21 de dez. de 2018

A ÚLTIMA DO BRASILEIRO, PÁ!




(Da equipe do blog) - Em Lisboa, 19 horas.

Nuvens negras se acumulam para os lados da Praça Luis de Camões e relâmpagos brilham, sinuosos, sobre o Castelo de São Jorge.

Um conhecido, capixaba, que vem  descendo a pé o passeio, testemunha inesperadamente o encontro de dois cidadãos portugueses,  perto da Tasca Maitai, na rua da Rosa.

-Tu por aqui, pá? E sozinho?

Como está frio,  cerca de 10 graus, com chuva e uma umidade de 81%, o primeiro parece estar tentando convencer o segundo a tomar uma taça de vinho, ou quem sabe algo mais forte, em um bar próximo, para esquentar o peito, e completa, incisivo, aumentando o tom de voz, com um apelo que lhe parece incontornável:

- Vamos, vamos, que quero comentar contigo a última do brasileiro!

Frase que, dita com tal ênfase, chama, naturalmente, aos brios, a curiosidade de nosso compatriota, que, não tendo nada melhor para fazer no momento,  resolve seguir os gajos para dentro de um lugar pitoresco, ali por perto, lotado de gente apinhada em frente a um balcão cheio de espelhos, onde os dois prováveis lisboetas conseguem uma mesa em um cantinho e o Joaquim - à falta de outros usamos aqui os prenomes que sempre utilizamos no Brasil para identificar  clássicos personagens portugueses - já matreiro, tirando a capa molhada com um sorrisinho na boca, volta a fazer alusão à última “do brasileiro”.

- Mas qual delas, pá, qual delas? - pergunta nosso suposto Manoel - diz-me logo que já são tantas, mais de uma por dia, ultimamente !

- Ora, a dos aviões, pá, a dos aviões. Não viste que o Temer, no apagar das luzes, acaba de abrir as asas, ou melhor, as pernas, do mercado brasileiro de aviação de passageiros aos estrangeiros?

- Ora meu caro, isso já era de se esperar. Os brasileiros estão como umas cavalgaduras na sofreguidão por entregar o seu ao alheio. Não percebem que a aviação civil é um excelente negócio, desde que esteja estrategicamente ligado, até por uma questão de segurança, também ao Estado, atendendo aos interesses nacionais, ou, em alguns casos, até mesmo continentais, como por aqui é o caso.

- É verdade. Não foi por acaso que o nosso governo comprou mais ações da TAP no ano passado, completando agora os 50% - disse Joaquim, levando pela primeira vez a taça aos lábios, com nosso providencial capixaba encostado ao balcão, meio de lado, com as orelhas em riste, acompanhando o  colóquio lusitano.

- O governo português é socialista - retrucou o Manuel - mas não é burro. No mesmo ano a Air Portugal já deu logo 104 milhões de euros em lucro. Em bom brasileiro, quase 400 milhões de reais.

- A TAP. Uma empresa que foi, durante  anos, comandada por um gaúcho brasileiro nada burro, o Fernando Pinto, que acaba de se aposentar. Ficou mais de 15 anos por aqui, vindo de uma empresa antiga, te lembras, que operava em quase todos os aeroportos do mundo e tinha uma rosa dos ventos no rabo das aeronaves, chamava-se VARIG ou BARIG, não me lembro mais...  

- Ficando os outros 5% para os funcionários da TAP e 45% para o Atlantic Gateway…

- Um consórcio comandado por outro brasileiro também nada burro, pá, já que é também estadunidense, o David Neeleman...

- Que como li, se colocou contra a abertura indiscriminada do mercado aos concorrentes estrangeiros, ainda mais sem a exigência de nenhuma reciprocidade, como foi feito, aconselhando que o limite fosse de no máximo 49%...

- Como é no outro país dele, os Estados Unidos, onde, por lei, nenhuma empresa estrangeira pode ter mais do que 49% em companhias locais, senão não pode entrar no mercado norte-americano.

- Ou aqui, na Europa, onde a União Europeia proíbe, também por lei, que empresas que não sejam estatais ou não pertençam a capitais europeus, ou a cidadãos nascidos em países da UE,  tenham mais de 50% do controlo de qualquer companhia aérea de transporte de passageiros.

- Mas os brasileiros são burros, pá…. - tornou o Manuel, pensativo - ainda  acreditam em lorotas como a da livre iniciativa. Mal sabem eles que a liberdade da tal mão invisível do mercado acaba onde começam os interesses dos grandes países e blocos econômicos que têm vergonha na cara.

- Aquela mãozinha sacana dos mercados que onde não tem controlo está sempre enfiada no bolso de trás dos consumidores. A mexer na carteira deles ou a apertar, lascivamente, suas nádegas.

- Como faria o tal do João de Deus - riu Manuel - para continuar com as atualidades de além-mar !

- E a Embraer, pá, não viste como estão encaminhando mal o tema?

- Entregando a companhia de mais alta tecnologia que têm à Boeing, a preço de bananas?

- Sim. Com a justificativa de que a Bombardier canadense também se aliou à Airbus.

- É. Mas a mídia lastimável que os gajos têm no Brasil não explica que a Bombardier canadense tem participação estatal e que o Canadá só vai abrir mão de 50% da nova empresa, porque a tal "aliança" por lá é meio a meio.

- Enquanto a Embraer está entregando o futuro do negócio e 80% das ações para os norte-americanos, com uma claúsula de eventual venda dos outros 20%.

- Com isso os asnos não vêem que a Boieng já se livra, a longo termo, de um futuro concorrente, que já estava fabricando aviões médios, de 120 lugares.

- E que daqui a uns dois ou três anos a Boeing pode fechar as fábricas da Embraer no Brasil e transferí-las aos EUA, engolindo os canarinhos de camisola amarela da seleção 1 x 7.

- Como faria qualquer bom gavião, pá, já que estamos em assuntos aéreos.

- E alcóolicos e etéreos - retrucou Joaquim, filosoficamente - fazendo um sinal ao moço para trazer mais uma taça de vinho.

- Mas o pior de tudo são as desculpas - continuou o Manoel, dando uma boa gargalhada.

- Eu vi, eu vi. Estou acompanhando na  Tv a cabo os “especialistas” comprados, que sempre estão à mão para justificar este tipo de engodo e garantir, como diria o Noam Chomsky, a fabricação do consentimento. Estes teimam em dizer  que sem o "acordo", melhor dizendo sua rendição à Boieng, a Embraer não sobrevive no mercado.

- Como se a Embraer não tivesse acabado de bancar, sozinha,  o desenvolvimento de toda uma nova família de aviões civis para até 120 passageiros, a E-2, muito mais moderna, segura e econômica, sem precisar de ajuda ou parceria de nenhuma companhia estrangeira.

- E não estivesse a colher os frutos desse gigantesco projeto com um tremendo sucesso de vendas nos principais salões aeronaúticos.

- Só no Farnbourough Airshow na Inglaterra, neste ano, a Embraer vendeu 300 aviões, em contratos que podem render até 15 bilhões de dólares.

- Que agora irão para o bolso dos norte-americanos.

- Sem falar nas vendas da semana passada, quando a Embraer vendeu de uma só vez - também sem precisar da Boeing nem de nenhuma outra empresa estrangeira para isso - 100 aviões de médio porte para a Republic Airways dos Estados Unidos em uma única canetada.

- Fora os 21 jatos que vendeu à Azul, do David Neeleman, também nos últimos dias, não te esqueças, por 1.4 bilhão de dólares.

- Ora...o amigo acha que se as grandes empresas de aviação regional estivessem preocupadas  com o futuro da Embraer estariam comprando os aviões dela dessa forma?

- Quer dizer, os brasileiros investem durante dezenas de anos sangue e suor e bilhões de dólares em dinheiro público para matar o leão e construir a terceira maior fabricante de aviões do mundo.

- E na hora de comer o felino - completou Manuel - põem a mesa de gravatinha borboleta e creminho no cabelo e servem tudo à francesa para os gringos.

- É que a moda agora no Brasil é acreditar na conversa fiada de que são incompetentes e que estão quebrados.  Duas excelentes desculpa para todo tipo de corrupção e de negociatas.

- Afinal, só um país de idiotas vende o controlo de sua mais avançada empresa de tecnologia por 5 bilhões de dólares.

- Quando tem 380 bilhões de dólares - mais que o nosso PIB português - só em reservas internacionais.

- 250 bilhões desses 380 bilhões de dólares, diga-se de passagem, emprestados justamente para os norte-americanos, que são quem está levando para casa a EMBRAER na bacia das almas.

- Acredito que só com as encomendas deste ano a Boeing lucra os 5 bilhões de dólares que vai pagar pela Embraer. A empresa vai sair de graça.

- Ora, se a intenção é atingir escala aliando-se à Boeing, o governo brasileiro devia pegar 5 bilhões de dolares das reservas internacionais, que ao final não fazem a menor diferença diante do total, dá menos de dois por cento, e capitalizar a EMBRAER no mesmo montante da Boeing, ficando com peo menos 50% do negócio e com uma empresa muito maior do que a que o Brasil já tem.

- Mas isso, está claro, não se pode fazer. Seria coisa de comunista estatizante.

- Se vê muito bem que a razão não é empresarial. A questão é não perder a oportunidade de mostrar como são abjetos e como esse “novo” Brasil se rebaixa caninamente aos interesses de tudo que é norte-americano !

- Além de se estar fazendo o mesmo com o KC-390, o novíssimo cargueiro militar feito pra substituir o Hercules C-130 do qual também participamos do desenvolvimento, junto com os brasileiros, os argentinos e a República Tcheca.

- No princípio diziam que o negócio só abrangeria os aviões civis e agora vão chamar a Boieng também para ser sócia na fabricação desse avião, o maior já produzido pela indústria brasileira, que está mais voltado para operações de defesa.

- Nos dois casos o que importa é saber se o governo brasileiro vai conservar a ação de mando na EMBRAER,  impedindo que a Boieng amanhã desmonte as fábricas e as leve para os Estados Unidos.

- Como a própria Embraer teve que fazer quando transferiu a fabricação de Super Tucanos vendidos para EUA para a Flórida, sendo obrigada a fazer uma joint venture minoritária com uma empresa americana, a Sierra Nevada, porque os EUA - que já avisaram que querem que o KC-390 seja montado nos EUA - proíbem a importação de armamento para suas forças se não forem construídos em território norte-americano e por empresas majoritariamente norte-americanas.

- É óbvio. Já que os norte-americanos não são estúpidos como os brasileiros, ou a massa ignara e manipulada deles, sempre enganada pela mídia.

- Como se diz por lá, os gringos  não dão ponto sem nó, pá !

- Como estão fazendo no caso da Petrobras, a outra grande empresa brasileira de tecnologia.

Arrebentando com a empresa nos tribunais dos EUA com a desculpa da corrupção e se apropriando das reservas de petroleo que ela descobriu com tecnologia própria para suas próprias grandes empresas como a EXXON, com isenção de impostos de dezenas de anos.

- Pobre Brasil… - suspirou o Joaquim, desconsoladamente - aquele baixinho, que tem uma estátua em Le Bourget, na França…

- Quem, o tal Santos Dumont ?

- Deve estar revirando-se no túmulo…

- Afinal, o que não se pode compreender, pá, é como um país tão grande….

- Com 8.5 milhões de quilômetros quadrados e um território e um espaço aéreo maiores que o da Europa inteira.

- E mais de 200 milhões de habitantes com a quinta maior população do  mundo…

- Com 380 bilhões de dólares  em reservas internacionais e uma das dividas mais baixas do planeta com relação ao PIB entre as 20 maiores economias.

- Consegue ser....

- E pensar…

- Tão pequeno !

- Ah se a Embraer fosse portuguesa...- concluiu Joaquim - pontuando a discussão com um gole que levou até a última gota de vinho e colocando, decisivamente, quase que de forma abrupta, a taça vazia sobre o pano da mesa - e então, pá, vamos embora ou mudamos de assunto?

A essa altura o nosso capixaba, já tendo pago a conta, não se aguentando mais de curiosidade, decide aproximar-se da mesa, e com a capa ao ombro, pendurada no dedo, já de saída, pergunta de sopetão, arriscando-se a levar um chega pra lá ou uma má resposta dos gajos:

- Os senhores vão me desculpar, mas antes de tomarem essa decisão, posso saber como entendem tanto de tudo isso ?

- Porque somos técnicos aeronáuticos, ó brazuca! Trabalhamos para uma subsdiária da EMBRAER daqui de Portugal, em Évora, e viemos passar o final de semana.


2 de nov. de 2018

NÃO TOQUEM NAS RESERVAS INTERNACIONAIS











(Da equipe do blog) - Depois de o governo Temer ter detonado com mais de 200 bilhões de reais deixados pelo governo Dilma nos cofres do BNDES, criminosamente esterilizados com sua devolução “antecipada” ao Tesouro - quando havia um prazo de 30 anos para serem pagos - no lugar de tê-los  
investido em infraestrutura para a a geração de renda e emprego e a retomada de obras paralisadas - muitas dela pela justiça- chegou a hora do Presidente do Itaú, banco que lucrou mais de 20 bilhões de reais neste ano, propor a “saudável” diminuição das reservas internacionais do país - também economizadas pelo PT - para “diminuir” a dívida pública brasileira, que já é das mais baixas entre as 10 maiores economias do mundo.

Ora, não é preciso ser Mandrake para saber que diminuir a poupança nacional é saudável para os banqueiros.

A alegação de que o país precisa contrair dívida para manter as reservas e que o PT teria aumentado a dívida pública para criá-las é furada e uma das principais fake news criadas contra o Partido dos Trabalhadores - uma agremiação  absolutamente incompetente do ponto de vista de comunicação -  nos últimos anos. 

A dívida bruta quando o PT chegou ao poder, em 2002, e o país devia 40 bilhões de dólares ao FMI, era de 80% do PIB e quando Dilma saiu, em 2015, estava em 65%. 

Logo, a balela de que manter as reservas aumenta a dívida - que repassa dezenas de bilhões de reais a bancos como o Itaú todos os anos - é tão falsa quanto aquela que diz que o PT, que deixou quase dois trilhões de reais para o país em caixa, apenas de reservas internacionais e nos cofres do BNDES, quebrou o país que pegou na décima-terceira economia do mundo e que devolveu na oitava posição, em 2015, em quarto lugar entre os principais credores individuais externos dos Estados Unidos. 

Basta ver a situação da Argentina, obrigada a voltar a passar penico para o FMI, para aferir o tamanho da incompetência neoliberal e lembrar que cautela, reservas internacionais e canja de galinha não fazem mal a ninguém - como diria Tancredo.

11 de out. de 2018

BEM-VINDOS AO FASCISMO. O BULLYING ELEVADO À ENÉSIMA POTÊNCIA.


(Da equipe do blog) -  Com uma lâmina, uma mulher tem uma suástica escavada na pele, em Porto Alegre.

Um estudante da Universidade Federal do Paraná é levado para o hospital em Curitiba, após ser espancado por integrantes de uma torcida organizada, em frente à universidade, em meio a gritos de apoio ao candidato que está na frente das pesquisas do segundo turno, por estar usando um boné de um movimento social e uma camiseta vermelha.

Um mestre de capoeira, artista e educador baiano, Moa do Katendê,  é assassinado com 12 facadas em Salvador. por um simpatizante e eleitor do mesmo candidato por ter declarado seu voto a favor do PT. 

Ora, o que diria esse candidato se, em vez de ser um maluco, o sujeito que o esfaqueou se declarasse petista, e o candidato do PT, confrontado com o fato, respondesse: - O cara lá que tem uma camisa minha, comete lá um excesso. O que eu tenho a ver com isso? Eu lamento. Peço ao pessoal que não pratique isso. Mas eu não tenho controle sobre milhões e milhões de pessoas que me apoiam.”

Se não pode controlá-los como “lider” político, será que o candidato da extrema-direita vai conseguir controlá-los quando for Presidente?

Quem vai “segurar” certo tipo de policial que acha que é uma  marca de amor, ou de “budismo”, o desenho a faca de um símbolo que levou à morte de 70 milhões de pessoas na Segunda Guerra Mundial há menos de 70 anos na barriga de uma moça de 19 anos, porque ela estava vestida com uma camiseta do #elenão, com um apelo político divergente? 

Quem vai conter o guardinha da esquina, que está careca de saber a opinião do próximo presidente da República sobre tortura, abate de “bandidos”, abuso de autoridade, e isenção de ilicitude para agentes do Estado agindo em suposta “defesa da sociedade”, em um país em que policiais matam até policiais “por engano”, quando ele parar em uma blitz, daqui há alguns meses, alguém que ele achar que, por causa de uma camiseta ou de um boné, pensa diferente dele?

Quem vai segurar a mão de quem decidir meter a faca ou as balas da arma cujo porte acabou de receber do Estado, no vizinho ou no interlocutor de bar, quando não concordar com o voto ou a opinião política dele, como aconteceu em Salvador com o Mestre Moa?  

Será que não teria sido mais conveniente, diante da crescente espiral de radicalização, um apelo do candidato vitorioso no primeiro turno em favor da democracia e de que seus “seguidores” evitassem, no futuro, o uso da violência como arma política, como ele acabou fazendo, em uma pequena nota no twitter, posteriormente?

Ou o país virará um caos quando ele for eleito, e o ódio explodir desatadamente, por parte de seguidores sobre os quais ele diz não ter controle, e o “governo” se comportar como Pilatos, olhando para o outro lado, e lavar, a cada vez que algo assim acontecer, suas mãos na bacia da hipocrisia, não mais cheia de água, mas de sangue?

Na  Alemanha Nazista, na qual, emulando o Deutschland Uber Alles, que inspirou o slogan Brasil acima de tudo, Hitler também não segurou o porrete que quebrou cabeças de famílias judaicas e de suas crianças ou as pedras que destruíram milhares de vitrines de lojas de judeus alemães e centenas de Sinagogas na Kristallnacht, nas ruas das grandes cidades germânicas, em novembro de 1939.

Ou os relhos empunhados por oficiais das SS que expulsavam ao alvorecer judeus e ciganos de suas casas e de suas carroças cobertas nas florestas da Europa Central, para massacrá-los nos bosques e montanhas.

Ou os pedaços de ferro que se abatiam com violência inominável, entre urros de dor das vítimas, e grunhidos de êxtase dos seus algozes, sobre os corpos nus de judeus e de socialistas mortos em brutais pogroms, registrados pelas câmeras de sorridentes cinegrafistas nazistas, como o que ocorreu nas  ruas de Lvov, na Ucrânia, em 1941 - cujas cenas deveriam ser vistas por todos os brasileiros no youtube.

Nem pressionou o gatilho das armas que eram disparadas contra a nuca de crianças e mulheres ajoelhadas na beira das fossas que haviam acabado de abrir com as próprias mãos, por membros dos Einsatzgruppen.

Nem “organizaram” com pancadas de cilindros de oxigênio e chicotes de fio elétrico trançado,  fazendo com que  se enfiassem, uns atropelando os outros, como sardinhas, no último corredor que levava à sala escura da câmara de gás de campos de extermínio, como Maidanek, na Polônia, a "fila" de idosos e de seus netos recém desembarcados de vagões de trens para transporte de gado, depois de dias de viagem sem água ou alimentos através da Europa.  

Mas as mãos de Hitler armaram todas as mãos que fizeram isso quando ele chegou ao poder.

Elas avisaram, incentivaram, profetizaram, escreveram, claramente, em um livro, o Mein Kampf, o que iria acontecer caso ele viesse a ocupar o mais alto cargo político da Alemanha.

Sustentando seu dono durante seus discursos, proferidos caninamente, em meio a nuvens de perdigotos de ódio, contra  os socialistas, os comunistas e os judeus, nas manifestações do Partido Nazista  e, pelo rádio, para milhões de residências  alemãs, onde eram ouvidos, contritos, por milhões de imbecis enfeitiçados pelo ódio e o preconceito, enquanto o coro monocórdico da multidão enfurecida gritava, por trás do som gutural de seus insultos, Heil! Heil! Heil! Heil!

Mobilizando milhares de “seguidores” que, como fazem hoje outros milhares de “seguidores” em nosso país, começaram a sua carreira de “militantes” jurando matar comunistas e socialistas depois que seu líder chegasse ao poder e terminaram fazendo experiências genéticas, sabão de sebo humano e móveis de pele de homens e de mulheres  em campos de extermínio como Treblinka, Auschwitz, Sobibor, Dachau, Flossenburg, Buchenwald.

E olha que naquele tempo não havia internet nem redes sociais, nas quais,  sem nenhuma interferência das autoridades, se espalha já, há mais de dez anos, uma maré montante de esgoto de ódio, calúnias, ameaças e mentiras no Brasil, que, como a irresistível marcha de um infernal Flautista de Hamelin, penetrou de forma profunda e doentia na mente de boa parte da população, depois que suas comportas foram abertas  pelas bandeiras calhordas da antipolítica, de um pseudo morolismo hipócrita e de uma suposta doutrina anticorrupção corrompida, ela mesmo, pelos demônios do corporativismo, da egolatria, da parcialidade, da seletividade, do partidarismo, e da  abjeta sujeição aos interesses estrangeiros.

Ah! se cada cidadão brasileiro pudesse perceber o que está ocorrendo à nossa volta.

Mais  do que saber se o seu candidato poderá controlá-los, importa entender como esses “seguidores” veem a si mesmos.

Como mostram os modelos musculosos que servem para  a venda das suas camisetas, metidos,  “malhados”, com uma expressão de grosseria contida e de vaga estupidez sobressalente.

Qual é a mensagem subjacente?

Que o fascismo é a primazia dos mais fortes sobre os mais fracos?

Dos covardes contra os indefesos?

Das armas sobre a inteligência?

Da pseudo maioria sobre aquele que é ou que pensa diferente?

Ora, o leitor já deve ter cruzado por aí,  no seu antigo colégio, na rua, no bar, ao longo de sua vida, com esse tipo de gente.

O fascismo é o bullying institucionalizado.

O  bullying elevado à enésima potência, à categoria de uma pseudo ideologia do egoísmo, do preconceito, da violência e da brutalidade.

10 de out. de 2018

OU A CAMPANHA DE HADDAD DESCONSTRÓI O DISCURSO ANTIPETISTA OU O ANTIPETISMO ACABA DE DESTRUIR A DEMOCRACIA NO BRASIL

 


(Da equipe do blog) - Sem ser agressiva ou panfletária, a campanha do candidato Fernando Haddad no segundo turno das eleições presidenciais pode ser a última grande oportunidade histórica para que o PT explique sucintamente à nação a verdadeira história do país nestes últimos 15 anos e desconstrua os mitos e mentiras do discurso antipetista que levou quase a metade dos eleitores brasileiros a aderirem entusiasticamente ao fascismo no primeiro turno e arrisca a levar outro mito, tão falso quanto esses, ao cargo máximo da nação a partir do primeiro dia do próximo ano.


Os tempos de Lulinha Paz e Amor já se foram e correspondem a um momento em que o PT não tinha nada a mostrar a não ser a esperança.

Não há promessa de felicidade, plataforma de governo, ou apelos eivados de saudade e de sentimentalismo, que possam calar na mente dos eleitores brasileiros, principalmente dos 20 milhões de cidadãos que não escolheram nenhum candidato no primeiro turno, ou gerar qualquer efeito na alma amarga de eleitores céticos, varridos diuturnamente pelo discurso corrosivo e manipulador da antipolítica e da “anticorrupção” seletiva, corporativa e partidária, se antes não forem desmentidas, com fatos e dados inequívocos, as grandes calúnias que se acumularam, durante tanto tempo, sem quase nenhuma resposta, nos corações e mentes da opinião pública.

Agindo como o patinho feio do pleito, como se estivesse disposto a fazer o “mea-culpa” de crimes que não cometeu, como lhe cobra descaradamente parte da mídia, também parcial e, nesta altura do campeonato, profundamente hipócrita em seu morde e assopra de sorrisinho amarelo, ou escolhendo apenas propostas supostamente proativas, como se estivesse começando, sem passado, sua vida agora, o PT não fará frente ao programa claro de violência, neoliberalismo e entreguismo do adversário, nem às acusações e injustiças que recebeu ao longo de anos de inação, grandes e pequenas capitulações e hesitações, a ponto de promulgar “autonomias” e leis fascistas que se voltaram como mortais bumerangues contra ele mesmo.

A campanha de Haddad precisa responder com clareza e serenidade, sem abrir mão do equilíbrio, serenidade e lucidez que o candidato pretende passar aos eleitores, às acusações de quebra do país, incompetência administrativa e comunismo que foram impingidas ao PT impunemente, do “mensalão” ao impeachment de Dilma,  usando para isso dados claros que foram, aí sim, incompetentemente deixados em segundo plano pela comunicação do partido dos trabalhadores ao longo de mais de uma década.

Há tempo mais que suficiente, na propaganda política e na internet, para abordar, na economia:

O pagamento da divida com o FMI no valor de 40 bilhões de dólares, respondendo à falsa afirmação de que esse pagamento e o acúmulo subsequente de 380 bilhões de dólares em reservas internacionais aumentaram a divida pública interna, já que a relação dívida-pública PIB era de quase 80% no último ano do governo FHC e estava em 64% na saída de Dilma, sem falar no corte pela metade da divida líquida.

A duplicação da safra de grãos, as dezenas de bilhões de reais deixados nos cofres do BNDES - canalhamente acusado de ter aplicado dinheiro apenas no exterior -  a quadruplicação do salário mínimo, da renda per capita e do PIB em dólares, tirando o país do posto de décima-terceira economia do mundo em 2002 para a sexta maior do mundo em 2011, e mantendo-o ainda hoje, apesar de toda a crise, em oitavo lugar entre as entre as 10 maiores economias do mundo, e como se pode ver na página do tesouro norte-americano, como o quarto maior credor individual externo dos EUA.

Para responder à crença geral de que o PT é comunista, nem é preciso lembrar quanto os grandes capitalistas e bancos cresceram em seus governos, no rastro do crescimento do consumo e da economia.

Mais emblemático seria o apoio que foi dado pelos governos petistas - desmentindo que o partido seja “anti-brasileiro” apenas porque usa a cor vermelha em seus símbolos e manifestações -  às forças armadas, por meio da promulgação da Estratégia Nacional de Defesa e do desenvolvimento e produção de material bélico como o Sistema de mísseis Astros 2020, o avião cargueiro militar KC-390, os caças Grippen NG-BR, a família de radares SABER, os tanques Guarani, o programa de submarinos da marinha, com a construção de uma nova fábrica e uma nova base de submarinos, incluído um a propulsão atômica, o míssil ar-ar A-Darter desenvolvido em parceria com a DENEL sul-africana, a nova família de rifles de assalto IA-2, da IMBEL, capazes de disparar 60 tiros por minuto.

O que não falta na rede são vídeos e imagens sobre tudo isso.

Na infraestrutura, as novas hidrelétricas, a recuperação da indústria naval, a multiplicação da produção nacional de petróleo, a extensão de ferrovias, as usinas, etc, etc, etc.

No social, a transposição do São Francisco,  os três milhões de casas populares, o Luz para Todos, as cisternas do  semiárido, etc, etc, etc.

     

Na campanha e fora dela, nos grandes portais, na internet, nas redes sociais, ou o PT desconstrói, com dados, as bases pseudo teóricas do antipetismo, ou carrega a responsabilidade de o antipetismo - agora fascismo -  que deixou crescer, durante anos, sem resistência digna desse nome, bater o martelo em seu projeto de poder, arrasando por completo, no Brasil, com a liberdade e a democracia, nos próximos anos.

3 de out. de 2018

AS DUAS CARAS DA JUSTIÇA




(Da equipe do blog) - Mesmo não sendo candidatos, dois magistrais e emblemáticos personagens marcarão, do ponto de vista histórico, as eleições deste ano.

O primeiro é um Ministro da Suprema Corte que afirma que a justiça tem que interpretar - como se devêssemos passar a publicar constituições sazonais - o que ele divinamente considera serem os “anseios” - de momento - da sociedade.

E, que sob a alegação de que qualquer manifestação ou declaração oriunda dele poderia influenciar o resultado do pleito, proibiu, como se estivéssemos sob regime de exceção, a realização de entrevistas com um ex-presidente da República.

O segundo é um certo juiz de primeira instância que faz o que quer neste país, ao arrepio da Lei e de uma Suprema Corte com raras exceções covarde e pusilânime, que fez exatamente o contrário.

Ao liberar trechos de uma pestilenta delação de conveniência, absolutamente fantasiosa e sem nenhuma prova concreta que a sustente, que estava guardada há meses em uma das muitas gavetas da verdadeira morgue em que se transformou a justiça  brasileira - sempre disposta a experimentações dignas de um Dr. Frankenstein jurídico - a cinco dias da votação em primeiro turno para a escolha do Presidente da República, exatamente para influenciar, descaradamente, as mesmas eleições.

Como aliás tem sido feito, na undécima hora, sempre contra o PT, nos últimos anos, da produção de  bombásticas capas de revista com farta utilização de photoshops mefistofélicos a outros recursos moralmente tão baixos,  rastejantes, quanto o ventre de lesmas no concreto ou o umbigo de certos lagartos reptilianos.

Ora, quem pode mais - vide o processo espúrio de condenação de Lula em primeira e segunda instâncias e o seu impedimento de concorrer à Presidência da República, que com certeza mudaram o rumo das eleições deste ano - pode o que alguns poderão considerar menos, como cassar a palavra de alguém que foi condenado sem provas (mas não ao silêncio) e levantar “parcialmente” o sigilo de declarações de um acusado que - o mundo inteiro sabe - está pronto para fazer o que quer certa “justiça” e acusar também sem provas esse mesmo ex-presidente que já está preso e outras lideranças políticas, para tirar o seu da reta da seringa.   

Com ou sem topete, a conclusão é que essas duas caras da justiça são só uma.

A mesma abominável face da parcialidade, de um partidarismo justiçalista - de justiçamento mesmo - seletivo, metediço e indecente.

Que distorce e retorce a lei como  chiclete usado na boca de cachorro velho.

Sonegando ou oferecendo, a seu bel prazer, “informações”, da forma que lhe for mais conveniente, com o claro objetivo de manipular a opinião pública e interferir com os acontecimentos políticos,  sem nenhuma coerência ou respeito pela legislação e a constituição - teoricamente - vigentes.

É essa justiça, moral e paradoxalmente cega pela animosidade e a hipocrisia - que sabe muito bem o que está fazendo - que está conduzindo pelo braço uma nação igualmente cega pelo ódio, o preconceito e a ignorância para o sombrio imponderável que se aproxima.

Para o escuro, profundo e inconsequente abismo fascista que se abre à nossa frente.



30 de set. de 2018

#ELE NÃO




MOVIMENTO TOMA AS RUAS E A SUA AMPLIAÇÃO POR TRABALHADORES, NEGROS E ÍNDIOS PODE ABRIR CAMINHO PARA UMA ALIANÇA ANTIFASCISTA NO SEGUNDO TURNO.


(Da equipe do blog) - Iniciado, pelo que informa a imprensa, por um núcleo de apenas 30 mulheres, que trabalharam, replicando as táticas da extrema-direita, principalmente com as redes sociais, usando o Facebook e o WhatsApp, o movimento #Ele Não transformou-se, com as manifestações de ontem no Brasil e no exterior, no maior fenômeno político das eleições até agora, abrindo caminho para a criação, pelos próprios cidadãos, de uma ampla aliança democrática antifascista para o segundo turno, com o intuito de impedir a ascensão, neste país, de um governo autoritário, violento, racista, preconceituoso, armamentista, misógino, inquisitorial, retrógrado e medieval a partir do dia primeiro de janeiro do ano que vem.


Resta saber agora se a bem sucedida estratégia das mulheres brasileiras será adotada por outros grupos sociais que estão sendo ameaçados por essa perspectiva.


Como os jovens, os trabalhadores - vide declarações em defesa do fim do décimo-terceiro e do ECA, entre outros absurdos recentes - os negros e os índios, com a criação de suas próprias comunidades no Facebook, a adoção do mesmo slogan e a realização, depois  de marchas setoriais, de manifestações conjuntas no segundo Turno.


Do ponto de vista tático-eleitoral, duas grandes ameaças pairam sobre a democracia brasileira.


A primeira, representada pela parte mais canalha da elite, responsável em grande parte pelo país ter chegado onde chegamos, que ameaça lavar as mãos como Pilatos no segundo turno ou que já acena pura e simplesmente com a previsível e abjeta adesão a um governo liberticida que tem tudo para destruir a democracia.


Fazendo isso - repetindo o mesmo erro histórico de sempre - como fez a burguesia alemã às vésperas da ascensão de Hitler ao poder, achando que seus  interesses seriam protegidos, quando a preservação da liberdade precede e é o pressuposto maior de qualquer perspectiva de paz, da oportunidade e da prosperidade.


E a segunda, o  voto nulo e branco (nada a ver com a  cor da pele dos candidatos em pauta) que na ponta do lápis, na reta final deverá beneficiar o fascismo, cujos seguidores seguem seus sonhos de brutalidade, estupidez e violência com viseiras presas às orelhas e uma cega, surda e canina fidelidade.      


Só a mobilização maciça de trabalhadores, negros, índios, e outros grupos sociais, debaixo do mesmo slogan suprapartidário do  #Ele não pode provar que a opção pelo lado escuro da força não é majoritária na sociedade brasileira.


E afastar da opinião pública outras falácias golpistas, como a fantasiosa teoria da carochinha da manipulação das urnas eletrônicas por uma justiça eleitoral que, desafiando o mundo, optou por manter atrás das grades o candidato que desde o início esteve à frente  das pesquisas de intenção de voto.


Impedindo-o, à moda da Gestapo e de países sob despudorado Estado de Exceção, para escândalo de nações democráticas e civilizadas,  até mesmo de dar entrevistas.


Trinta mulheres, multiplicadas em milhares, começaram a mudar o rumo deste país, mostrando como desviá-lo, como boi farreado, da beira do precipício do retrocesso e da ignorância, para onde parecia estar inexoravelmente indo.


A defesa da Liberdade precisa de mais trinta trabalhadores, trinta artistas,  cientistas, intelectuais, homens, trinta negros, trinta índios.


Alguém se habilita?

28 de set. de 2018

O PETRÓLEO SOBE, MAS O GOVERNO CONTINUA ENTREGANDO-O PARA OS GRINGOS A PREÇO DE BANANA.


(Da equipe do blog) - Recorrendo, mais uma vez, ao velho golpe e à esfarrapada desculpa de um Brasil quebrado - apesar de este país ter 380 bilhões de dólares (1.5 trilhão de reais) em reservas internacionais e ser o quarto maior credor individual externo dos Estados Unidos, além de apresentar uma das menores dívidas com relação ao PIB entre as 10 maiores economias do mundo - o governo Temer - em uma semana em que o petróleo subiu fortemente, chegando a 80 dólares o barril - cometeu o crime de lesa-pátria de entregar aos gringos vários poços do pré-sal a preço de banana. Entrarão nos cofres do governo, em troca de bilhões de barris de petróleo, agora, apenas 6.8 bilhões de reais, aproximadamente um bilhão e meio de dólares, ou mais de 200 vezes menos do que temos em dólares em nossos cofres, graças aos governos do PT, partido que, segundo alardeia o absurdo senso comum do discurso quase único da imbecilidade fascista imperante, teriam supostamente “quebrado” o país nos últimos anos. Pior que essa nova etapa do entrega-entrega de Temer, cumprida quase no apagar das luzes de seu governo mambembe, de nossas reservas de petróleo para os norte-americanos da Exxon e os anglo- holandeses da Shell, só a insistência de Haddad em não abordar esses dados econômicos em sua propaganda e nos debates, cometendo, às vésperas de eleições cruciais para o futuro do Brasil, o mesmo erro no qual Lula e Dilma insistiram ao longo de 14 anos.

17 de set. de 2018

A BOLA, O FASCISMO E AS URNAS


(Da equipe do blog) - Convalescendo no hospital do atentado de que foi vítima, o candidato do PSL às eleições deste ano, diante da evolução das pesquisas que colocam em dúvida sua eleição em segundo turno, aproveitou para mais uma vez atacar o sistema eleitoral e as urnas eletrônicas, segundando o discurso de seus apoiadores e de provocadores  fascistas que insistem, nas redes sociais, em afirmar que ele já estaria eleito em primeiro turno e que qualquer outro resultado só poderá ser fruto de uma “fralde” passível de ser diretamente contestada, até mesmo pelas armas, segundo os mais afoitos.

O Fascismo só chegou onde chegou, no Brasil, por duas principais razões.

A primeira, a irresponsabilidade histórica de certa esquerda, principalmente a que esteve no poder  nos últimos anos, que se permitiu ceder à pressão e promulgar leis fascistas e corporativistas, tecendo e forjando, com as próprias mãos, a corda que iria enforcá-la e as grades que iriam aprisioná-la jurídica, midiática e politicamente.

Isso aconteceu tanto com a aprovação da inconsequente autonomia de setores do Estado que deveriam sempre atuar sob a autoridade do poder político, diretamente emanado do voto, quanto com o paulatino abandono das redes sociais ao fascismo e à extrema-direita, que aconteceu desde o famigerado golpe de lawfare do mensalão.

Sem contestação digna desse nome.

Apesar de constantes alertas emitidos desde essa época, e, principalmente durante a sabotagem da Copa do Mundo e na preparação do Golpe de 2016, por diferentes jornalistas e observadores, que pregaram - e continuam pregando, a se ver pelo miserável número de internautas de esquerda nos comentários das notícias que envolvem a candidatura fascista, por exemplo - literalmente no deserto nos últimos anos.

A segunda - justamente pela ausência da esquerda dos espaços de comentários dos principais sites e portais da internet brasileira - pela elevação da mentira - pelo candidato que hoje “lidera” as pesquisas graças à espúria ausência de Lula da disputa pela presidência da República, já denunciada em todo o mundo - ao status de arma maior no processo político nacional, não apenas na derrubada de Lula e de Dilma do poder, mas também na consolidação da ideologia proto-fascista no país.

À qual se segue,  agora, o cerco calunioso e hipócrita contra a Democracia, com o questionamento público não apenas do nosso sistema político, mas também e principalmente do sistema eleitoral vigente em nosso país, que é um dos mais avançados do mundo.

Se teses como a justificativa da ditadura; a defesa da tortura; do genocídio da periferia; do armamento seletivo - pois que controlado pela “autoridade” da esquina - da direita; da castração química; da redução da maioridade penal; da escola sem partido; da militarização do ensino; do alinhamento com os Estados Unidos - com a defesa intransigente de Israel apoiada pela sionização de nossas maiores igrejas evangélicas, nascida da exploração farisaica dos símbolos da “Terra Prometida” pelos programas “agro-pastorais” de televisão e a adoção da simbologia religiosa e política israelense, como a própria bandeira de Israel; da existência de um maligno Foro de São Paulo e de uma fantástica e insidiosa URSAL (termo mais apropriado para uma instalação stalinista de criação de ursos para o circo de Moscou) contribuíram para o avanço do fascismo de um fenômeno parlamentar isolado e inexpressivo, quase folclórico, para uma corrente ideológica que já fascina e envolve - novamente graças à total ausência de combate pela esquerda nas redes sociais - um a cada quatro cidadãos brasileiros.

A idéia de uma conspiração da qual faria parte tanto a manipulação da contagem de votos - irresponsavelmente “denunciada” pelo PSDB nas eleições de 2014 - quanto a teoria da conspiração de urnas eletronicamente fraudadas  ou de uma justiça eleitoral infiltrada por petistas - a mesma que paradoxalmente decidiu majoritariamente manter Lula atrás das grades apesar de determinação em contrário das Nações Unidas - está dirigida agora para levar o fascismo para o poder a qualquer preço, com a alusão a um  “autogolpe”, como se referiu Mourão, ou a eventual contestação da legitimidade do próximo governo - aludida pelo Ministro do Exército - fantasmagóricas e veladas ameaças que se apoiam no constante trabalho de sapa da militância fascista na internet, com a produção, por sites fakes, de notícias fakes - denunciadas por parte da mídia mas sem nenhuma investigação pela Justiça Eleitoral, como a que produziu e divulgou uma suposta pesquisa de uma suposta empresa norte-americana que teria apurado um resultado de 45% de aprovação para a candidatura fascista já no primeiro turno.

O que espanta, no Brasil, como quase sempre ocorre, não é que o fascismo vomite suas mentiras e estapafúrdias teses, como fez sempre na História, na abjeta fabricação do Plano Cohen ou nos perdigotianos latidos de Hitler ao microfone que prenunciavam o fim da República de Weimar.  
 
Embora fosse o caso de indagar ao convalescente candidato da extrema-direita por que ele não reclamou das urnas quando foi o deputado mais votado nas últimas eleições no Rio de Janeiro - um estado dominado pela milícia - ou, simplesmente por que os malvados e solertes “agentes” do PT na justiça eleitoral, com o poder que têm de manipular os resultados, simplesmente não impediram, alterando os dados, que ele fosse eleito 7 vezes deputado federal nos últimos anos, apesar de, durante todo esse tempo, ter crescido e ter tentado se  apresentar como o principal adversário, o inimigo público número um do Partido dos Trabalhadores.

Ou por que, se o fascismo acredita mesmo que as urnas eletrônicas brasileiras são “fraldadas”, como estão escrevendo por aí tantos bolsominions, o fascismo nunca compareceu com seus hackers - como os que invadiram “corajosamente” a página de mulheres contra Bolsonaro no Facebook na última semana - para tentar provar nos testes abertos promovidos todos os anos pelo TSE para quem quiser deles participar se existem e de que tipo são as tais falhas de segurança no hardware ou no software utilizado pelo sistema eleitoral brasileiro que só existem nas calúnias de seus militantes e nas notícias fakes plantadas por canalhas de plantão em sites e portais idem.

Onde está, nesse caso, o familiar topete do Ministro Fux, que afirmou que o uso de notícias fakes poderiam até mesmo justificar a anulação das eleições?

Tanto ou mais insultante, para a democracia brasileira, que as declarações de Bolsonaro a propósito da democracia e do sistema eleitoral, é o silêncio dos ministros membros e da Presidente do TSE sobre as acusações, por parte de um tribunal que não está aí apenas para fiscalizar a  campanha e o processo eleitoral, mas, primeiramente, em teoria, para defender ética e moralmente um sistema político-eleitoral que está diretamente sob sua responsabilidade.

Afinal, quando diz que as urnas brasileiras são fraudadas, Bolsonaro não está falando do José, do Pedro, do Paulo, do quitandeiro da esquina ou do PT genericamente.

Ele está se referindo diretamente, caso queiram ou não os membros do TSE e do Supremo Tribunal Federal que ora fazem cara de paisagem, tão cientes, em outras ocasiões, da defesa corporativa de suas instituições e de seus pares,  à Justiça Brasileira como um todo.

Com a  clara intenção de subverter a ordem pública e contestar o sistema político vigente, e, preventivamente, antecipadamente, escorchantemente, o resultado das próximas eleições.

Como o menino que mostra o canivete no meio do jogo e diz que está pronto para furar a bola - que nunca foi sua - caso seu time leve a pior na pelada do campinho.

E que não nos venham falar em liberdade de expressão.

Quando se acusa alguém - no caso, a Justiça Eleitoral - de fraude e prevaricação, é preciso provar o que se está falando.

Seré que não vai aparecer um advogado, um cidadão, para pedir a cassação da candidatura por tentativa de prejudicar a ordem pública e tumultuar o processo eleitoral em curso?    

Será que algum ministro do Superior Tribunal ou da Suprema Corte, não se habilitará a  responder a essas acusações?

Ou a instituição não emitirá sequer uma nota, citando as condições  técnicas e de segurança do sistema, em defesa da Democracia?

Será que o partido diretamente acusado de manipulação das urnas, o PT, não vai, mais uma  vez, tomar nenhuma providência?

Em qualquer país decente, menos hipócrita, menos canalha, menos acovardado, tendo melhorado de suas condições de saúde, o referido candidato seria chamado a esclarecer suas declarações na corte responsável pelas eleições, e, caso não apresentasse provas de suas afirmações, punido, multado, ou, no mínimo, obrigado a assinar um termo de compromisso para não repeti-las, ou, em ultima instância, teria sua candidatura cassada, por calúnia contra o próprio TSE e tentativa de subversão e manipulação da opinião pública contra a Constituição e o sistema democrático.