15 de jun. de 2014

FELIPÃO E A GEOPOLÍTICA



(Jornal do Brasil) - Desde a formação dos primeiros grupos humanos, no alvorecer da história, o poder das tribos, das cidades, dos povos, nações e civilizações, esteve ligado a competições de caráter físico e de habilidade.

Originado na caça e na guerra, a que substituiu, em tempos de paz, o esporte sempre foi, desde a Grécia antiga, um veículo para a afirmação do orgulho individual e nacional, projetado na disputa e na competição.

Nas Olimpíadas de 1936, a Alemanha procurou mostrar ao mundo o ideal nazista e ariano, e acabou frustrando-se com a vitória do atleta norte-americano negro Jesse Owens, cujas vitórias obrigaram Hitler a abandonar seu lugar no palanque.

Na Guerra Fria, valia tudo para vencer as competições esportivas internacionais. Naquela época,  atletas russos, chineses, coreanos, cubanos, norte-americanos, procuravam não apenas conquistar medalhas de ouro, mas mostrar em cada gesto, a disciplina, a boa forma física, a qualidade técnica e o talento do país, e, muitas vezes, do Sistema que estavam representando e defendendo diante do mundo.

Mesmo que a princípio, se tratasse apenas de esporte, a visibilidade dos eventos esportivos e a sua transmissão ao vivo depois da invenção do satélite, para bilhões de pessoas, sempre teve por trás a política.

Política interna, como foi o caso dos atletas negros norte-americanos que subiam ao pódio com o punho cerrado fechado, e o braço erguido para saudar o “Black Power” homenageando o grupo Panteras Negras.

Ou a política regional e internacional, como ocorreu nas Olimpíadas de Munique, na então Alemanha Ocidental, quando palestinos do Setembro Negro tomaram sequestraram e tomaram como reféns atletas da delegação israelense.

Um pouco de nacionalismo, na hora da disputa, não faz mal a ninguém. Sou daqueles que acho que os jogadores da seleção brasileira deveriam acordar, todos os dias, na concentração, ao nascer do sol, para hastear a bandeira. E cantar o hino nacional, ao menos para aprender a letra e não nos matar de vergonha como ocorria no passado.

Também não faria mal a eles e a Luís Felipe Scolari, ler, antes de cada jogo, alguma coisa sobre o adversário, que não fosse apenas suas estatísticas futebolísticas. História, por exemplo, ou os últimos jornais.

Saber que os croatas, que nos deram bastante trabalho na estreia, são ferrenhos adversários históricos dos sérvios, com quem jogamos nosso último amistoso, poderia ter nos indicado o grau de dificuldade que iríamos enfrentar. Independente de querer aparecer ganhando da seleção pentacampeã do mundo em sua própria casa, eles não iriam perder a oportunidade de tentar provar aos sérvios que podiam acertar onde eles erraram.

Da mesma forma, se Felipão lesse a imprensa mexicana, ou alguma análise sobre os dois países, daria para saber que os mexicanos – manipulados cotidianamente por sua imprensa - têm profundo complexo de inferioridade com relação ao Brasil, ao qual não perdoam ter estabelecido área de influência na América do Sul, quando eles tem a metade de nossa economia, população, reservas internacionais, cresceram quase a metade do Brasil nos últimos dez anos em 2013, e pertencem à área de influência dos Estados Unidos.

O técnico da Croácia disse, já antes do jogo, que ia “partir pra cima” do Brasil em São Paulo. O técnico do México, El Piojo (O Piolho) Miguel Herrera, já declarou que a seleção do país de Zapata vai “se matar” para derrotar o Brasil no próximo jogo - meta que a torcida e a imprensa mexicanas consideram plenamente possível (foto).

Os mexicanos estão com ódio particular do Brasil, ódio tradicionalmente alimentado pela imprensa deles, por causa de  declarações recentemente feitas em Madri, pelo ex-presidente Lula, criticando os fundamentos econômicos do México, fato que rendeu, por lá, grandes manchetes.

Em uma disputa internacional, muitas vezes o que menos importa é o esporte, ou apenas os seus fundamentos técnicos, que tem ficado sempre em primeiro plano  para Felipão, seus jogadores e a maioria dos repórteres esportivos.   

Como diziam os romanos, Alea jacta est. A sorte está lançada.

Só não sejamos ingênuos de pensar que, para nossos adversários nesta Copa, há apenas futebol por trás da bola.           

6 comentários:

Júlio disse...

Parabéns pelo trabalho no blog, desde que o descobri sempre acompanho suas análises.

Vi que quase não há comentários, mas saiba que pelo menos eu venho sempre acompanhando.

Abraço.

Ailton C disse...

Li que há direito de imagem do Cristo Redentor e que estariam processando italianos por vestirem o Cristo com a camisa da seleção italiana. Será que com a bandeira mexicana não haverá também um processo?

Mauro Santayana disse...

Obrigado, Júlio. Um abraço também. Aílton, sinceramente, não sei. Essa foto, o pessoal da equipe do blog pegou na imprensa mexicana, e nós publicamos para mostrar como está o clima com relação ao jogo com o Brasil por lá. Abs.

Anônimo disse...

Mauro Santayana foi simplesmente asqueroso. Publicou um artigo intitulado "Felipão e a Geopolítica", que se impresso for não serve para reciclagem. Abaixo um trecho:

“Ou a política regional e internacional, como ocorreu nas Olimpíadas de Munique, na então Alemanha Ocidental, quando palestinos do Setembro Negro sequestraram e tomaram como reféns atletas da delegação israelense”.

A única alteração no texto foi a retirada da palavra tomaram que estava em duplicidade.

Parece que o lambe-botas dos ditadores comunistas e puxa-saco dos terroristas islâmicos esqueceu-se de um detalhe. Onze judeus foram assassinados pelos terroristas palestinos do Setembro Negro.

Para ele o massacre dos israelenses, durante os jogos olímpicos de Munique, em 1972, foi um mero sequestro com tomada de reféns e uma simples questão política.

11 seres humanos foram despedaçados pelo terror e para o jornalista, ocultando o desfecho sangrento para não dizer do que são capazes os seus adorados "oprimidos", o caso serve como uma simples advertência esportiva para o tal do Felipão. Assim são os socialistas: um jato de spray de pimenta em baderneiros esquerdistas é uma violência inimaginável, usar granadas para explodir seres humanos amarrados é esquecível, se estes não pertencerem a uma das categorias ideologicamente preferenciais.

Israelenses assassinados pelos terroristas palestinos durante os jogos olímpicos de Munique:

· David Berger
· Ze'ev Friedman
· Joseph Gottfreund
· Eliezer Halfin
· Joseph Romano
· Andrei Schpitzer
· Amitsur Shapira
· Kahat Shor
· Mark Slavin
· Yaakov Springer
· Moshe Weinberg

Anônimo disse...

Meu caro Rebolla,não fique nervoso, se não você vai perder o rebolado, e isso não é de bom tom.


Na mesma página da Wikipedia de onde você tirou a lista de atletas israelenses assassinados, existe a seguinte informação:

"Como se viria a constatar depois, as forças policiais alemãs estavam muito mal preparadas e a situação fugiu do seu controle. Uma tentativa de libertação dos reféns levou à morte de todos os atletas, além de cinco terroristas e um agente da polícia alemã.

Os três terroristas que sobreviveram ao ataque foram encarcerados. O governo alemão federal ficou altamente embaraçado pelo fracasso e pela demonstração de incompetência da sua polícia. A operação foi mal planejada e foi executada por agentes sem qualquer preparação especial.

A idéia da operação era eliminar os terroristas num aeroporto próximo de Munique, o Fürstenfeldbruck. No entanto, os poucos políciais colocados nas torres do aeroporto não tinham capacidade de fogo suficiente para executar a tarefa, não dispunham de comunicações de rádio entre si para coordenar os disparos e foram surpreendidos por um número de terroristas superior ao esperado.

Após um tiroteio que durou 45 minutos, entre a polícia e os terroristas, os terroristas fuzilaram os atletas israelenses que estavam amarrados uns aos outros dentro de dois helicópteros. Os atletas morreram fuzilados e carbonizados. A divulgação dos pormenores do atentado, seguida atentamente pela mídia internacional, causou um forte abalo na imagem da Alemanha Federal no exterior. Os três prisioneiros não chegaram a ser julgados.

Como você, e qualquer um pode ver, a morte dos reféns, não foi executada friamente pelos palestinos, mas no contexto de uma operação mal executada e mal planejada da polícia alemã. A maioria dos reféns morreu logo após o ataque da polícia aos sequestradores, ataque este que durou 45 minutos,. e mesmo assim, há fontes que contradizem esta versão, e que dizem que eles pereceran durante o ataque da polícia, no qual morreram três sequestradores e uma policial e não depois.

abs

Anônimo disse...

Parabéns ao comentarista Anônimo (18/6/14 04:37), que em poucas linhas escreveu o suficiente e necessário para o bom entendimento do referido episódio passado na Alemanha. O comentarista Anônimo mostrou que sabe, simplesmente colocou com sinceridade os fatos no seu devido contexto. Finalmente, quem trabalha com a verdade não precisa alterar ou esconder nada, muito menos difamar alguém. [Chico Lima, 25-06-2014].