31 de out. de 2015

APESAR DA LAVA-A-JATO, ODEBRECHT VENCE LICITAÇÃO PARA O METRÔ DE QUITO, SEM UM TOSTÃO DE FINANCIAMENTO NACIONAL.





(Jornal do Brasil) - Contrariando a tese da Operação Lava-a-Jato, da qual emana o discurso de que houve um conluio para a “criminosa” obtenção de obras para empresas nacionais de engenharia no exterior, com o “criminoso” financiamento do BNDES, para a “criminosa” geração de milhares de empregos, dentro do Brasil, em milhares de “criminosas” pequenas e médias empresas e fornecedores, para a “criminosa” exportação de serviços e produtos, para “criminosas” obras no exterior, como o “criminoso” Porto de Mariel, em Cuba – que os hitlernautas não perdoam a uma das maiores empresas do país – mesmo com o seu principal executivo, preso, há quatro meses, e ameaçado de permanecer indefinidamente na cadeia, a Organização Odebrecht acaba de vencer, em parceria equitativa com a espanhola Acciona, o edital de licitação de construção do “bolivariano” metrô de Quito, no Equador, sem a necessidade de nem um centavo de financiamento de bancos privados ou governamentais brasileiros.

Como já mostramos em longo texto neste ano, que desmente a tese de “comunistização” da Odebrecht, ou de sua dependência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social A Odebrecht e o BNDES o Brasil financia menos de 10% de sua carteira de contratos, em todo o mundo; e a Odebrecht, longe de ser “bolivariana” está fortemente implantada em Miami e nos EUA, o país – ao menos em tese - mais capitalista do mundo.

Isso faz dela, no lugar de uma empresa dependente do governo brasileiro, ou de “consultorias” do PT, ou de ex-presidentes da República, uma organização cada vez mais global, que tenderá a se afastar, também, cada vez mais do país que lhe deu origem, diante do clima de terror absurdo, kafkiano, imposto por uma Justiça e um Ministério Público, algumas vezes inexperientes – e outras vezes com “experiência” demais - messiânicos e seletivos, que se transformaram na matriz midiática de um novo Plano Cohen, marcado pela contaminação de vastas parcelas da sociedade pelo ódio ideológico, o preconceito, a virulência, a discriminação, pelo vira-latismo antinacional, a desqualificação e o vilipêndio de tudo o que for brasileiro, como ocorre também, por exemplo, com a Petrobras.

A intenção de desmontar e de desnacionalizar a engenharia brasileira, claramente espelhada em alguns aspectos da Operação Mani Pulite, que serve tanto de biombo, quanto de inspiração à Operação Lava-a-Jato, e pelas incursões do Ministro Levy pelo tema, defendendo a entrada de empresas estrangeiras de engenharia no Brasil sem nenhum tipo de restrição ou reciprocidade por parte de seus países de origem; a paralisação de dezenas de projetos e a eliminação de milhares de vagas, com a quebra de dezenas de pequenas e médias empresas, sob o pretexto de um combate à corrupção que no final resultará no parto de um rato, na hora de se computarem as somas A Petrobras e o Domínio do Boato efetivamente e inequivocamente, comprovadamente,  aritmeticamente encontradas, de desvios, preto no branco - não valem multas subjetivas ou quantias fantasiosas que saem da boca de delegados e procuradores e de uma mídia em grande parte comprometida em alimentar essa campanha - terão, como seu resultado, absurdo e paradoxal, o fim da engenharia brasileira em território nacional.

Mas nossas grandes empresas continuarão – mesmo depois de deixar um país contaminado pelo ódio e pela ignorância – a trabalhar e a vencer no exterior.    


Esse é o caso, emblemático, da Odebrecht - e do seu presidente, que vem resistindo à pressão para não se curvar ao que considera uma gigantesca farsa - uma empresa avançada, respeitada e vitoriosa lá fora, que gera dezenas de milhares de empregos e bilhões de dólares em negócios em vários países do mundo, mas que está sendo tratada, neste momento, como um bando de empesteados e de marginais, por parte de alguns segmentos da justiça, e pela camada mais manipulada, ignorante e rançosa, da opinião pública nacional.

28 de out. de 2015

O ACORDO TRANSPACÍFICO, O BRASIL E A GEOPOLÍTICA .

Grandes países impõem acordos comerciais. 
Os pequenos, assinam.


(Jornal do Brasil) - Com o acordo Transpacífico (TPP) nas manchetes, a direita neoliberal, e personalidades como o Ministro Armando Monteiro, voltam a defender a assinatura, pelo Brasil, de acordos comerciais, com a discutível tese de que se não fizermos isso, ficaremos isolados do mundo e do desenvolvimento.

Mesmo que esteja, aparentemente, bem intencionado, o Ministro Armando Monteiro e a costumeira malta dos alegres defensores do neoliberalismo, deveriam se perguntar por que países como a China - que não vai fazer parte do TPP -  estão, apesar disso, cada vez menos isolados, e cada vez mais desenvolvidos.

Por que os europeus não apresentaram até agora sua lista de propostas ao Mercosul, nem conseguiram obter um mínimo de apoio ou consenso de seus agricultores para a assinatura de acordo com essa organização sul-americana.

Por que o Brasil está enfrentando problemas e a ponto de ser processado na OMC – Organização Mundial do Comércio, devido ao uso de incentivos fiscais em áreas como a automotiva, de telecomunicações e de tecnologia, enquanto países desenvolvidos sempre apoiaram esses setores e os protegeram e continuam blindando-os da competição estrangeira, como é o caso dos Estados Unidos.

E por que milhares de cidadãos de todo o mundo, entre eles, por exemplo, mais de 250.000 alemães – cidadãos de um país que consideram “modelo” e desenvolvido - foram às ruas, outro dia, em uma gigantesca manifestação no centro de Berlim, para protestar contra negociações visando à  entrada da União Européia no mesmo Acordo Transpacífico, que, aqui no Brasil, estão querendo nos vender como panaceia.

Quem sabe isso poderia levá-los a refletir  sobre uma verdade simples:

Assim como a Guerra – como dizia Clausewitz – é uma extensão da política,  acordos comerciais são um reflexo e uma projeção do poder nacional, aplicado à geopolítica.

No âmbito comercial, e a história da expansão do poder “ocidental” não é mais do que isso, grandes nações impõem acordos comerciais – quase sempre leoninos – e as pequenas nações os assinam.

Na década de 1960, no auge da Guerra Fria, John Kennedy visitou a Alemanha, e, para demonstrar sua solidariedade aos alemães “capitalistas” na crise de Berlim, logo após a conclusão do muro pelos soviéticos, disse:

“Ich bin ein berliner” – “eu sou um berlinense.”

Frente às declarações do Ministro Armando Monteiro – ainda que possam ter sido bem intencionadas - e dos “analistas” de sempre, que, na mídia, não perdem uma oportunidade de repetir seus mantras entreguistas sem perceber que eles estão longe de ser uma unanimidade hoje, e sem se perguntar por que tanta gente insiste em discordar deles, e se dispõe a enfrentá-los nas ruas, em muitos lugares do mundo;  e, principalmente,  em consonância com as  dezenas de milhares de alemães que desfilaram pelas ruas da capital da maior economia da Europa, protestando contra a perspectiva da entrada de seu país no Acordo Transpacífico, dá vontade de dizer, quanto à tentativa de “globalização”, ou melhor, de “norte-americanização” forçada do comércio “ocidental”: eu sou um berlinense, “ich bin auch ein berliner!”

Por que deveríamos pensar diferente?

O Brasil tem, em sua região, a mesma importância que a Alemanha tem na sua.

Não é de se crer que tenhamos a menor vocação para deixar de ser - com todos os nossos eventuais problemas – a oitava economia do mundo e o país mais importante da América Latina, para nos entregarmos definitivamente à condição de uma província a mais ou de um mercado a mais, totalmente aberto e subalterno aos produtos e aos ditames norte-americanos, em seu esforço para manter sua cada vez mais ameaçada hegemonia, logo em um século, em uma época, em que deveríamos estar nos preocupando em defender o lugar que nos cabe no mundo e os nossos interesses, e não os dos EUA.



  

26 de out. de 2015

POR UMA TERCEIRA POLÍCIA.






(Do Blog) - A propósito do incidente ocorrido na porta de uma delegacia da Zona Leste de São Paulo, na madrugada de quarta-feira, a imprensa chama a atenção para o "agravamento da rixa" entre policiais civis e militares de São Paulo.


A questão por trás do fato não é essa, mas sim o que se seguiu a um primeiro gesto, emblemático, de um delegado de polícia, no sentido de fazer valer a lei e combater a tortura, que é crime hediondo, dando voz de prisão, em flagrante, a um sargento da PM, acusado de dar uma série de choques em um suspeito de roubo dentro da viatura a caminho da  delegacia, e a reação de um bando de PMs, em sua defesa, que foi, na verdade, a defesa da parte mais visível de um gigantesco iceberg de cultura da violência e do genocídio, caracterizado pela onipotência dos agentes de segurança no Brasil, que se acham no direito de tratar, como a um animal de caça ou de sua propriedade, qualquer pessoa  que venha a cair sob sua custódia, em uma situação de "trabalho".


Chama a atenção, também, o fato de que, na Câmara dos Deputados, circulem projetos destinados a dar à PM poder de investigação, e que, por iniciativa do Secretário de Segurança de SP, Alexandre de Moraes, pms estejam sendo  dispensados de aguardar, em casos mais simples, a conclusão de Boletins de Ocorrência por parte de delegados.


Ora, o que o Brasil precisa não é de uma legislação que divida ainda mais as diferentes  polícias, dando mais poder a cada uma delas, mas de uma nova polícia, unificada, judiciária, com a presença de um juiz em cada delegacia, para que se proceda à audiência de custódia, no momento do encaminhamento  do preso pelos agentes responsáveis pela prisão, com o rígido cumprimento do exame de corpo de delito.


Como é simplesmente impossível,  diante de fatos como esse, unificar as polícias já existentes em todos os estados, deveria ser criada, por decreto, essa nova polícia, responsável pelo policiamento ostensivo - nos primeiros anos de carreira - e depois, pela investigação, a partir da estruturação de um novo sistema acadêmico, com uma nova filosofia, baseada, fundamentalmente, no mais estrito cumprimento da lei, e suspender a realização de concursos para a Polícia Civil e Militar, até que estas viessem a se extinguir naturalmente, em uma geração, sendo progressivamente substituídas em suas atribuições, por essa nova força.


No intervalo,  poder-se-ia avançar na federalização dos crimes de tortura, sejam esses cometidos por policiais ou por bandidos, a cargo da Polícia Federal, e, se isso não for possível, na criação de delegacias específicas para a investigação desses delitos, com a presença - aí, sim, mista - de membros das corregedorias da Polícia Civil e da Militar, em todos os estados.


Sejamos claros. O que ocorreu em São Paulo não foi uma "rixa". Foi uma tentativa, combatida pelo mais reles corporativismo, de se fazer cumprir a Lei e a Constituição. Um corporativismo cada vez mais desatado e incontrolável, que ameaça a sociedade e o Estado de Direito como um todo e que deveria ser enfrentado de frente, com coragem e com mão firme, e não da forma covarde, escorregadia e ambígua, demonstrada, na entrevista que se seguiu ao "incidente", pelas autoridades do Estado.

19 de out. de 2015

VLADIMIR HERZOG E A SANHA DO MAL NO COMBATE À LIBERDADE.






Amanhã, terça-feira, 20 de outubro, às 20 horas, no TUCA, será realizada, em São Paulo, a cerimônia de entrega  do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog e do Prêmio Especial Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos 2015, do qual tenho a honra de ser um dos agraciados.


A história da origem de Vladimir Herzog e de sua morte está registrada no livro do meu amigo e companheiro de profissão Audálio Dantas, "As duas guerras de Vlado Herzog" - da perseguição nazista à morte sob tortura no Brasil." 


Judeu, socialista, nascido na Croácia, com o mesmo prenome de Lenin - embora brasileiro como poucos, a ponto de deixar a segurança do exílio em Londres para voltar para o Brasil em plena ditadura - intelectual e não um brutamontes, aparentemente frágil em sua compleição física, mas fortíssimo - principalmente em seus derradeiros instantes - em seu caráter e suas  convicções, Vlado reunia em sua pessoa tudo o que os seus torturadores odiavam mais caninamente.


Por isso, a intenção era expô-lo publicamente, depois de extrair-lhe uma suposta "confissão", fazendo com que assumisse coisas que não havia feito, que delatasse amigos, acusando-os de terem feito coisas que não haviam feito, que renegasse suas convicções - como outros judeus faziam antes, quebrados, destruídos, a caminho de serem queimados na fogueira, diante de seus algozes da Santa Inquisição -  reforçando, como "arrependido", a tese da existência de uma conspiração comunista e antinacional no Brasil, o que justificaria ainda mais prisões, mais assassinatos,  mais torturas.   

Quem matou Vlado, há exatos 40 anos, naquela manhã  infame, nos porões do DOI-CODI, em São Paulo - forjando a absurda tese de seu suicídio, pendurado, pelo pescoço, quase que de joelhos, pelo cinto, a uma altura de pouco mais de um metro da janela da cela em que o colocaram  - queria matar as suas idéias, o seu passado, a sua visão de mundo: sua crença na liberdade, na prevalência do ideal de justiça e do direito de  opinião - mesmo quando mergulhado na mais absurda situação de barbárie, nas mãos de quem podia espancá-lo e matá-lo, caso não se dobrasse à sua vontade, como com ele fizeram.


Seu assassino, como outros covardes daquela época, extremamente machos diante de presos  desarmados e indefesos,  com a metade do seu tamanho, muitos dos quais, como Vlado, nunca haviam pegado em armas, e ali tinham comparecido de moto próprio, por intimação, escondeu-se depois no anonimato, reunindo-se, na história, ao submundo sombrio dos psicopatas sádicos e doentes que servem como reserva de sabujos para o autoritarismo.  


Enquanto o menino croata que escapou do nazismo aos seis anos, para morrer nas mãos dos carrascos do país para o qual veio em busca de  dignidade e liberdade, continuará, agora, e  no futuro, como um símbolo e um poderoso marco do que existe de melhor no ser humano.  

13 de out. de 2015

O BRASIL E A REPÚBLICA DE SALÉM





(Jornal do Brasil) - O Ministro Teori Zavascki retirou da Operação Lava-Jato a investigação de questões relativas à Eletronuclear. 


O fez porque o caso envolve o senador Edson Lobão, que tem foro privilegiado.


Mas poderia tê-lo feito também devido a outros motivos. A Eletronuclear não possui instalações no Paraná, nem vínculos com a  Petrobras, e não se sustenta a tese, que quer dar a entender o Juiz Sérgio Moro, de que tudo, das investigações sobre o Ministério do Planejamento, relacionadas com a Ministra Gleise Hoffman, à Eletronuclear, Petrobras, hidrelétricas em construção na Amazônia, projetos da área de defesa, da indústria naval, e qualquer coisa que envolva a participação das maiores empresas do país em projetos e programas estratégicos para o desenvolvimento nacional, "é a mesma coisa" e culpa de uma "mesma organização criminosa", estabelecida, há alguns anos, com o deliberado intuito de tomar de assalto o país.


Pode-se tentar impingir esse tipo de fantasia conspiratória, reduzindo a oitava maior economia do mundo - que em 2002 não passava da décima-quarta posição - a um mero bordel de esquina invadido por uma maquiavélica e nefasta quadrilha de assaltantes, quando esse discurso se dirige para a minoria conservadora, golpista, manipulada e desinformada que pulula nos portais mais conservadores da internet brasileira e dá um trocado para a faxineira bater panela na varanda do apartamento, quando começa a doer-lhe a mão.
Mas essa tese não "cola" para qualquer pessoa que tenha um mínimo de informação de como funciona, infelizmente, o país, e sobre o que ocorreu com esta Nação nos últimos 20 anos.

Operação caracteristicamente midiática, alimentada a golpe de factoides, da pressão sobre empresas e empresários - até mesmo por meio de prisões desnecessárias, e, eventualmente, arbitrárias - e de duvidosas delações premiadas, a Lava-Jato, se não for rigorosamente enquadrada pelos limites da lei, se estabelecerá como uma nova República do Galeão, de Curitiba, ou de Salém.

Uma espécie de Quinto Poder, acima e além dos poderes basilares da República, com jurisdição sobre todos os segmentos da política, da economia e da sociedade brasileira, com um braço doutrinário voltado para obter a alteração da legislação, mormente no que diz respeito ao enfraquecimento das prerrogativas  constitucionais, entre elas a da prisão legal, da presunção de inocência,  da apresentação de provas, que precisa produzir, para uma parcela da mídia claramente seletiva e partidária, sempre uma nova "fase" - já lá se vão 19 - uma nova acusação, uma nova delação, para que continue a se manter em evidência e em funcionamento.

Tudo isso, para que não se perceba com clareza sua fragilidade jurídico-institucional, exposta na contradição entre a suposta existência de um escândalo gigantesco de centenas de bilhões de reais, como alardeado, na imprensa e na internet, aos quatro ventos, que se estenderia por todos os meandros do estado brasileiro, em contraposição da franca indigência de provas robustas e incontestáveis, reunidas até agora, e do dinheiro efetivamente recuperado, que não chega a três bilhões de reais - pouco mais do que o exigido, em devolução pela justiça, apenas no caso do metrô e dos trens da CPTM, de São Paulo.

Uma coisa é provar que dinheiro foi roubado,  nas estratosféricas proporções cochichadas  a jornalistas - ou aventadas em declarações do tipo "pode chegar" a tantos bilhões - dizendo em que contrato houve desvio, localizando os recursos  em determinada conta ou residência, mostrando com imagens de câmeras, ou registros de hotel, e listas de passageiros, que houve tal encontro entre corruptor e corrompido.

Outra, muito diferente, é, para justificar a ausência de corrupção nas proporções anunciadas todo o tempo, estabelecer aleatoriamente prejuízos "morais" de bilhões e bilhões de reais e nessa mesma proporção, multas punitivas, para dar satisfação à sociedade, enquanto, nesse processo, que se arrasta há meses, caminhando para o segundo  aniversário, se arrebenta com vastos setores da economia, interrompendo, destruindo, inviabilizando e transformando, aí, sim, em indiscutível prejuízo, centenas de bilhões de reais em programas e projetos estratégicos para o desenvolvimento e a própria  defesa nacional.  

Insustentável, juridicamente, a longo prazo, e superestimada em sua importância e resultados, a Operação Lava-Jato é perversa, para a Nação, porque se baseia em certas premissas que não possuem nenhuma sustentação na realidade.

A primeira, e a mais grave delas, é a que estabelece e defende, indiretamente, como sagrado pressuposto, que todo delator estaria falando a verdade.

Alega-se que os réus "premiados", depois de assinados os acordos, não se arriscariam a quebrar sua palavra com a  Justiça.

Ora, está aí o caso do Sr. Alberto Youssef, já praticamente indultado pelo mesmo juiz Moro no Caso do Banestado, da ordem de 60 bilhões de reais, para provar que o delator premiado não apenas pode falar o que convêm, acusando uns e livrando a cara de outros, como continuar delinquindo descaradamente - por não ter sido impedido de seguir nos mesmos crimes e atividades pela Justiça - até o ponto de, estranhamente, fazer jus a nova "delação premiada" mesmo tendo feito de palhaços a maioria dos brasileiros.

A segunda é a de se tentar induzir a sociedade - como faz o TCU no caso das "pedaladas fiscais", que vêm desde os tempos da conta única do Banco do Brasil - a acreditar que toda doação de campanha, quando se trata do PT, seria automaticamente oriunda de pagamento de propina de corrupção ao partido, e que, quando se trata de legendas de oposição - mesmo que ocupem governos que possuem contratos e obras com as mesmíssimas empresas da Lava-Jato - tratar-se-ia de doações  honestas, impolutas e desinteressadas.

Corrupção é corrupção. E doação de campanha é doação de campanha. Até porque as maiores empresas e bancos do país, que financiam gregos e troianos, o fazem por um motivo simples: como ainda não possuem tecnologia para construir uma máquina do tempo, nem para ler bolas de cristal,  elas não têm como adivinhar, antes da contagem dos votos, quem serão os partidos vitoriosos ou os candidatos eleitos em cada pleito.

Se existe suspeição de relação de causa e efeito entre financiamento de campanha e conquista de contratos, simples.

Em um extremo, regulamente-se o "lobby", com fiscalização, como existe nos Estados Unidos, ou, no outro, proíba-se definitivamente o financiamento empresarial de campanha por empresas privadas, como está defendendo o governo, e não querem aceitar os seus adversários.

O que não podem esperar, aqueles que escolheram, como tática, a criminalização da política, é que a abertura da Caixa de Pandora, ao menos institucionalmente, viesse a atingir apenas algumas legendas, ou determinados personagens, em suas consequências, como é o caso do financiamento privado de campanha. 


Vendida, por outro lado,  como sendo, supostamente, uma ação emblemática, um divisor de águas no sentido da impunidade e de se mandar um recado à sociedade de que o crime não compensa, a justiça produzida no âmbito da Operação Lava-Jato está, em seus resultados, fazendo exatamente o contrário.

Quem for analisar a última batelada de condenações, verá que, enquanto os delatores "premiados", descobertos com contas de dezenas de milhões de dólares no exterior, com as quais se locupletavam nababescamente, gastando à tripa forra,  são liberados até mesmo de  prisão domiciliar e vão ficar soltos, nos próximos anos, sem dormir nem um dia na cadeia, funcionários de partido que "receberam", em função de ocupar o cargo de tesoureiro,  doações absolutamente legais do ponto de vista jurídico, terão de passar bem mais que uma década presos  em regime fechado, mesmo que nunca tenham apresentado nenhum sinal de enriquecimento ilícito.

Com isso, bandidos contumazes, já beneficiados, no passado, pelo mesmo juiz, com acordos de delação premiada, que quebraram, ao voltar a delinquir, seus acordos feitos anteriormente com a Justiça,   ou que extorquiram empresas e roubaram a Petrobras, vão para o regime aberto ou semi-aberto durante dois ou três anos, para salvar as aparências, enquanto milhares de trabalhadores estão indo para o olho da rua, também porque essas mesmas empresas - no lugar de ter apenas seus eventuais culpados condenados - estão, como negócio, sendo perseguidas e ameaçadas com multas bilionárias, que extrapolam em muitas vezes os supostos prejuízos efetivamente comprovados até agora.

A mera ameaça dessas multas, com base nos mais variáveis pretextos, pairando, no contexto midiático, como uma Espada de Dámocles,  antes da conclusão das investigações, tem bastado para que a situação creditícia e institucional dessas companhias seja arrebentada nos mercados, e projetos sejam interrompidos, em um efeito cascata que se espalha por centenas de médios e pequenos fornecedores, promovendo um quase que definitivo, e cada vez mais irrecuperável desmonte da engenharia nacional, nas áreas de petróleo e gás, infraestrutura, indústria naval, indústria bélica, e de energia.

O Juiz Moro anda reclamando publicamente, assim como o Procurador Dallagnol - até mesmo no exterior - do "fatiamento" da Operação Lava-Jato.

Ora, não se pode criar uma fatia a partir de algo que não pertence ao bolo.

Inquéritos não podem ser abertos por determinada autoridade, se não pertencem à jurisdição dessa autoridade.

Continuar produzindo-os, sabendo-se que eventualmente serão requeridos ou redistribuídos pelo Supremo, faz com que pareçam estar sendo criados apenas com o intuito de servirem, ao serem eventualmente retirados do escopo da Lava-Jato, de "prova" da existência de uma suposta campanha, por parte do STF, destinada a dar fim ou a sabotar, aos olhos da opinião pública, o "trabalho" do Juiz Sérgio Moro e o de uma "operação" que se quer  cada vez mais onipresente e permanente nas manchetes e na vida nacional.      
Ao reclamar do suposto "fatiamento" da  Operação Lava-Jato, com a desculpa de eventual prejuízo das investigações, o Juiz Sérgio Moro parece estar tentando, da condição de "pop star" a que foi alçado por parte da mídia,  constranger e pressionar, temerariamente, o Supremo Tribunal Federal - já existe provocador falando, na internet, em resolver o "problema" do STF "a bala" - valendo-se da torcida e do apoio da parcela menos informada e mais manipulada da opinião pública brasileira.

Com a agravante de colocar em dúvida, aos olhos da população em geral, o caráter, imparcialidade e competência de seus pares de outras  esferas e regiões, como se ele, Sérgio Fernando Moro, tivesse surgido ontem nesta dimensão, de um puro raio de luz vindo do espaço,  sem nenhuma  ligação anterior com a realidade brasileira, para ser o líder inconteste de uma  Cruzada Moral e Reformadora Nacional - o único magistrado supostamente honesto, incorruptível  e comprometido com o combate ao crime desta República.      

1 de out. de 2015

OLHO VIVO! PRISÃO DE PMS NO RIO MOSTRA QUE CÂMERAS ESCONDIDAS PODEM SER A MELHOR ARMA CONTRA A VIOLÊNCIA.


(Jornal do Brasil) - A prisão de cinco policiais militares no Rio, após execução de um suspeito de 17 anos no Morro da providência, e de 5 também PMs em São Paulo, após outra execução, em pleno luz do dia, nas ruas do Butantã, ambas com a "plantação" de "velas" - armas apreendidas com numeração raspada - nas mãos das vítimas, para simular confronto, prova: contra a violência policial - e também a do tráfico - não existe remédio melhor do que câmeras de segurança escondidas. 

Mais barata do que qualquer campanha ou mobilização, uma simples webcam de 30 reais, ligada a um computador, camuflada em uma casa de pombo ou em uma antena de televisão no telhado, ou um aparelho de celular ligado, nas mãos de um usuário hábil, em uma fresta de janela, pode fazer mais do que dezenas de testemunhas para esclarecer um crime.   

As comunidades - e as organizações não governamentais e outras instituições de combate à violência, do Rio de Janeiro e de todo o país - deveriam se organizar coletivamente para coletar dinheiro e gastar o que fosse possível nesse tipo de aparelho, que acabariam servindo, ao longo do tempo, também para inibir a execução de novos crimes. 

Só assim  vai ser possível diminuir, a médio prazo, a impunidade e o genocídio derivado, entre outras coisas, da invasão ostensiva de áreas menos favorecidas das grandes cidades brasileiras, da cultura da aplicação sumária e ilegal da pena de morte contra suspeitos de crimes, e da guerra das drogas em nosso país - enquanto, neste último aspecto, a legislação não avança nesse sentido.