21 de dez. de 2013

A COMPRA DOS GRIPEN E A DOUTRINA MILITAR DE DEFESA



(JB) - Depois de 13 anos, finalmente o governo brasileiro deu sua aprovação à compra de 36 novos caças para a Força Aérea Brasileira, optando pelos Gripen NG suecos, em detrimento do Rafale, da Dassault francesa e do F-18 da Boeing norte-americana. O menor preço, unitário e por hora de voo, a transferência de tecnologia e a questão política foram fatores determinantes para a escolha.

Como ainda não está totalmente desenvolvido, o caça sueco-brasileiro será projetado em conjunto por técnicos e empresas das duas nações, como as brasileiras Akaer — que já participa do projeto — e Embraer e a própria Saab. Está prevista a criação inicial de aproximadamente 2 mil empregos em São Bernardo do Campo, São Paulo, onde seria instalada a unidade de montagem. O pacote financeiro — cada avião sairá por aproximadamente 125 milhões de dólares — também foi o mais atraente. O Brasil só começaria a pagar os aviões depois de recebida a última das 36 aeronaves, no começo da próxima década.

Para o Brasil, o Gripen NG representa um novo patamar, do ponto de vista da indústria aeronáutica militar, bem acima do turboélice de ataque leve e treinamento avançado Super-Tucano, da Embraer. Mas ele — como bem lembrou o ministro Celso Amorim, ao dizer que o país continuará negociando um caça de quinta geração — não solucionará todos os problemas do país nessa área.

Como o Brasil será dono do projeto, com o tempo, ele poderá ser vendido para outros países da Unasur e até mesmo do Brics, como é o caso dos sul-africanos, que já possuem Gripen mais antigos em sua Força Aérea. Com eles estamos desenvolvendo conjuntamente mísseis A-Darter, que podem armar esse avião.

O importante é que o Gripen NG possa render, estratégica e economicamente, o máximo de retorno para o investimento previsto.

Não é preciso dizer, da Engesa ao AMX, o quanto a descontinuação na fabricação de material bélico foi e pode ser danosa para o Brasil, tanto no desmonte da estrutura estabelecida para sua fabricação quanto na perda de conhecimento e na desmobilização do pessoal técnico envolvido.

Verificando o que está sendo feito no país, neste momento, não é racional gastarmos centenas de milhões de reais para montar um estaleiro para fazer quatro submarinos. O correto seria dar início, a partir daí, à fabricação de pelo menos uma nova belonave por ano, para manter ativos e operantes todos os elos da cadeia produtiva. O mesmo vale para blindados, helicópteros, mísseis, artilharia, avançando, a cada etapa, na nacionalização de componentes, até adquirir total autonomia do exterior.

Precisamos aprovar encomendas do governo que permitam garantir demanda suficiente para manter em funcionamento todas as linhas de produção, assegurando que elas possam eventualmente ser aceleradas, em caso de conflito.

É por essa razão, considerando-se preço, consumo de combustível e garantia de transferência de tecnologia, que os Gripen não deveriam ficar limitados, apenas, ao reduzido número de 36 aeronaves. Sua fabricação deveria durar, pelo menos, dez anos, a um ritmo de 12 aviões por ano, até completar — asseguradas as modernizações possíveis e o natural ganho de escala — um número mínimo de 120 caças, ainda assim insuficiente para garantir a vigilância de nossas fronteiras e uma condição militar à altura de nossa situação geopolítica.

O grande vetor para a projeção estratégica do Brasil fora do contexto geográfico sul-americano, considerando-se a concorrência e a competição entre os EUA, a Europa e os Brics, nos próximos anos, não será o Gripen mas o caça-bombardeio de quinta geração T-50 PAK-FA, que se encontra atualmente em desenvolvimento por russos e indianos, e para o qual o Brasil já foi convidado a participar oficialmente.

Poderíamos, assim, estabelecer uma teia de atuação aérea progressiva, complexa e abrangente, cobrindo nossas necessidades de defesa e de projeção de nosso poder militar, começando, em um anel mais externo, pelo uso de satélites, drones, Vants e Super-Tucanos para vigilância de nossas fronteiras. A seguir, viria uma rede de bases e esquadrilhas de Gripen NG BR, dispostas, estrategicamente, para a proteção de nossas maiores cidades, litoral e Amazônia Azul, e, em caso de grave ameaça, um número inicialmente menor de aviões mais avançados e ofensivos, como o Sukhoi Su-35, e, futuramente, o T-50, potencialmente adaptados aos sistemas de dirigibilidade, controle e manutenção da FAB.

A mera escolha do Gripen, fabricado a partir de peças ocidentais, não pode ser vista como um  fator limitante para a cooperação do Brasil com outro tipo de nações, que apenas contribuiria para consolidar nossa dependência, no campo da defesa, de países da Europa e dos próprios Estados Unidos.

O Ocidente não tem nenhum compromisso estratégico conosco e, muito menos, a médio e longo prazo. Nunca se poderá contar com nenhum país ocidental, em caso de eventual problema com um deles. Vide o caso da Argentina, abandonada  totalmente por seus fornecedores de armamento, na Guerra das Malvinas.          

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4 comentários:

Adriano disse...

Gostei de você ter aprovado essa negociação, Mauro. O governo do Partido dos Trabalhadores novamente tomou a decisão segundo o melhor interesse do Brasil.

Sinto minha vida brasileira ameaçada pelos crimes lesa-pátria cometidos pelos neoliberais do PSDB e do Demo. Quando assumem qualquer esfera de poder, eles deliberadamente mantêm o Brasil subdesenvolvido ao mesmo tempo em que desmontam o estado, a indústria, a educação da sociedade, o mercado, os exércitos nacionais e cedem nosso patrimônio ao inimigo estrangeiro, preparando o Brasil para a invasão e o desmembramento.

Reitero a você que muito dessa traição praticada pelos inimigos do Brasil nascidos aqui advém dos sionistas infiltrados, cuja fidelidade patriótica é exclusivamente para com o Estado de Israel, pois somente o ideário da elite oligárquica corrupta nacional não explica tanto entreguismo, Mauro!

Por exemplo, veja, por favor, Mauro, a recente história da agente sionista desmascarada na internet, a sua colega jornalista, paulista, Renata Malkes, que tinha um blog antibrasileiro escrito em português e premiado em Israel como um "warblog" de disseminação de propaganda sionista e de hasbará, foi admitida no Exército de Israel onde recebeu treinamento militar e de inteligência, operou no Líbano onde foi detida pelo Hezbolá e para ser libertada, ocultou ter dupla cidadania e alegou ser somente brasileira mostrando passaporte do Brasil, o que coloca em risco a segurança dos verdadeiros brasileiros que são um povo pacífico. Tudo isso enquanto trabalhava para a Rede Globo onde elaborava reportagens sempre retratando os israelenses como vítimas coitadas e indefesas que são atacadas sem motivo nenhum, sempre injustamente, pelos pérfidos palestinos.

Anônimo disse...

Disseram que esse aviao so existia no papel, disseram que o Brasil nao tinha Povo, que o Lula iria quebrar o Brasil...

Mauricio disse...

Feliz Natal a todos. 2014 de paz e prosperidade.

jorge chamberlain disse...

Apesar de todo o conhecimento, em várias áreas, do Mauro Santayana, esta matéria demonstra como a esquerda brasileira é pouco informada e pouco interessada em questões de defesa e repete o que o PIG(grande imprensa) fala sobre o assunto. A afirmação de “Como ainda não está totalmente desenvolvido, o caça sueco-brasileiro será projetado em conjunto por técnicos e empresas das duas nações” é no mínimo falta de conhecimento sobre o assunto. Digo isso porque o que existe deste caça é de origem americana. O motor GE414G que equipa o caça é americano, o radar ES 05 Raven é de um fornecedor europeu com participação acionária americana. Muito difícil a venda deste equipamento para os países da UNASUL como a Venezuela que conta com um avião melhor que o Gripen em sua Força Aérea e ainda não sofre com embargos e pedidos de autorização. Logo compramos um avião americano fabricado na Suécia, já que os motores e o principal sensor é desta origem.
Desde a escolha dos finalistas do FX: Gripen, F-18 e Rafale o Brasil infelizmente tomou a decisão de manter cooperação militar mais próxima com os países da OTAN. O SU 35, avião russo que atendia de forma melhor o perfil das missões de defesa aérea brasileira, foi desclassificado. Ainda assim a França, forçada pela necessidade de um parceiro para financiar o Rafale, tem um maior controle sobre a tecnologia do caça para transferência de tecnologia, pois seu motor é francês, assim como seu radar, além do que o Rafale tem alcance e características melhores para um país continental como o Brasil. A transferência de tecnologia prometida pelos suecos se refere a produção de materiais compostos e a aviônica do caça, nestes dois campos o Brasil já tem um certo acumulo necessitando de mais investimentos. A tecnologia com que não contamos é justamente a motorização e radares.
Muitos dizem que foi um relatório da FAB que levou o Governo a escolher o caça sueco, se isso for verdade, mostra como a FAB não é uma força armada guerreira, com a preocupação de ter o melhor equipamento para defesa da Pátria, muito pelo contrário, ao ouvir o Comandante Saito falar parecia o ministro do Desenvolvimento ou da Fazenda falando e não uma militar. Enfim a escolha foi feita pelo preço do caça e ele é tão mais barato porque quase tudo nele é de origem estrangeira e comprar é mais barato que desenvolver. Porém este barato pode nos sair muito caro um dia, caso o Brasil enfrente um conflito, mas como disse nosso comandante Saito “isso é pouco provável”.
O avião em si, o Gripen, não é ruim, aeronave feita para um país como a Suécia pequeno, membro da OTAN, totalmente atrelado politicamente e militarmente aos EUA. O nosso Governo (que apoio e acerta em outras áreas) tomou a decisão como se fosse nada, escolheu o mais barato e a grande imprensa adorou.
Quanto a possibilidade de o Brasil complementar sua frota no futuro com os aviões maiores oriundos da Rússia, outra fantasia. Segundo nossa Estratégia Nacional de Defesa, o Brasil pretende ao longo dos próximos 20 anos substituir todos os seus aviões de combate a jato por um único modelo, chegando a 120 caças. Todos imaginavam que seria um caça multi-missão bimotor, que atenderia as necessidades operacionais da FAB, mas no lugar disso escolhemos um avião com pouca autonomia, monomotor, sem a capacidade de carregar grandes cargas bélicas. Escolhemos também nossos parceiros militares para as próximas décadas: a OTAN. O autor acha mesmo que os russos vão entregar o que tem de mais moderno e secreto para um país como o Brasil que tem como “parceiros” países da OTAN ? Acho difícil. A Rússia procura parceiros militares e não simplesmente clientes.