ano. Direitos Humanos que só defendem criminosos. Policiais e vítimas civis não tem apoio dessa corja de hipócritas dos "direitos humanos" do qual ela fazia parte.”

-´“Era racista, comunista e pregava a discórdia e ódio entre classes e raças. Foi morta pelos bandidos que sempre defendeu. Tchau.”
                           
- “Pelo menos na ditadura não tinha o PSOL... partido defensor de traficantes…”                 

- “Virou Santa após sua morte ? Quem a apoiava quando estava viva e agindo de acordo com sua convicções ?”                         
                           
-“Ela defendia tanto os bandidos, que acabou sendo morta por seus aliados bandidos. Que o direito dos Manos que achem os culpados e não a polícia que ela tanto criticava, pois o Psol não precisa de polícia.”

- “Que descanse em paz. Mas não vamos endeusa-la, se é de um partido de esquerda, certamente tem coisas erradas, o passado nos mostrou isso, todos os partidos de esquerda, não medem limites para se chegar ao poder, e depois que chegam ao poder, roubam para se perpetuarem no poder.”

-”Estes partidos de esquerda estiveram no poder por 14 anos, destruíram o país, nos deixando neste ponto que estamos hoje - uma terra sem lei, onde o bandido tem todos os direitos e vantagens, enquanto a população de bem só tem o direito de perder seus bens e suas vidas, sem ter a quem recorrer.”

- “Temos até ministros, que insistem em não prender após condenação em segunda instância, pois possuem interesses próprio$, em que os recurso$ sejam muito$ , para que possam haver muitos advogado$ amigo$ envolvido$ em todo o proce$$o ( muito $$$ em toda essa história ).

Agora, sinceramente, não consigo ter a menor compaixão quando algum dos integrantes desta escória de esquerda sofre algum revés, na verdade, fico até contente que sintam na pele o que nós sentimos.”

Foi um atentado terrorista com uma conotação claramente política, quase que certamente perpetrado com motivação, ainda que subjacente, também ideológica, como certos internautas da corja acima estão insistindo em negar, como podemos ver pela última opinião que copiamos:

“Parem de falar "violência na política". Está na cara o porquê desses assassinatos. Não têm a ver com política; tem a ver com criminalidade.”

Marielle Franco foi assassinada, antes de ser mulher e negra, por ser uma promissora e determinada liderança de esquerda.

Uma jovem liderança que cresceu em um país em que a ideia da aceitação da utilização da justiça como arma política foi nos afastando, a partir de 2006, da normalidade democrática e da disputa civilizada, no Congresso e no ambiente eleitoral, de diferentes correntes e partidos, para enfiar-nos, de golpe em golpe, casuísmo em casuísmo, no caos institucional em que estamos mergulhados agora, com a perspectiva da volta do terror como instrumento de combate ideológico e de eliminação física de adversários políticos que não se consegue derrotar nas urnas.     

Um país em que energúmenos defendem todos os dias, às centenas, aos milhares, na internet, em grupos que se autodenominam “opressores”, o assassinato, a eliminação e a tortura de  gente que pensa como ela.

Sem ser, por isso, incomodados - mesmo praticando crime de ódio, grave ameaça e incitação à violência - por parte do Ministério Público ou do Judiciário, entre eles  membros da Suprema Corte, que - por medo ou conveniência - são igualmente insultados, quando não ameaçados, sem nenhuma reação digna de nota.

Ministros que, anteontem, vieram se lamentar, trágicos e compungidos, na frente das câmeras de televisão, como se seus últimos atos e decisões não fossem tão políticos quanto a morte de Marielle.

Ou não estivessem fadados a interferir no processo eleitoral para fazer com que a mesma impunidade das armas que a vitimou ascenda ao poder no próximo ano.

Espetada na faixa presidencial ou no bolso do colete do terno de um candidato que já afirmou. publicamente, para qualquer um que queira ouvir, que  pretende implementar o “excludente de ilicitude” para agentes policiais que matem “em serviço”, com o objetivo de impedir o “massacre de agentes de segurança” e proteger a “população de bem” em um país em que a polícia já é a que mais mata no mundo.

Quem dirá, quando ele chegar ao poder, quem é bandido e quem é “gente de bem”?

Pessoas como Marielle Franco, cuja voz foi calada agora e para sempre, pelas balas que a atingiram?

Ou internautas como os que estão fetejando até agora a sua morte, que sairão fortalecidos - e quase certamente ensandecidos - da eventual - e cada vez mais provável - vitória de seu candidato para a Presidência da República?

A morte de Marielle Franco - e de Anderson Pedro Gomes - representam um marco e um alerta - premonitório - principalmente para o Judiciário Brasileiro e a Suprema Corte - do que pode vir a ocorrer com o país se a extrema-direita chegar ao poder graças à indireta e decisiva interferência da justiça - que já se encontra em andamento - no processo político-eleitoral deste ano.

Não se trata, ao abrigo da Constituição Federal e do princípio de ampla defesa, de evitar que certo candidato dispute o pleito. 

Mas de não impedir que outros também o façam, concorrendo livre e democraticamente com ele.  

O que a Suprema Corte e o país precisam decidir é se o  emblemático assassinato - que repercutiu no mundo inteiro - dessa jovem vereadora  carioca - a quinta mais votada nas últimas eleições - se transformará em um marco ou em um símbolo.

Em uma razão para que as eleições ocorram normalmente, sem interferências sustentadas por uma condenação furada, politicamente conduzida, baseada em motivos fúteis e até hoje ainda não provados indubitavelmente, que está sendo contestada em todos os quadrantes de um planeta que não considera mais o Brasil uma democracia.

Ou em um símbolo do que nos espera se mortes como a dela - e outras, como a da Juíza Patrícia Acioli - se transformarem, cada vez mais, em um hábito que será repetido com frequencia, de forma contumaz, neste país tomado pela violência e a hipocrisia, a partir do próximo ano.

Quando assassinos covardes que agem hoje na sombra da noite se sentirem autorizados - sem nenhuma necessidade de orientação formal ou oficial de quem quer que seja - a matar a torto e a direito não apenas os que consideram “bandidos bons” depois de mortos.

Mas também todos aqueles que identificarem, eivados pelo ódio e pelo preconceito, como adversários políticos, depois que certo candidato com quem compartilham da mesma visão ideológica adentrar, devido ao impedimento de seu principal concorrente disputar as eleições, o principal gabinete do Palácio do Planalto.

O CANTAR DAS CALOPSITAS E A CAIXA DE PANDORA





(Do blog, com equipe) - Dizem os proprietários de passarinhos – entre os quais não me incluo, já que não prenderia ninguém a não ser que fossem esgotados definitivamente todos os recursos de defesa – que as calopsitas, quando começam a gritar e a se agitar, ou estão chamando o dono, ou tentando dizer alguma coisa. 

Já seus primos, os papagaios, ao menos aparentemente, conseguem chamar quem querem pelo nome.

Conheci um que pertencia a uma amiga chamada Maria Teresa, que morava no Rio, que gritava, da área de serviço, solicitando sua presença: Terezinha!!! Terezinha !!!, com a mesma entonação do “Alô, Alô” Terezinha! do Chacrinha.

E um outro que, descoberto por um amigo na varanda do prédio de apartamento em que morava, em Copacabana, só o chamava pelo mais poderoso insulto, palavrão ou expressão da língua portuguesa, até hoje não se sabe se por não ter-se adaptado ao novo lar, ou porque acreditava, quem sabe, haver sido subtraído de alguma forma de sua antiga existência, ou residência - que para nós ficava em paradeiro ignorado, apesar de cartazes colados pela vizinhança com a foto do dito-cujo - pelo novo dono.

Há outros animais de asas, como o Pássaro Lira – um compatriota australiano da calopsita que faz muito sucesso com seus vídeos nas redes sociais – que vão além em suas artimanhas pseudo canoras, e conseguem imitar serras elétricas, marteladas, serrotes, alarmes de carro, que poderiam, teoricamente, se quisessem, emular o ruído de situações ainda mais marcantes, como o ronco de motores de tanques, o sinistro rufo do martelar noturno de coturnos sobre o asfalto cercando quarteirões e ruas, os gritos de comando lançados, durante golpes de estado, a tropas de choque na repressão a manifestações em defesa da liberdade, o matraquear de metralhadoras em improvisados pelotões de fuzilamento ou sobre multidões em fuga.

Se deixado sobre o ombro de ditadores ou em salas de tortura - daquelas que se pretende agora celebrar carnavalescamente em blocos de rua – quem sabe que espécie de gritos, sons, imprecações, não poderia aprender, em curto espaço de tempo, esse pequeno passariforme, cujas penas lembram as do pavão, além de raivosos discursos fascistas, estes não tão diferentes do ladrar de canídeos em fúria?

Quem não se lembra da antiga piada do papagaio que latia para chamar o cão de guarda mudo? 

Seria interessante saber o que estão pretendendo dizer - e fazer – como certos pstacídeos quando estão inquietos - alguns figurões da República que, especialmente no âmbito do Judiciário, ao se meter indubitavelmente e cada vez mais na seara política, não fazem o menor esforço para esconder a sua mais profunda indiferença - para não dizer desprezo - pela prudência, o equilíbrio e o bom senso e um total desrespeito pela Constituição, a quem tratam como um boneco de massinha que podem torcer e distorcer em uma espécie de vodú a qualquer momento, para atingir certos partidos e desafetos que, para galgar os altos poleiros em que se encontram, andaram procurando em passado não muito distante.

Como é possível que o TSE aprove a liberação de outdoors com slogans fascistas e o rosto de pré-candidatos, sem nenhuma restrição de uso; e o autofinanciamento total de campanha por candidatos milionários, em clara concessão de privilégio, que contraditoriamente facilitará em muito o Caixa 2; enquanto setores da justiça destroem a República, o país e a economia com o discurso de que a corrupção e o financiamento empresarial de campanha distorcem o equilíbrio e o resultado dos pleitos, e se pretende impedir a candidatura de certos candidatos em benefício de outros, com uma evidente e descarada campanha de lawfare que está escandalizando o mundo inteiro?

Antes, as mais altas instâncias do Judiciário pareciam que estavam apenas se deixando levar pela pressão da mídia e de grupelhos sectários instalados em corporações como o Ministério Público e a Polícia Federal. 

Nesta triste e lamentavel quadra da vida nacional, parece que agora se esmeram em tentar traduzir e antecipar - tratando-os como se fossem seus - os desejos e pressões desses grupos, como se pretendessem sinalizar à opinião pública que a iniciativa está em suas mãos, quando até mesmo jovens procuradores destratam publicamente membros da Suprema Corte e a população não espera nada de seus ministros além de que cumpram - principalmente quando a confusão e os desafios se avolumam - o dever e sua missão precípua de respeitar, defender e proteger a Constituição da República. 

Qual é a motivação que está por trás de certos erros e equívocos?

A egolatria espetaculosa e farsesca que parece estar contaminando segmentos cada vez maiores da polícia, do Judiciário e do Ministério Público?

O medo de destoar daquela que consideram – erradamente, muito erradamente – ser a opinião da maioria?

A conspiração intuitiva, empírica, subjacente, que parece estar empurrando, nos últimos quatro anos, certos setores da plutocracia estatal para um verdadeiro assalto ao poder, voltado para desvalorizar os eleitos e a soberania popular e acuar homens públicos que, com todos os seus defeitos, não caíram onde estão de paraquedas e foram ungidos, nas urnas, por dezenas, centenas de milhares de votos?

O que ocorrerá quando, por causa de um discurso hipócrita e mendaz de criminalização, a política tradicional for alijada, na prática, da vida nacional?

E certos setores que almejam substituí-la deixarem – ao menos momentâneamente - de brincar com fogo sobre os despojos da República, como um bando de aprendizes de nero armados dos novos lança-chamas lançados por Elon Musk, a mil e quinhentos dólares a peça, para combater eventuais epidemias zumbis, no mês passado?

Restando apenas, com claríssimo prejuízo para a diversidade democrática, pecuaristas, pastores e policiais no Congresso Nacional?

Alguém acredita que se estabelecerá entre essas forças uma longa PAX TUPINICANICA?

Ou a balbúrdia institucional - se não for eleito um maluco autoritário para disciplinar todo mundo na taca - continuará imperando e o espólio do poder será disputado a tapa, como já ocorre, por exemplo, no âmbito da polícia, do Judiciário e do Ministério Público, com relação ao direito de se negociar acordos de leniência e de delação premiada?

A Justiça precisa parar de ficar olhando, entre fascinada e embevecida, pelo buraco da fechadura, enquanto balança a Caixa de Pandora para adivinhar o que tem dentro.

Não se brinca com a Democracia impunemente.

Como por várias vezes já lembramos aqui, infeliz e inutilmente, a História não perdoa os amadores.