29 de set. de 2015

O BRASIL DEVE, MAS ESTÁ LONGE DE ESTAR QUEBRADO - A DÍVIDA PÚBLICA E A MANIPULAÇÃO MIDIÁTICA.




(Jornal do Brasil) - O Governo tem seus defeitos - entre eles uma tremenda incompetência  na divulgação da situação real do país - mas também tem suas virtudes.

A maior parte da imprensa está trombeteando, aos quatro ventos, o fato de que a dívida pública subiu 3,68% em agosto, para 2.68 trilhões. Por que não dar a informação  completa, e dizer que o Brasil deve essa quantia, mas tem quase um trilhão e meio de reais, 1.48 trilhões, a câmbio de hoje, em reservas internacionais em caixa?

Reservas internacionais de 370 bilhões de dólares, cujo valor, em moeda nacional aumenta - já que o negócio é divulgar grandes números - em contraposição ao que se deve em reais, a cada vez que o dólar sobe? 

Em um país normal seria também interessante lembrar - em benefício do leitor e da verdade - que a dívida líquida pública - que é o que o país verdadeiramente deve, descontando-se o que tem guardado - caiu em quase 50% nos últimos 13 anos, depois do fim do governo FHC, de mais de 60%, em dezembro de 2002, para aproximadamente 34% do PIB agora.

Para efeito comparativo, nos países desenvolvidos, essa dívida é quase três vezes maior, de mais de 80% em média. 

Quase da mesma forma que a dívida pública bruta, a única a que se dá destaque, que em países como o Japão, a Itália, os Estados Unidos, a França ou Inglaterra, duplica, ou é de quase o dobro da nossa.  

Essa é a realidade dos fatos que, hipócrita e descaradamente, não são levados em consideração, por sabotagem e outros interesses de ordem econômica e geopolítica,  por agências envolvidas com escândalos e multadas, em bilhões de dólares, por irregularidades, que, sem críticas ou questionamento,  são endeusadas e incensadas, interesseiramente,  pela mídia conservadora nacional,  como a Standard&Poors, por exemplo.


25 de set. de 2015

O PEREGRINO




(Jornal do Brasil) - O Papa Francisco teve uma semana movimentada. Passou por Cuba,  onde rezou em Havana, na Praça da Revolução, para dezenas de milhares de fiéis católicos, e visitou Holguin e Santiago, depois de se encontrar com Fidel Castro, a quem tratou com atenção e simpatia.


De lá, voou para os Estados Unidos, onde foi recebido por Barrack Obama, rezou em frente à Casa Branca, para uma multidão de fiéis, e discursou, durante uma hora, sendo várias vezes interrompido por aplausos, no Congresso norte-americano.


Falou também em Nova Iorque, no plenário das Nações Unidas, denunciando a "asfixia" imposta pelo sistema financeiro internacional, e no Marco Zero dfas Torres Gêmeas, reverenciando as vítimas do 11 de setembro, lembrando,  no entanto, ao lado de sacerdotes católicos, judeus e muçulmanos, que "a vida está sempre destinada a triunfar sobre os profetas da destruição", que devemos ser forças da reconciliação, da paz e da justiça", e que é preciso se "livrar dos sentimentos de ódio, vingança e rancor" para alcançar "a paz, neste mundo vasto que Deus nos deu como casa de todos e para todos."   


Não foi apenas pela proximidade geográfica que o Papa fez questão de ir a Cuba e aos EUA, em um único périplo.


Ao escolher visitar, praticamente ao mesmo tempo, o país mais bem armado do mundo, e a pequena ilha do Caribe, que sobrevive, há décadas, em frente à costa dos Estados Unidos, com um projeto alternativo, que não segue a cartilha do "American Way of Life", o Papa quis mostrar que não existem países mais importantes que os outros, e que todas as nações têm direito a buscar seu próprio caminho para o desenvolvimento, que pode estar simbolizado tanto por grandes foguetes e naves espaciais, como pela eliminação do analfabetismo, uma medicina de qualidade, o aumento da expectativa de vida de seus habitantes, ou um dos mais baixos índices de mortalidade infantil do mundo.   

 
É esse desejo, de paz na diversidade, tão presente na viagem do Papa, que fez com que Francisco tenha participado ativamente do processo de reaproximação diplomática entre os Estados Unidos e Cuba, concretizado com a recente reabertura da embaixada dos EUA, com a presença do Vice-presidente norte-americano, Joe Biden, em Havana.


O seu papel foi reconhecido em discurso, nos jardins da Casa Branca, pelo próprio presidente dos Estados Unidos, que agradeceu a contribuição do Papa nesses acordos, que representam  um dos momentos mais marcantes da história recente.


O Papa Francisco também está por trás - por seu reiterado e decidido apoio - de outro episódio inédito, de grande importância para o continente, ocorrido em Havana, apenas um dia após a sua partida: o aperto de mão, na presença do Presidente cubano Raul Castro como mediador,  entre o Presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, e o líder guerrilheiro e comandante das FARC - Forças Armadas Revolucionárias, Rodrigo Londoño, também conhecido como Timoshenko,  que sela a contagem regressiva para a conquista de uma paz definitiva, depois de mais de 50 anos de guerra civil, em um dos principais países latino-americanos.


É claro que os dois fatos - a reaproximação entre Cuba e os EUA e entre o governo colombiano e as FARC - não podem agradar aos babosos, ignorantes e hipócritas anticomunistas de sempre, que, movidos por outros interesses, como a permanente gigolagem de fantasmas da Guerra Fria, prefeririam ver os Estados Unidos tentando outra frustrada invasão da ilha, quem sabe armando grupelhos radicais de vetustos, obtusos e anacrônicos anticastristas de Miami, ou aumentando sua presença militar na Colômbia, transformando  aquela nação em uma espécie de Vietnam sul-americano.      


Daí, por isso, o ódio dos conservadores, fundamentalistas e tradicionalistas católicos contra Francisco, um latino-americano tão independente com relação aos EUA, que nunca tinha pisado o território norte-americano antes desta semana, e que, mesmo assim, teve a honra de ser primeiro pontífice a ser recebido e a falar diretamente, como líder estrangeiro de uma religião que não é a mais importante nos EUA, para dezenas de deputados e senadores, dentro  do edifício do Capitólio. 

 
Em um mundo em que países que alegam defender a democracia bombardeiam e destroem outras nações, metendo-se em seus assuntos internos, armando mercenários e terroristas para derrubar governos que consideram hostis, sem levar em conta o terrível balanço de suas ações, em mortes, torturas, estupros e na "produção" de milhões de refugiados; em que esses mesmos refugiados morrem sem ter para onde ir, em desertos, montanhas, fronteiras ou mares como o Mediterrâneo, e são recebidos, muitas vezes, a patadas por onde chegam, ou  mantidos em cercados disputando no braço um naco de pão para seus filhos, que a polícia lhes atira, com luvas de borracha, como se fossem cães; em que o egoísmo, o fascismo, a arrogância, o ódio, a hipocrisia, a mentira, renascem com renovada força, e muitos não tem mais vergonha de pregar o individualismo, o consumismo, uma pseudo "meritocracia" como doutrina a justificar a exclusão, na busca do enriquecimento individual e material a qualquer preço - como se o destino de cada um dependesse apenas de si mesmo, e em nada do meio que o cerca ou das forças terrenas que o governam, explorando-o ou enganando-o, de forma permanente, e a humanidade não fosse uma construção coletiva, fruto de centenas de gerações que nos antecederam - Francisco, que une no lugar de dividir, que ri, em vez de  fazer cara feia, que prega a paz e a solidariedade no lugar do ódio, da vingança e da cobiça, é um farol a iluminar o que resta de sensatez na espécie humana - uma bússola para indicar o caminho nestes tempos sombrios, em que as forças do ódio e do atraso insistem em tentar impedir que amanheça, neste novo século, um novo dia.


Que seu pontificado dure muitos e muitos anos, já que o mundo e a História poucas vezes precisaram tanto, diante de tanto preconceito e ignorância, de um Papa como ele à frente da Igreja Apostólica Romana. 


O diabo, se existir, deve estar espumando pela boca, e esbravejando impropérios  que só ele conhece, nos nove círculos do Inferno. 


De nada adiantou que tenha, eventualmente, tentado cardeais, ou soprado segredos e sortilégios no ouvido daqueles que votaram no último conclave.


Francisco está onde está - no lugar em que o Mal não queria ver, nunca, um homem como ele: 


À frente do Vaticano, no trono de São Pedro, com a Estola, o Anel do Pescador e o Báculo que o sustenta quando se move, com a certeza de que Deus caminha a seu lado, Peregrino da Paz, contra a insanidade do mundo.








     

21 de set. de 2015

FALTOU COMBINAR COM OS RUSSOS - OS EUA E A SITUAÇÃO NA SÍRIA.




(Carta Maior|) -Tendo aberto a Caixa de Pandora na Síria, ao tentar retirar esse país da área de influência de Moscou, armando terroristas islâmicos para derrubar o governo - aliado russo - de Bashar Al Assad, e depois de destruir, nessa tentativa, a nação que tem mais refugiados hoje espalhados pelo mundo, Washington reconhece agora que terá de negociar com Moscou por meio de "discussões táticas práticas", para evitar "erros de cálculo" que possam colocar os EUA e a Rússia em conflito no teatro de operações sírio.

Incapaz de colocar tropas no local - seu negócio é brincar com joysticks, bombardeando apenas algumas posições do Estado Islâmico, um inimigo que eles próprios criaram, no Iraque e na Síria, dois países que estavam estáveis e em paz antes das recentes, em termos históricos, intervenções dos EUA e de seus aliados - Washington diz que quer evitar que algum soldado russo - existem vários deles no país, sediados na base naval russa de Tartus e na base aérea síria de Latakia - seja inadvertidamente ferido por ações militares "ocidentais", dirigidas contra os terroristas do EI.

Na verdade, por trás das declarações norte-americanas - "queremos evitar problemas", afirmou o porta-voz do Pentágono, Peter Cook - está o reconhecimento tardio dos EUA, de três situações óbvias; 

Primeiro, a da tremenda imbecilidade estratégica que os Estados Unidos cometeram, ao incentivar e armar terroristas "islâmicos" para derrubar um governo leigo e estável, propiciando a destruição de todo um povo e o surgimento de um exército de psicopatas, assassinos e estupradores, que dificilmente será controlado nos próximos anos.

Em segundo lugar, a de que, sem o auxílio dos russos, combatendo ao lado de Bashar Al Assad, será impossível tentar ao menos enfraquecer o ISIS, ou EI, na frente síria, ou manter ali, ocupados, parte de seus combatentes, aliviando a pressão sobre outras frentes nas quais os Estados Unidos e a OTAN estão mais diretamente envolvidos, como a do Iraque.

E, em terceiro lugar, o reconhecimento do poder russo na Síria, como país sob influência direta de Moscou, que era justamente o que os EUA tentaram desafiar desde o início. 

Não teria sido mais fácil ter feito isso há três anos, antes de arrebentar com  toda a região, e de provocar a morte de centenas de milhares de homens, mulheres e crianças e o exílio forçado, na maior parte para campos de refugiados no meio do deserto, de - até agora - um terço da população síria?

Por outro lado, para não dar o braço a torcer, os EUA e a União Europeia anunciaram também, nesta semana, que estão pensando em "prorrogar" as sanções contra Moscou, para além de 2015.

Eles têm é que pesar as consequências, para, também por ali, não continuar atirando contra si mesmos, transformando o pé em uma peneira. O agravamento da situação na Rússia tem direta influência sobre a economia e as condições de vida na Ucrânia, que depende de Moscou, entre outras coisas, para não congelar no inverno como um imenso picolé, até a medula.

Como já lembramos antes, se houver um conflito de maior escala entre a Rússia e a Ucrânia, a União Europeia será invadida por nova onda de refugiados, ao Leste, diante da qual as "invasões bárbaras" de pobres emigrantes, vindos do Mediterrâneo, vão parecer - com o perdão da palavra - uma brincadeira.   

 

18 de set. de 2015

O GARROTE VIL DA CHANTAGEM E DOS JUROS



(Jornal do Brasil) - Pressionada, ainda antes de sua vitória nas urnas, pela oposição,  o discurso neoliberal de enxugamento do Estado, e pelos erros - em princípio bem intencionados - cometidos nas desonerações, durante seu primeiro mandato, a Presidente Dilma Roussef fez mal em trocar a equipe econômica, e, de olho nas agências internacionais de "qualificação", ter cedido à chantagem do "mercado", colocando banqueiros para cuidar da economia brasileira, seguindo a receita ortodoxa de mais juros e mais arrocho, sob o mal disfarçado rótulo de "ajuste".


O campo neoliberal, dogmático e entreguista, e o sistema financeiro internacional, decidido e determinado a fazer com que o Brasil se submeta novamente, de corpo inteiro, a seus ditames, hipócritas e autoritários, agem como o lobo no cerco ao pobre cordeiro da fábula de La Fontaine. 


De nada adiantou o Brasil ter abaixado a cabeça e tentado fazer o "dever de casa", comprometendo-se a promover o "ajuste" e aumentando os juros. O rebaixamento - sórdido e imbecil aplicado por uma empresa multada em mais de um bilhão de dólares por ter enganado investidores, profissional e moralmente descreditada no exterior, entre outras personalidades, pelo Prêmio Nobel de Economia, Paul Krugman, que já chamou de palhaços seus analistas - veio do mesmo jeito, no bojo da estratégia geral de paulatino, lento "sangramento" do atual governo, por meio da Standard & Poors.


Agora, segue o baile, com o país paralisado, por causa da previsão de um ridículo déficit de 30 bilhões de reais no orçamento, que poderia ser de 60 ou 90 bilhões, que ainda assim não chegaria sequer a 10% de nossas reservas internacionais e o governo continua deixando que a imprensa e a oposição, dentro e fora do Congresso, ditem a pauta nacional, apedrejando o "aumento" dos impostos sobre o "povo", de um lado, com a CPMF, ao mesmo tempo em que impedem, com a outra mão, o aumento da taxação sobre os bancos, que estão - vide seus lucros - deitando e rolando com o constante aumento dos juros, principalmente, os da taxa SELIC.


Ora, o que o governo tinha que fazer é dizer que vai tirar 10 ou 20 bilhões de dólares das reservas internacionais, de 370 bilhões de dólares, acumuladas nos últimos anos, para cobrir esse suposto "buraco", cuja importância a imprensa conservadora tem multiplicado, já que significa uma quantia simbólica perto do PIB de mais de 2 trilhões de dólares (no ano passado alcançou 2.345 trilhões de dólares).


Ele poderia também suspender a proposta de imposto sobre a CPMF - que a população acha, erroneamente, que vai sangrá-la, quando ele é quase simbólico e facilitaria o combate à sonegação e à lavagem de dinheiro -  taxando imediatamente os bancos, para aumentar a arrecadação, sem mexer no bolso do contribuinte, usando o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal para evitar a explosão das tarifas.


E colocar os empresários da área produtiva, a FIERJ e a FIESP, para conversar com o Banco Central (leia-se COPOM) para baixar, paulatinamente, os juros, aliviando a situação fiscal do governo e revertendo psicologicamente a percepção exagerada de crise e de recessão promovida pela mídia conservadora, já que a queda recente da inflação, principalmente de alimentos, permite isso.


Isso, sem mexer no câmbio, cuja trajetória vem valorizando as reservas internacionais com relação ao real, diminuindo a dívida líquida pública, e reativando setores industriais de uso intensivo de mão de obra, que estão voltando a exportar. 

Se o Brasil estivesse quebrado e sem saída, tudo bem. 

Mas temos mais de um trilhão de reais em dólares, as sextas maiores reservas do mundo, e somos, depois da China e do Japão, o terceiro maior credor individual externo dos Estados Unidos, números que - devido à proverbial incompetência do governo na área de comunicação, além da blindagem dos grandes meios de comunicação - continuam fora do alcance da percepção e do conhecimento da imensa maioria do povo brasileiro.    

Em uma situação de cruenta guerra política, e, principalmente, ideológica, como é o momento, com o avanço do fascismo nas ruas e na internet, não há, para qualquer governo, pior tática do que abandonar seus princípios para ceder paulatinamente à pressão do adversário, na esperança de que essa pressão se alivie. 

Até porque ela só tende a piorar cada vez mais, sadicamente - como o aperto implacável e constante, ininterrupto, do Garrote Vil, volta a volta do torniquete, no pescoço dos prisioneiros, pelas mãos dos carrascos na Espanha, nos tempos da ditadura de Franco.       

15 de set. de 2015

AO FIM E AO CABO, PRECISAMOS DE MAIS, NÃO DE MENOS.




(Do Blog) - Um absurdo a aprovação de um texto-base na Câmara dos Deputados cobrando impostos sobre serviços prestados via internet como o Netflix. O objetivo é proteger o virtual monopólio, que durou anos, das empresas de tv a cabo - que atuam, principalmente no jornalismo, como ponta de lança do discurso conservador e pró "ocidental" - e obrigar o consumidor a pagar mais por uma das opções que tinha para não ver sempre a mesma coisa por meses a fio, embora o conteúdo continue ainda assim a vir dos EUA em sua maioria. É por essas e por outras, que surgem cada vez mais sites piratas, ofertando filmes em português hospedados em servidores de fora do Brasil. E aí, como é que a turminha de sempre - que defende o monopólio, os bancos e os grandes grupos empresariais, principalmente estrangeiros - vai fazer? Vai querer cobrar impostos em terceiros países?


10 de set. de 2015

A MULA E OS VERMES




(RB) - O reerguimento despudorado da extrema direita em todo o mundo, como reação tardia à descolonização da África e da Ásia, à vitória de regimes nacionalistas e de esquerda na América Latina, à resistência de países como a Rússia contra o cerco ocidental, e ao fortalecimento dos BRICS, que estão criando um banco internacional de fomento que reúne alguns dos  principais credores dos EUA e um fundo de reservas no valor de 100 bilhões de dólares, tem sido pródigo em cenas dantescas e episódios emblemáticos, que poucos imaginariam possíveis, em sua sordidez e brutalidade, neste primeiro quarto do século XXI.        


Na Alemanha, dois neonazistas invadem uma cabine de trem, e, aos gritos de Heil Hitler!, depois de fazer a saudação nazista, urinam sobre uma imigrante e suas duas crianças pequenas.


Na Suécia, um imigrante romeno, cigano e sem teto, é atacado com ácido no rosto, enquanto dormia em um parque de Estocolmo.


Na Ucrânia e em vários países do leste do Velho Continente, os ciganos se encontram acossados, em seus próprios bairros, que tem sido invadidos por milícias racistas e fascistas.  


Na França e em outras nações, judeus de  classe média, profissionais liberais, artistas e empresários, fazem fila para emigrar para Israel, assustados com o recrudescimento de um virulento antissemitismo, por parte daqueles que também sempre atacaram árabes, negros e outras minorias.  


As ameaças de neonazistas ao Papa Francisco, às vésperas de sua viagem aos Estados Unidos,  e as cenas de uma cinegrafista, de emissora ligada ao partido de extrema direta Jobbik, dando coices, como uma mula ensandecida, em crianças de menos de dez anos, e derrubando com rasteiras pais desesperados, carregados de bebês, que tentavam escapar das agressões da polícia na fronteira da Hungria, sob aplausos, na internet, dos mesmos brasileiros - "Se alguém com coragem tivesse feito isso nos paus de arara que chegavam.em SPO (sic), hoje a cidade seria mais bonita e melhor pra se viver. Congratulations pra mocinha!" - que defendem também a ditadura, a tortura e assassinato por agentes do Estado, como no caso da chacina de Osasco, não são mais do que diferentes ângulos de um novo despertar: o do Fascismo, que emerge, por todos os lados, como uma  praga de vermes, favorecida por um mundo dominado, ainda, em sua maior parte, por um sistema baseado no egoísmo, no preconceito, na hipocrisia.


Um sistema que, no entanto,  se sente cada vez mais pressionado, e que é responsável pelas consequências e contradições que ele mesmo estabeleceu, ao longo dos últimos 500 anos, ao permitir organizar-se e crescer, e continuar se expandido, com base na mais impiedosa exploração de países por outros países, de povos por outros povos, de homens por outros homens, indefinidamente.           


Toda vez que o Capitalismo se sente ameaçado - já lembramos isso outras vezes aqui - ele abre a porta do canil e sai para passear com o Fascismo.


É preciso esmagar os vermes quando os ovos eclodem, para não ter que decepar, depois, uma a uma, as cabeças de seus exércitos de serpentes, como ocorreu na Primeira e na Segunda grandes guerras, ao custo de milhões de vítimas, civis e militares, nos campos de concentração e de extermínio, e também nos campos de batalha.  

5 de set. de 2015

O RESGATE NO MEDITERRÂNEO E O AMOR AO BRASIL



(Do Blog) - A caminho de Beirute onde irá substituir a Fragata União, como Nau Capitânea da esquadra naval  da ONU de bloqueio da entrada de armas no Líbano - a FTN-UNIFIL, sob comando brasileiro desde 2011 - a Corveta Barroso V-34 resgatou 220 refugiados que estavam à deriva no Mar Mediterrâneo, cerca da metade deles mulheres e crianças, salvando suas vidas e levando-as até o território italiano. 


Com 104 metros de comprimento e quase 1.800 toneladas de deslocamento e uma tripulação de aproximadamente 160 marinheiros e oficiais, a Corveta Barroso foi concluída em 2008, na metade do segundo mandato do Presidente Lula,  no contexto do renascimento e fortalecimento da indústria naval brasileira, e é o mais moderno navio já construído no Arsenal da Marinha do Rio de Janeiro, motivo de orgulho para a Marinha do Brasil - que tem sido atacada em sua honra neste momento por meio de comentários na internet - e um marco da capacidade de realização da nossa gente. 


Só resta uma pergunta: se foi o Brasil que realizou o resgate, mesmo estando em águas internacionais, não seria o caso de oferecer refúgio a essa gente (ao menos para aqueles que o aceitassem) providenciando seu futuro transporte e abrigo em nosso país? 


Seria interessante imaginar - em um tempo em que imbecis sugerem em portais e redes sociais que se entregue a Petrobras e a administração do Brasil aos norte-americanos - um desses bebês, depois de crescer e envelhecer em solo pátrio, relatando daqui a algumas décadas para seus netos, como a mão do destino o tornou brasileiro, ao ser salvo da morte, por brasileiros, em pleno oceano, poucos meses, ou semanas,  depois de nascer.






3 de set. de 2015

O PATO E A GALINHA



(Jornal do Brasil) - Embora não o admita - principalmente os países que participaram diretamente dessa sangrenta imbecilidade - a Europa de hoje, nunca antes sitiada por tantos estrangeiros, desde pelo menos os tempos da queda de Roma e das invasões bárbaras, não está colhendo mais do que plantou, ao secundar a política norte-americana de intervenção, no Oriente Médio e no Norte da África.


Não tivesse ajudado a invadir, destruir, vilipendiar, países como o Iraque, a Líbia, e a Síria; não tivesse equipado, com armas e veículos, por meio de suas agências de espionagem, os terroristas que deram origem ao Estado Islâmico, para que estes combatessem Kadafi e Bashar Al Assad, não tivesse ajudado a criar o gigantesco engodo da Primavera Árabe, prometendo paz, liberdade e prosperidade, a quem depois só se deu fome, destruição e guerra, estupros, doenças e morte, nas areias do deserto, entre as pedras das montanhas, no profundo e escuro túmulo das águas do Mediterrâneo, a Europa não estaria, agora, às voltas com a maior crise humanitária deste século, só comparável, na história recente, aos grandes deslocamentos humanos que ocorreram no fim da Segunda Guerra Mundial.


Lépidos e fagueiros, os Estados Unidos, os maiores responsáveis pela situação, sequer cogitam receber - e nisso deveriam estar sendo cobrados pelos europeus - parte das centenas de milhares de refugiados que criaram, com sua desastrada e estúpida doutrina de "guerra ao terror", de substituir, paradoxalmente, governos estáveis por terroristas, inaugurada pelo "pequeno" Bush, depois do controvertido atentado às Torres Gêmeas.


Depois que os imigrantes forem distribuídos, e se incrustarem, em guetos, ou forem - ao menos parte deles - integrados, em longo e doloroso processo, que deverá durar décadas, aos países que os acolherem, a Europa nunca mais será a mesma.


Por enquanto, continuarão chegando à suas fronteiras, desembarcando em suas praias, invadindo seus trens, escalando suas montanhas, todas as semanas, milhares de pessoas, que, cavando buracos, e enfrentando jatos de água, cassetetes e gás lacrimogêneo, não tendo mais bagagem que o seu sangue e o seu futuro, reunidos nos corpos de seus filhos, irão cobrar seu quinhão de esperança e de destino, e a sua parte da primavera, de um continente privilegiado, que para chegar aonde chegou, fartou-se de explorar as mais variadas regiões do mundo.


É cedo para dizer quais serão as consequências do Grande Êxodo. Pessoalmente, vemos toda miscigenação como bem-vinda, uma injeção de sangue novo em um continente conservador, demograficamente moribundo, e envelhecido.


Mas é difícil acreditar que uma nova Europa homogênea, solidária, universal e próspera, emergirá no futuro de tudo isso, quando os novos imigrantes chegam em momento de grande ascensão da extrema-direita e do fascismo, e neonazistas cercam e incendeiam, latindo urros hitleristas, abrigos com mulheres e crianças.


Se, no lugar de seguir os EUA, em sua política imperial em países agora devastados, como a Líbia e a Síria, ou sob disfarçadas ditaduras, como o Egito, a Europa tivesse aplicado o que gastou em armas no Norte da África e em lugares como o Afeganistão, investindo em fábricas nesses mesmos países ou em linhas de crédito que pudessem gerar empregos para os africanos antes que eles precisassem se lançar, desesperadamente, à travessia do Mediterrâneo, apostando na paz e não na guerra, o velho continente não estaria enfrentando os problemas que encara agora, o mar que o banha ao sul não estaria coalhado de cadáveres, e não existiria o Estado Islâmico.


Que isso sirva de lição a uma União Europeia que insiste, por meio da OTAN e nos foros multilaterais, em continuar sendo tropa auxiliar dos EUA na guerra e na diplomacia, para que os mesmos erros que se cometeram ao sul, não se repitam ao Leste, com o estímulo a um conflito com a Rússia pela Ucrânia, que pode provocar um novo êxodo maciço em uma segunda frente migratória, que irá multiplicar os problemas, o caos e os desafios que está enfrentando agora.


As desventuras das autoridades europeias, e o caos humanitário que se instala em suas cidades, em lugares como a Estação Keleti Pu, em Budapeste, e a entrada do Eurotúnel, na França, mostram que a História não tolera equívocos, principalmente quando estes se baseiam no preconceito e na arrogância, cobrando rapidamente a fatura daqueles que os cometeram.


Galinha que acompanha pato acaba morrendo afogada.


É isso que Bruxelas e a UE precisam aprender com relação a Washington e aos EUA.