13 de jan. de 2014

DE SAPOS E DE PRINCESAS


(HD) - Era uma vez um reino, que já tinha sido rico e poderoso, em um passado distante. E, que, depois, pobre e miserável, foi governado por um monstro feroz e sanguinário, por muito tempo.
Esse monstro havia derrotado o povo daquele reino em uma guerra terrível. Anos depois, quando estava ficando velho, mandou que viesse de fora do reino um príncipe, e o educou com esmero, para substituí-lo. Com o passar do tempo, esse príncipe  transformou-se em um rei de opereta, que vivia à custa das arcas do reino, e sentia nostalgia do poder de seus antepassados e das idéias que o monstro lhe havia ensinado.
Mas mais tempo passou, e o povo se esqueceu das lições que havia aprendido na luta contra o monstro.
Com inveja dos povos vizinhos, muito mais ricos, o povo se submeteu a eles, e, graças à ajuda alheia e a pesadas dívidas, todos compraram muitas coisas e acharam que estavam igualmente ricos, e que, a partir daí, seriam tratados como iguais pelos seus antigos senhores.
Passaram então, a tratar os povos mais pobres, como antes eram tratados pelos mais ricos.
Desprezavam e expulsavam os estrangeiros, os mendigos e os peregrinos. Com o dinheiro alheio, construíram suntuosas pontes e castelos, e o Rei, de nariz em pé, viajava por selvas e desertos distantes, para caçar elefantes. 
Sua filha, a Princesa, conheceu um plebeu, que, como um sapo encantado, praticamente transformou em príncipe, o que permitiu que ele fizesse bons e duvidosos negócios nos mais altos círculos do reino.
Um dia, no entanto, a crise varreu, como um tufão,  as paragens em que ficava o Reino. Um em cada quatro de seus cidadãos ficou sem trabalho. Descobriu-se que o Tesouro devia quase o dobro do que arrecadava em impostos para os reinos vizinhos; e muito mais para os seus bancos; que cada aldeão ou cidadão devia ainda mais, em média, do que poderia ganhar em um ano; e que alguns de seus homens mais ricos também eram responsáveis por algumas das mais altas dívidas do mundo.
Embora muita gente acredite que certas estórias só ocorram em suas próprias e encantadas terras, o reino de que falamos fica do outro lado do oceano.
O monstro da história chamava-se Francisco Franco. O nome do Rei é Juan Carlos. A Princesa é a Infanta Cristina, indiciada agora por delito fiscal e lavagem de dinheiro, por um juiz espanhol.  O plebeu, seu marido, chama-se Iñaki Undangarin e foi acusado de corrupção e desvio de dinheiro público, no chamado caso Nóos.  
Ex-jogador de handebol, transformado pelo casamento em Duque de Palma de Mallorca, Undangarin já serviu a diversas empresas ibéricas, que operam em vários países, incluindo certo “reino” tropical.
Um lugar no qual muita gente fica embasbacada, e se deixa enganar pelas estórias – essas sim da Carochinha - contadas por malandros e oportunistas de ternos finos e fala macia, principalmente quando eles vêm de fora.  

Este texto foi poublicado também nos seguintes sites: 

            



http://blogoosfero.cc/blog-do-miro/blog/a-espanha-de-sapos-e-princesas   




2 comentários:

Luis disse...

Muito bom, obrigado

edu marcondes disse...

Muito bom .O texto fluiu como um livro de fadas, que infelizmente caiu na lama.
Obrigado
Abço