7 de jun. de 2014

A RETIRADA DO REI


(Hoje em Dia|) - A abdicação de Juan Carlos do trono,  em favor de Felipe  de Astúrias, faz lembrar, de pronto, a tentativa frustrada de golpe de 17 de fevereiro de l977, pelo coronel Enrique Tejero, da Guarda Civil.

Durante muito tempo, pairaram dúvidas sobre o papel do Rei naquela noite, até hoje não de todo esclarecido. O certo é que os golpistas, durante o episódio,  falaram como se obedecessem a suas ordens, e que seu nome foi proposto, por eles, para assumir o poder, depois de passar pela eventual aprovação de um plenário cercado por tropas, e sob a mira de um louco, com uma pistola automática na mão.

Com o tempo, passando por histórias de amantes e de caçadas de elefantes, Juan Carlos I estabeleceu uma personalidade cheia de contrastes, e de situações nebulosas.

Sempre teve estreitas relações com os grandes “magnatas” espanhóis e seus  negócios na América Latina, em uma época em que a Espanha achava que podia promover arrogante reconquista de seus antigos territórios, esquecendo-se, os espanhóis e seus oligarcas, de que só estavam em situação aparentemente positiva graças a bilhões de euros a fundo perdido da União Européia e a gigantescas dívidas que terão de pagar agora.

A intimidade com o mundo dos negócios, e com gente que enriqueceu rapidamente, na esteira da entrada da Espanha no euro, levaria a família real – que já contava com generosa “renda” e todas as despesas pagas pelo erário – a envolver-se em uma série de escândalos e negociatas.

O genro do Rei, Iñaki Urdangarin, um ex-jogador de handebol – que ocupava cargos em conselhos de várias empresas espanholas, inclusive a Telefónica América Latina, dona da “Vivo” no Brasil – foi acusado de desvio de dinheiro público, por meio de uma organização fundada por ele, aparentemente “sem fins lucrativos”, o Instituto Noos, que prestava – sem os executar – serviços superfaturados para províncias e municípios espanhóis.

Mesmo posando de democrata, em momentos emblemáticos, Juan Carlos não conseguiu esconder sua verdadeira face, profundamente conservadora e neocolonial, quando disse o que queria – e ouviu o que não queria – ao proferir, em  reunião de uma das fracassadas cúpulas “íbero-americanas”, para o Presidente Chavez, “porque no te callas?” 
  
Ao abdicar em favor de seu filho, Juan Carlos I abre mão do reinado para salvar uma monarquia contestada. 

Um sistema que é o retrato mais forte de uma Espanha anacrônica e cada vez mais irrelevante, que se encontra dividida por polêmicas intestinas dentro de suas próprias fronteiras.


    

Um comentário:

Progreso disse...

A estas alturas, un rey, hijo político del asesino Franco, "deja" la corona para su hijo. Si es verdad (yo así lo creo..) que "de tal palo, tal astilla" tanto Juan Carlos I como Felipe VI son herederos del fascismo. La democracia no necesita reyes. Viva la República!