26 de jun. de 2013

O XADREZ TRIANGULAR

               
        
(HD)-Que a administração de Hong Kong consultou a China sob que atitude tomar, no caso de Edward Snowden, e que a China tenha conversado com Moscou e com o Equador sobre o mesmo assunto, não há qualquer dúvida. 

Hong Kong é entidade internacional atípica, mas sob a soberania chinesa. Seus governantes sabem que sua ação diplomática está condicionada a Pequim. Assim, nada fariam com relação a Snowden sem instruções precisas do governo chinês. Os chineses e os russos, os principais alvos potenciais da espionagem eletrônica de Washington, seriam ineptos, se não estivessem em consulta permanente, desde que The Guardian e o Washington Post divulgaram a denúncia do técnico da Booz Allen, e ex-membro da CIA.
       Dessa forma, ao que tudo indica, eles estão agindo de forma coordenada no episódio, e decidiram manter o governo norte-americano em caldo de adrenalina. Esses dias e horas de mistério devem ter sido aproveitados para que Snowden desse detalhes da operação norte-americana.
       Os chineses, como de hábito, são mais discretos, sem deixar de lado a ironia. Tendo sido acusados, pouco antes da constrangedora deserção de Snowden, de entrar nos arquivos digitais americanos, tinham razões de sobra para a desforra diplomática. E mais sólidas ainda, diante das informações detalhadas do técnico sobre o monitoramento das comunicações e registros dos computadores chineses.
      Ao falar, ontem, na Finlândia, Putin foi claro: Snowden se encontra em lugar seguro no aeroporto de Moscou, mas não atravessou a fronteira. Ele é um homem livre, conforme o líder russo, e poderá decidir o seu destino. Os russos esperam que a decisão seja tomada rapidamente, o que será melhor para Moscou e para o próprio fugitivo. Mas, apesar desse desejo de urgência, Putin disse que, não tendo a Federação Russa qualquer tratado de extradição com os Estados Unidos, não tem por que entregar o rapaz a Washington.
    Ao mesmo tempo o Equador informa que está examinando o pedido de asilo formulado por Snowden, a conselho de Assange, refugiado na embaixada de Quito em Londres. Washington mudou o tom de suas exigências. Há algumas horas, Kerry ameaçava diretamente a China e a Rússia de conseqüências em suas relações com os Estados Unidos. O que podem fazer? Os chineses são os maiores credores mundiais dos norte-americanos. Os russos não têm mais o poder soviético, mas não se encontram frágeis. E chineses e russos estão fora da chantagem nuclear de Washington: cada um deles já dispõe de bombas e mísseis capazes de destruir as grandes cidades ocidentais.
    A leitura dos comentários de leitores dos grandes jornais americanos sobre o escândalo do grampeamento mundial das telecomunicações mostra que o governo de Obama está despencando ladeira abaixo. A maioria deles é simpática a Snowden.
        
        

                       

25 de jun. de 2013

O JOIO, O TRIGO E A RAZÃO.

       
       (JB)-A situação criada com as numerosas manifestações, no Brasil, nas últimas semanas, não se resolverá com a reunião realizada ontem em Brasília, da Presidente Dilma Roussef, com governadores e prefeitos de todo o país - embora o encontro seja um importante passo para atender às reivindicações dos que foram às ruas.
       Seria fácil enfrentar a questão, se as pessoas que vêm bloqueando avenidas e rodovias - levantando cartazes com todo o tipo de queixas - fossem apenas multidão bem intencionada de brasileiros, lutando por um país melhor.
      A Polícia Civil de Minas Gerais já descobriu que bandidos mascarados, provavelmente pagos, recrutados em outros estados, têm percorrido o país no rastro dos jogos da Copa das Confederações, provocando as forças de segurança, a fim de estabelecer o caos.
     Mensagens oriundas de outros países, em inglês,  já foram identificadas na internet, como parte da estratégia que deu origem às manifestações.  
     É preciso separar o joio do trigo. Além do Movimento Passe Livre, com sua postulação clara e legítima, há cidadãos que ocupam as ruas, com suas famílias, para manifestar  repúdio à PEC-37, que limita o poder do Ministério Público, ou para exigir melhoria na saúde e na educação.
      E há outros que pedem a cabeça dos “políticos”, como se eles não tivessem sido legitimamente eleitos pelo voto dos brasileiros. Esses pregam a queda das instituições,  atacam a polícia e depredam prédios públicos, provavelmente com o intuito de gerar material para os correspondentes e agências internacionais, e ajudar a desconstruir a imagem do país no exterior.
      O aumento brusco do dólar, a queda nos investimentos  internacionais, a diminuição do fluxo de turistas em eventos que estamos sediando, como a visita do Papa, a Copa e as Olimpíadas, não prejudicará só o Governo Federal, mas também as oposições, que governam alguns dos maiores estados e cidades do país, e  dependem da economia para bem concluir os seus mandatos.
     Os radicais antidemocráticos  se infiltram, às centenas, no meio das manifestações e nas redes sociais, para pregar o ódio irrestrito à atividade política, aos partidos e aos homens públicos, e a queda das instituições republicanas. Eles não fazem distinção, posto que movidos pela estupidez, pelo ódio e pela ignorância,  entre situação e oposição, entre esse ou aquele líder ou partido.
       Eles apostam no caos que desejam. Querem ver o circo pegar fogo para, depois, se refestelarem com as cinzas. Não têm a menor preocupação com o futuro da Nação ou com o destino das pessoas a que incitam à violência agora. Agem como os grupos de assalto nazistas, ou os fascistas italianos, que atacavam a polícia e os partidos democráticos nas manifestações, para depois impor a ordem dos massacres, da tortura, dos campos de extermínio, dos assassinatos políticos, como o de Matteotti.
         Acreditar que o que está ocorrendo hoje pode beneficiar a um ou ao outro lado do espectro político é ingenuidade. No meio do caminho, como mostra a História,  pode surgir um aventureiro qualquer. Conhecemos  outros “salvadores da pátria”  que atacavam os “políticos”, e trouxeram a corrupção, o sangue, o luto, a miséria e o retrocesso ao mundo.
      O encontro de ontem entre a Chefe de Estado, membros de seu governo e os governadores dos Estados é o primeiro passo em busca de um pacto de união nacional em defesa do regime democrático, republicano e federativo. A presidente propôs consultar a população e a convocação de nova assembléia constituinte a fim de discutir, a fundo, a reforma política, que poderá, conforme as circunstâncias, alterar as estruturas do Estado, sem prejudicar a sua natureza democrática.
      É, assim, um entendimento que extrapola a mera questão administrativa - de resposta às reivindicações dos cidadãos honestos que marcham pelas ruas - para atingir o cerne da questão, que é política.  Há outras formas de ação da cidadania a fim de manifestar suas idéias e obter as mudanças. A proposta popular de  emenda constitucional, como no caso da Ficha Limpa. Cem mil pessoas que participam de uma manifestação, podem levantar 500 mil assinaturas em uma semana, a fim de levar ao Congresso uma proposta legislativa.
  Não é preciso brincar com fogo para melhorar o país.

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24 de jun. de 2013

A CAIXA DE PANDORA


As manifestações que tomaram as ruas de todo o país nas últimas semanas começaram de forma legítima e democrática, convocadas por uma organização conhecida, que existe há muito tempo, e que há muitos anos defende a mesma bandeira, acompanhada de outras organizações, muitas delas situadas à esquerda do espectro político.

     O caráter apartidário do Movimento Passe Livre, o êxito da mobilização, a pauta relativamente aberta de reivindicações, foram logo vistos pela extrema direita como  oportunidade  para infiltrar, diretamente e pela internet, suas ideias no movimento, como o “Acorda Brasil”,  adaptação direta do  Deutschland  Erwacht! do nazismo, atribuído a Goebbels.

     Passou-se a incitar o ódio aos  políticos, o desprezo pelas instituições, com a intenção de  desacreditar a imagem do país no exterior, e de atingir a governabilidade e a economia.

     Em um primeiro momento, alguns setores da oposição democrática,  inseridos no sistema político normal,  podem ter sido atraídos  pelo movimento que exibia cartazes pedindo o impeachment da Presidente Dilma,  sem ver outros,  mais numerosos, pedindo indiscriminadamente a cabeça dos políticos e tachando-os, todos, de ladrões e corruptos.

      Outros membros da oposição também  se sentiram certamente acuados,  ao se verem cercados no Congresso, ou em cidades e estados governados por seus partidos, por milhares de pessoas e por grupos armados de paus, pedras e fogo.

     O que estamos vendo, resguardados os manifestantes comuns, é o vir à luz de um frankenstein político que, em nome da liberdade de manifestação, ataca, com bandidos   mascarados, instituições nacionais e militantes do PT, do PSTU, e do  PSDB,  quando estes ousam sair às ruas.

      A tentação de dançar com o diabo, mesmo que por parte de uma minoria, é perigosa e enganadora. Muitos daqueles que apostaram no caos em 1964, pensando que ascenderiam ao poder - como Carlos Lacerda -  terminaram cassados e humilhados pela Ditadura.

      Apesar do recuo das autoridades na questão do preço das passagens, continuam as manifestações, agora com a intenção deliberada de paralisar as capitais, como mostram as manobras sincronizadas de interrupção do tráfego em diferentes pontos, como aconteceu em São Paulo no início da semana.

     Essa vertente fascista vem estendendo paulatinamente o seu controle, indireta e insidiosamente, sobre centenas de pessoas inocentes e bem intencionadas, e não se descarta a possibilidade de que estejam sendo pagos os vândalos que promovem quebra-quebraS e desatam sua fúria diante das câmeras da imprensa internacional.

    É contra esses inimigos ocultos da  democracia que as instituições, os homens públicos e os cidadãos, quaisquer sejam seus partidos, têm que se unir –  e agora. 

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23 de jun. de 2013

ESTÓRIA DE DOMINGO - PASTAGEM DE MUSGOS

                         
O veranico de janeiro de 1947 entrou por fevereiro   a dentro,   e já chegava a março, estreitando o rio e fazendo os bichos morrerem secos. Os peixes punham a  cabeça para fora, e na barra do Cuieté foram vistos surubis fugindo das águas quentes e rasas do Doce para se resfriarem debaixo de umas barrigudas do barranco, a boca aberta, como cães exaustos.  Levindo, que me contou a história, acrescentou-lhe seus pontos. De tal maneira se condoeu dos peixes, amontoados ali, resfolegantes à sombra das barrigudas de copas espessas e arredondadas, que buscou no poço adiante uma gamelada de água profunda e fria para aliviar-lhes as guelras.
                    Seca repentina e braba. Zimbo, balseiro de Galiléia, definiu de seu jeito a calamidade, dizendo que era o oco de uma tromba d'água. Como eu não entendesse o que ele queria com aquilo, esclareceu que, tendo todas as coisas seu oco, ou seu lugar para ser no mundo, devera haver um engano da natureza que, em lugar de mandar a tempestade, mandara só o seu vazio, ou a sua precisão.
                   "Se continuar assim, vai chover brasa do sol", era o que eu ouvia do sobredito Levindo. Para isso faltava pouco. Na porteira dos Alvarenga encontrei um monte de borboletas mortas, com as asas estorricadas. Poucos pássaros voavam, e eram sempre os miúdos, de robusta paciência, como os beija-flores. Os moradores não fugiram porque, sendo ali geografia chuvosa, tinham fé nas águas de 19 de março, dia de  São José, também chamadas de março e das goiabas; era só esperar mais algumas semanas e, de fato, tendo em vista a sábia observação do balseiro, chegavam águas de encher o oco e atender à precisão. Até lá iam buscar nas cacimbas, dentro das grotas, águas embranquiçadas pela argila do fundo e a viver do ajuntado antes. Mas estavam perdidas as safras: as espigas murchavam, os grãos de milho morriam antes de granar e os feijoais empardeciam. A tragédia mais forte estava nas matas maiores, ao norte, entre o Suaçuí e o São Mateus. Ali os jequitibás vergavam, o âmago anêmico, as seivas engrossando e granulando, as folhas despencadas.                   Enlouqueciam-se os insetos, bons e maus: colunas de mandruvás desciam, os bichinhos trôpegos, para pastar musgos, que guardavam a velha umidade no lado da sombra das rochas.
                   Cercado pela seca, eu procurava os caminhos de fuga: tentava alcançar a Rio-Bahia, quando cheguei à antiga fazenda do Dr. Marques. O curral, feito em peças de boa aroeira, tinha as vigas rachadas pelo sol. De longe vi ali bichos, mas não os distingui até abrir a porteira. Lá estavam, tiritantes de febres, macacos de variadas clãs. Não saltavam, alvoroçados, como é de seu natural viver. Isolavam-se por famílias, em seus cantos.
                  Jesuíno, que fiquei conhecendo naquela hora, havia sido enfermeiro da Estada de Ferro Bahia-Minas e resolvera cuidar dos macacos enfermos. “Com a desgraça da estiagem, os mosquitos da maleita ficaram loucos. Enxames deles picaram todos os bichos da mata, mas só os macacos ficaram infestados” – contou-me. Estava ali fazendo sua caridade. “Na farmácia da fazenda eu achei muitos comprimidos de aralém. Estou sapecando o remédio na macacada. No princípio foi difícil: eles não queriam engolir o remédio. Agora, quer ver?” indagou, puxando-me para um guariba que meditava, na posição que Rodin deu a seu Pensador. O macaco espichou a mão para recolher o comprimido. “Você não dá água para ajudar a engolir?” – perguntei, galhofo. “Isso ai já ia ser luxo”, respondeu, sério.
Os macacos são bichos assustados. Segundo Jesuíno, são os únicos, fora os homens, que devem ter consciência da morte. Quando a malária apertou, muitos correram para a fazenda, mas outros não tiveram força.

                   “Você quer ver uma coisa? Vamos ali adiante”. No morrinho, agarrados às árvores, havia vários micos mumificados. A terçã os fulminara, abraçados aos galhos. O lugar, desde aquele tempo, tem o nome de “Macaco Seco”.

22 de jun. de 2013

AS MASSAS E AS RUAS

(JB)-A máscara de Guy Fawkes, o conspirador católico inglês que queria atear fogo ao Parlamento, no início do século 17, tem sido usada, por equívoco, pelos manifestantes de nossos dias. Embora hoje símbolo do grupo Anonymous e tendo aparecido como ponto comum em manifestações em todo o mundo, o malogrado rebelde, que, semienforcado e, ainda consciente, teve sua genitália cortada antes de ser eventrado e  suas vísceras fervidas, para então ser esquartejado, sabia o que desejava. Sob a influência dos jesuítas, o complô, de que participava, queria uma Inglaterra católica. Seu mérito pessoal foi o de, sob tortura — que só o rei James I podia, então, autorizar, e autorizou — proteger, até o limite do sofrimento, os seus cúmplices. Instrumento de intrigas internacionais de seu tempo, que envolviam a Espanha e a Áustria — países católicos — e se valiam de dissidentes ingleses,  Fawkes é objeto de chacota em 5 de novembro de cada ano, quando se celebra a sua desdita em pequeno Carnaval nas ruas de Londres. Os vencedores escrevem a História, e a Inglaterra é, em sua esmagadora maioria, protestante até hoje.

E os que, agora, se manifestam no mundo inteiro? O que pretendem? Aparentemente, se revoltam contra o sistema econômico neoliberal, a corrupção e a inépcia dos governantes, que se refletem na desigualdade social. É também dessa forma que se identificam os manifestantes norte-americanos: a rebelião dos 99% espoliados, contra 1%, que são os espoliadores.

A maioria se revolta contra o sistema econômico neoliberal, a corrupção e a inépcia dos governantes
Há uma razão de fundo nessa identificação, uma vez que o homem, sendo produtor e consumidor de bens, é um ser econômico. Mas seria reduzir as dimensões do problema examiná-lo apenas a partir dos números, relativos ou absolutos. O homem pode ser, como diziam os gregos, a medida de todas as coisas, mas não pode ser medido por nenhuma coisa.

Como ser histórico, é o criador de si mesmo. É, no jogo dialético com a natureza, que ele se fez e se faz. A sua melhor definição é a de Aristóteles: é um animal político. Foi político antes mesmo que houvesse a polis: boas ou más, as regras do convívio, exigidas pela necessidade da sobrevivência, já eram políticas — antes dessa definição pelo léxico grego.

Em razão disso, todos os livros da Antiguidade, neles incluídos os sagrados, são, no fundo, manuais políticos. Tudo é política e, acima de tudo, é política a presumida negação da política.

Nos atualíssimos dias o confronto é nítido entre o capital financeiro,  que pretende controlar tudo — mediante as autoridades governamentais, que escolhem com o financiamento das eleições — e os cidadãos. Autoridade e cidadão, mesmo nos regimes democráticos mais evoluídos, são categorias que se contrastam. Os eleitores nomeiam as autoridades, mas o mandato não é, nem pode ser, imperativo. Imperativas são as circunstâncias que separam o sentimento do eleitor, no momento do voto, do comportamento de seu mandatário, quando no Poder Legislativo e no Poder Executivo.

O carisma de alguns governantes ameniza essa discórdia, justificando o governante diante de seus prosélitos, em nome, valha a recorrência, do peso ou da ditadura das circunstâncias.

Não há dúvida de que passamos por um tempo de desalentadora mediocridade no governo dos estados nacionais. O carisma de alguns líderes — e este é o caso, entre outros, do presidente Barack Obama — tem prazo de validade, como certos alimentos industriais. Em alguns meses, como estamos vendo no caso de Hollande, na França, o entusiasmo fenece — e é substituído, num primeiro momento, pela decepção.

Nos sistemas presidencialistas puros, e onde há o instituto da reeleição, o segundo mandato não tem a solidez do primeiro. Se o governante não for extremamente hábil, corre o risco de se transformar em um lame duck, um pato claudicante sobre os charcos escorregadios.

A renúncia dos eleitos em assumir sua plena responsabilidade de garantir o bem-estar  e a independência das sociedades nacionais abriram caminho para que o neoliberalismo corroesse, até os alicerces, a autonomia dos dirigentes políticos. O início da curva histórica ocorreu  a partir do conluio estabelecido, nos anos 80, entre Reagan, Thatcher e Wojtila, com a cooptação de Gorbatchev — hoje conhecido em seus detalhes,  constrangedores.

Os legisladores e governantes foram transmudados em simples marionetes dos donos do capital, que dominam o mundo. Esses têm, em suas mãos, os maiores bancos, e, mediante eles, ou diretamente, as maiores empresas transnacionais do mundo. Os bancos e essas corporações controlam todos os recursos naturais e ditam os rumos da economia mundial.

Os legisladores e governantes foram transmudados em simples marionetes dos donos do capital Seu domínio vai ao ponto de provocar a  fome de alguns povos, por meio do controle dos alimentos — da produção dos fertilizantes, do uso da água, da fixação dos preços, pelo mercado de futuros, a estocagem e a especulação — dos cultivos até a prateleira dos supermercados. Isso sem falar nos minerais, do ferro ao nióbio, do urânio a terras raras.


As manifestações revelam a inadaptação da vida humana aos módulos impostos pela sociedade de produção e consumo, agravadas pela crise histórica da contemporaneidade. Elas pedem e anunciam uma nova forma de convívio — mas qual?


Estamos diante de uma nova fase da rebelião das massas, já examinadas com precisão por Ortega y Gasset, e Elias  Canneti, em “Masse und Macht”,  e hoje mobilizáveis em instantes pelos meios eletrônicos que pretendem controlá-las.

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21 de jun. de 2013

UM ESTADO POLICIAL

(Carta Maior) - A violência da polícia, na repressão aos protestos contra o aumento das tarifas de ônibus, em São Paulo, no Rio e em Niterói, deve ser vista além dos episódios em si mesmos. Estamos nos tornando um estado policial, sem que haja uma reação coordenada de defesa da cidadania. É provável que os governadores de São Paulo e do Rio de Janeiro estejam perdendo o controle de seu sistema de segurança, o que é grave; mas também é possível que eles tenham estimulado a caça indiscriminada aos manifestantes – e isso é alarmante.
        Argumenta-se que o aumento anunciado – de apenas vinte centavos – é irrisório e não justificaria a reação popular. Os mais vividos se recordam que quebra-quebras promovidos pelos estudantes – aos quais se somavam os transeuntes disponíveis – sempre houve no passado. Não só se protestava contra o aumento dos transportes coletivos, como, também, contra o aumento dos ingressos cinematográficos. Isso sem esquecer as costumeiras passeatas contra o alto custo de vida, que se faziam sob a percussão de garfos e facas contra panelas vazias.
       Um dos símbolos da imprensa alternativa, o Binômio, de Belo Horizonte, que seria depredado por militares na antevéspera do golpe de 1964, nasceu como protesto contra a violência da polícia de Minas  – e em pleno governo democrático de Juscelino, em 1953. Os estudantes de Belo Horizonte se amotinaram contra o aumento dos cinemas, quase todos pertencentes a um só homem, e foram golpeados pelos longos porretes dos soldados da cavalaria. Diante da reação policial – e de nenhum protesto dos jornais – os jornalistas José Maria Rabelo e Euro Luis Arantes decidiram editar o jornal em que se reunia o humor crítico aos textos pesados e mais pensados.
       Mas a violência, no passado, tinha os limites dos cassetetes e das chamadas bombas de efeito moral. Mais ainda: a polícia evitava golpear quem não estivesse praticando atos de vandalismo – e os jornalistas eram sempre respeitados. Nos incidentes dos últimos dias, os jornalistas foram os alvos preferenciais da repressão, e há uma razão: eles são testemunhas públicas da violência. Vários companheiros nossos foram vítimas de empurrões, pescoções, jatos de pimenta nos olhos, bombas de gás lacrimogêneo endereçadas, porretadas e balas de borracha no rosto. Um deles, fotógrafo, atingido em um dos olhos, provavelmente terá sua visão reduzida à metade.
       Estamos assistindo a uma perigosíssima associação entre as forças policiais e a extrema direita de caráter fascista no mundo inteiro – o que merece uma análise mais ampla. Mas, no caso brasileiro, parece haver interesse calculado em criar um ambiente de pânico na população, que sempre favorece os golpistas. Todos os testemunhos são os de que as pessoas se manifestavam pacificamente, quando a polícia tomou a iniciativa do ataque.
       O governo federal considerou exagerada a repressão nos dois estados. Isso explica por que não houve excesso na contenção dos manifestantes contra os gastos da Copa do Mundo, na abertura dos jogos da Copa das Confederações, no estádio Mané Garrincha. A polícia do Distrito Federal é paga com recursos da União.


Há políticos em governos que esperam dividendos eleitorais por sua tolerância com a brutalidade de seus subordinados policiais. No entanto, eles correm o risco de serem vítimas eventuais da mesma estupidez. Os governadores Geraldo Alckmin e Sérgio Cabral devem retomar as rédeas de suas corporações militares, antes que elas recusem qualquer freio. A mesma discussão, guardadas as devidas proporções, se estende à polícia civil, com a PEC-37.

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O BRASIL E AS PRIVATIZAÇÕES PORTUGUESAS

     
       (HD)- A viagem da Presidente Dilma Roussef a Portugal, na semana passada, em visita de Estado, para retomar as relações com aquele país, trouxe à tona, entre outros aspectos,  a questão dos investimentos brasileiros em Portugal e de Portugal no Brasil.
      Nos anos 90, várias empresas portuguesas, entre elas algumas estatais, entraram no mercado brasileiro, aproveitando o programa de privatizações. Agora, o governo português, tolhido pela crise, prepara-se para colocar à venda várias  de suas empresas,  e a participação acionária em algumas que já se encontram sob controle de  investidores privados. Em Portugal, a imprensa especula  a possibilidade de que capitais brasileiros venham a participar desse processo.
        A opinião pública portuguesa, no entanto, e parte da classe política, preferiria, como se pode ver pelos comentários na internet, que essas empresas fossem vendidas para empresas européias, e não para firmas de ex-colônias, como o Brasil e Angola, que agora estão em melhor situação financeira, como é o caso de Brasil e Angola. 
       Nos últimos tempos,  o governo de Portugal tem feito pressão, diversas vezes, para impedir a compra de empresas portuguesas por grupos brasileiros. Isso ocorreu com a Portucel – Celulose de Portugal e, para impor uma série de controles e regulamentos a empresários brasileiros que adquiram empresas portuguesas, como a CIMPOR- Cimentos de Portugal.
        Entre outras empresas, neste momento, a Azul Linhas Aéreas está se movimentando para entrar no capital da TAP – Transportes Aéreos Portugueses, em parceria com o BNDES, e vem encontrando dificuldades.
       As relações entre países, assim como  entre as pessoas, sempre deveriam estar sob a obrigação da reciprocidade.  Há, hoje, no Brasil, capitais portugueses em fase de consolidação, em vários setores da atividade econômica. 
      Convém  dedicar atenção à atitude do governo lusitano com relação à entrada de empresas brasileiras naquele mercado, e agir em consonância,  dentro do nosso próprio mercado.
    Nesse aspecto, Portugal não é um caso isolado. O mesmo se passa com a Espanha,  a França,  os Estados Unidos, a Alemanha, e o Japão, que também investem no mercado brasileiro. É preciso que todos esses investimentos se façam com base nos princípios de  reciprocidade. Ainda que não tenhamos interesse em investir no Exterior, as regras devem ser as mesmas, tanto em um sentido, quanto no outro.
      Embora se fale muito em livre mercado, todo país tem seus próprios interesses. Se não podemos fazer com que os nossos prevaleçam sempre, pelo menos podemos lutar para que haja um mínimo de equilíbrio, a fim de que os interesses de outras nações não se sobreponham sempre aos nossos, como vem ocorrendo com freqüência.


18 de jun. de 2013

OS VENTOS ENLOUQUECIDOS

(JB)-Em um dos mais belos poemas da nossa antiga e desprezada Língua Pátria, Joaquim Cardozo reúne, em uma várzea do Capibaribe, todos os ventos do mundo. Os alísios, em sua anárquica natureza e rota, chegam do Equador, viajando clandestinos em um transatlântico. 
           Os ventos do grande engenheiro e poeta se queixam, em seu congresso, do abandono em que se encontram, agora, solitários, vagando sobre  todos os quadrantes. Vagando sobre todos os quadrantes se encontram os ventos amotinados em ciclones, furacões, tornados e tufões políticos. Anteontem, em Brasília, o chanceler Serguei Lavrov aprovou a presença do Brasil na conferência internacional que deve reunir-se para discutir a situação na Síria. Se a Rússia, os Estados Unidos e a China não se entenderem logo sobre o tema, irão agravar-se, e de forma perigosa, as tensões internacionais.
           Os Estados Unidos se encontram em situação constrangedora, que limita os movimentos diplomáticos, mas excita as glândulas agressivas de seu complexo industrial-militar, denunciado por Eisenhower, o mais prudente chefe de Estado norte-americano, depois da Segunda Guerra Mundial. O general Eisenhower, comandante-em-chefe das tropas aliadas conhecia de perto a realidade internacional e a verdadeira crônica do conflito - em que se destacara a União Soviética - de forma a avaliar, com precisão, os riscos do envolvimento cada vez maior de seu país no jogo internacional do poder.
          As revelações de Snowden são muito mais graves do que as de Manning. Os telegramas diplomáticos trocados entre as missões americanas, no mundo, e o Departamento de Estado (divulgados por Assange), revelavam  seu juízo desprezível sobre personalidades importantes dos governos “amigos” e o uso de intrigas que favoreciam a influência internacional de Washington.
       Snowden denuncia o monitoramento das comunicações eletrônicas internacionais, com o conluio das empresas privadas que operam o sistema, como é o caso do Google, do Facebook, da Yahoo, e de outras. Trata-se de uma agressão ao mundo inteiro.
      A reação de alguns países europeus mostra que os Estados Unidos podem manter e, eventualmente, empregar todo o seu imenso poder militar, mas estão perdendo o respeito da Humanidade. Eles sempre poderão contar com a vassalagem de algumas nações, seja pela cumplicidade histórica, como é o caso do Reino Unido e da Espanha, seja pelo medo, mas isso não basta para impor ao planeta a sua vontade.
      Além de a União Européia manifestar a sua preocupação, a chanceler Ângela Merkel declarou que vai conversar sobre o assunto com Obama, que visitará Berlim quarta feira.  Peter Schaar, especialista em internet, resumiu: “o problema é que nós europeus não estamos protegidos. A lei americana só protege americanos”.
       Na mesma linha se pronunciaram Joerg-Uwe Hahn, secretário de Justiça do land de Hesse e Sabine Leutheusser, ministra da Justiça, em artigo publicado em Der Spiegel, diz que a vigilância americana é profundamente desconcertante e potencialmente perigosa. “Quanto mais uma sociedade monitora, controla e observa seus cidadãos, menos livre ela é” – acrescentou.
        Embora os meios ocidentais de comunicação prevejam que Beijing entregará o jovem a Washington, para não perturbar o relacionamento amistoso entre os dois países, o silêncio do governo mantém a dúvida. Se, na opinião pública mundial, a provável proteção ao rapaz favorecerá a China, a eventual entrega do funcionário da Booz Allen – outro herói na prisão - seria  enorme presente de grego, imenso cavalo de Tróia.
       O processo contra o técnico – não sujeito à severidade excessiva dos códigos militares – poderá estimular outros vazamentos públicos, em uma comunidade de segurança que envolve milhares de civis.
       Isso significaria uma rebelião declarada contra o sistema, muito mais grave do que a inconfidência que atinja só o governo Obama. Enquanto isso, os chineses, que são mestres nesse tipo de jogo, devem divertir-se com o suspense. E Washington, ao que parece, hesita em pedir a extradição e pagar o preço de novo embaraço diplomático.
       Os Estados Unidos, ao contrário de Camões, que ali se achou, ainda se encontram perdidos “sóbolos rios da Babilônia”, no Iraque e em seus arredores. De lá saem sem glória, carregando um passivo de centenas de milhares de mortos, também com milhares de seus próprios soldados mortos ou inválidos no corpo e na alma,  em 10 anos de guerra limitada e mais dez anos de guerra aberta.

OS CONCURSOS E O INTERESSE PÚBLICO



(HD)-A anulação do concurso da ANVISA do dia 2 de junho, a que se submeteram mais de 120.000 candidatos, devido a problemas operacionais e suspeita de vazamento - nas provas aplicadas na Bahia, no Distrito Federal, em Alagoas e no Rio de Janeiro - levou a agência a marcar uma nova data para o evento, provavelmente para o mês de agosto.

       Contrariando o bom senso, a empresa escolhida para realizar o novo concurso é a mesma. A  ANVISA afirma  que a substituição da empresa exigiria  refazer todas as fases do concurso, também as inscrições. 
A única medida da ANVISA foi pedir à Polícia Federal que investigue as “falhas” ocorridas, e monitore os novos exames.

       Nos últimos anos, problemas de vazamento de provas, de suspeita de comercialização de resultados, de favorecimento de candidatos, têm sido mais regra que exceção em nosso país.

      De tanto se falar em incompetência do Estado, de tanto se desmontar e desqualificar as estruturas de seleção, capacitação e preparação que tínhamos antes e que serviam muito bem ao país, chegamos ao absurdo de terceirizar funções do Estado e, agora, o  processo de escolha dos servidores efetivos.  

     Empresas privadas são formadas e estabelecidas com o objetivo  no lucro e não no  interesse público.

     Acreditar que uma empresa particular tenha mais competência para determinar as qualidades necessárias a exercer determinado cargo, ou a  formação necessária para fazê-lo, do que a própria instituição a quem o candidato irá servir  é ingenuidade, ou  atestado de incompetência da parte de quem deveria proceder à seleção.


    Os países mais poderosos do mundo são justamente aqueles que têm, não as melhores empresas de aplicação de concursos, mas as melhores escolas de administração pública.

     Esse é o caso da França, da Alemanha, do Japão, por exemplo. E o nosso, com centros de excelência, como a Fundação Getúlio Vargas. E o do Instituto Rio Branco, que seleciona e forma nossos diplomatas, reconhecidos por sua competência em qualquer lugar do mundo.

     É preciso que o Brasil abandone a prática de terceirizar a realização de concursos. Com as novas tecnologias, como câmeras e copiadoras de alta velocidade,  dependendo da complexidade das provas, questões e gabaritos poderiam ser liberados e impressos à vista dos candidatos quando esses já estivessem sentados, cada um à sua mesa, dentro do próprio recinto de realização das provas. 
     Enquanto isso não for possível, é preciso tornar regra o monitoramento de concursos pela PF e o Ministério Público, sempre sob a responsabilidade do Estado. O importante que se volte a investir em instituições de excelência para a formação de nossos funcionários públicos.

     É preciso retornar à preocupação de Vargas, que  estabeleceu o sistema de se avaliar o mérito dos aspirantes ao serviço do Estado, mediante os concursos públicos, e criou o DASP responsável para cuidar do funcionalismo.

13 de jun. de 2013

ESPIONAGEM E O CINISMO DE BARRACK OBAMA

(JB)- O mundo não conseguiu ainda sair do espanto causado pelas revelações do soldado Bradley Manning — cujo julgamento por traição começou há dias — e uma denúncia ainda mais grave foi encaminhada ao Guardian pelo ex-técnico da CIA Edward Snowden. O denunciante era, até o dia 20 de maio, um dos maiores especialistas em segurança de informações da Booz Allen, contratada pelo governo norte-americano para assessorar a NSA (Agência Nacional de Segurança). 

De acordo com os documentos oficiais, filtrados por Snowden, e não desmentidos, Obama determinou a invasão dos sistemas de comunicação eletrônicos do mundo inteiro — também no próprio território norte-americano. Os meios técnicos permitem aos invasores capturar mensagens e documentos, apagar, reescrever, reendereçar e-mails. Mais ainda: os hackers oficiais poderão intervir no sistema de comandos dos computadores. Em tese, e de acordo com a tecnologia disponível, serão capazes de alterar a rota dos aviões, provocar incidentes militares nas fronteiras, falsificar telegramas diplomáticos, de forma a intrigar governos contra governos.

Atos de espionagem e de provocação são comuns na História, mas os meios tecnológicos de hoje os tornam catastróficos. A única esperança de que planos como o do presidente Obama sejam divulgados está nos cidadãos dos próprios países agressores que, os conhecendo, como é o caso de Bradley Manning e de Edward Snowden, se disponham a denunciá-los ao mundo.

Snowden, como Manning, é um homem ainda jovem. Aos 29 anos, ganhando um bom salário, de 200 mil dólares brutos por ano, vivia com conforto no Havaí, com sua jovem namorada, quando, ao tomar conhecimento das 18 páginas das diretivas de Obama aos serviços de segurança, resolveu revelá-los.

O governo norte-americano tenta minimizar a gravidade da denúncia, ao afirmar que um tribunal criado para supervisionar os serviços de informação e segurança aprovou a medida, da qual, também as comissões especiais do Congresso tomaram conhecimento e lhe deram endosso.

Há várias questões postas, que devem ser examinadas com serenidade. Em primeiro lugar, aquela velha presunção norte-americana de que eles foram predestinados ao domínio universal, e foi definida pelo senador Fullbright como "a arrogância do poder". Sentindo-se os mais poderosos, assim como os soberanos, julgam-se irresponsáveis pelos seus atos e inimputáveis. Não consideram que haja acima deles nenhum poder punitivo. Seus fundamentalistas protestantes, entre eles Bush II, acreditam agir com a cumplicidade de Deus. Foi assim que o então presidente justificou a segunda guerra contra o Iraque: — em conversa com o Todo-Poderoso, dele ouviu a ordem de caçar Saddam Hussein e eliminá-lo.

Outra lição do fato é a de que não há mais segredos no mundo, principalmente quando o rege a lógica do mercado. Há, de acordo com as informações oficiais, 25 mil pessoas envolvidas no sistema nacional de segurança dos Estados Unidos, a maior parte delas funcionárias de empresas privadas, como a Booz Allen, cujo faturamento, em 98%, é obtido em contratos com a Agência Nacional de Segurança. É impossível, assim, manter essas operações em sigilo.

Outra grande surpresa é o cinismo do presidente Barack Obama, que irrompeu no cenário norte-americano como aquele predestinado a recuperar os mais altos valores dos "pais fundadores" da grande república. Na campanha eleitoral de 2008, ele qualificou os vazamentos do mau comportamento do governo como "atos de coragem e patriotismo, que podem, muitas vezes, salvar vidas e, com frequência, poupar dólares dos contribuintes, e devem ser encorajados, em lugar de combatidos", como ocorria durante a administração Bush.

Na reação contra Manning e Assange, Obama absolve o "guerreiro" Bush. Snowden, em entrevista ao Guardian, diz que se sente mais ou menos seguro em Hong Kong, aonde chegou há três semanas. Mas os republicanos do Congresso pediram ao governo que exija a sua extradição. Como se sabe, a autonomia da antiga colônia britânica é limitada: o território está sob a soberania estatal chinesa. Será interessante verificar se o governo chinês decidirá acatar um pedido de extradição que um pequeno país, como o Equador, se nega a atender, no caso de Julián Assange.

Os observadores se dividem, na previsão do que virá a ocorrer, diante desse novo escândalo mundial. A maioria, com a mente já colonizada pela hegemonia norte-americana, acha que nada há a fazer. Em suma, é inevitável aceitar o mando norte-americano, para que nos salvemos do "terrorismo islamita", assim como foi melhor aceitar as inconveniências da Guerra Fria, para que nos livrássemos do comunismo ateu.

Há, no entanto, os que sabem ser necessária uma aliança da inteligência e da dignidade dos homens, a fim de reagir, enquanto há tempo, contra essa tirania universal. 

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