11 de jul. de 2012

O LEÃO E A OVELHA


(HD) -Segundo um ditado italiano, é melhor um dia de leão do que uma vida inteira de ovelha. É penoso e constrangedor, para qualquer pessoa normal, assistir às contrições diárias de Demóstenes Torres, diante do plenário do Senado Federal, ora vazio, ora com poucos e entendiados parlamentares. Ele poderia, consultando a própria consciência, abandonar essa peregrinação diária a uma Canossa inexistente. Já que não o assiste a coragem da renúncia, convinha-lhe aceitar, resignado, a cassação do mandato.

Permanecer no cargo o obrigará a viver o mandato – se não a vida inteira – como dócil ovelha. Aliás, ele, que rugia com estertor contra a corrupção política, emite agora débeis balidos. Essa é a metamorfose a que se encontram condenados os que atuam como ele atuou. Há outros que continuam a rugir, enquanto ostentam jubas postiças, mas poderão vir a ser reduzidos a cordeiros tosquiados, trêmulos de frio sob os ventos do inverno.

Ele está contando, na votação de hoje - que será secreta, como determinam as normas vigentes - com a clandestina cumplicidade da maioria de seus pares, seja votando em seu favor, seja na ausência que reduzirá o quorum. Não convém tratar o parlamentar goiano com menosprezo. Coube-lhe o descuido de acreditar na tecnologia de telefones indevassáveis e no código de omertà, que nem mesmo em Palermo continua sendo cumprido. Ele não é uma exceção no mundo político de que participa. Talvez seja com essa constatação, a de que não é a única maçã apodrecida no cesto, que o representante de Goiás conta na votação de hoje. Por isso, não haverá muita surpresa, se ele sair aparentemente ileso do confronto. Mas essa manobra seria muito arriscada: toda a casa parlamentar seria vista como cúmplice dos atos atribuídos ao senador e a Carlos Cachoeira.

É duvidoso, portanto, que o desfecho lhe seja favorável. Ele se tornou descartável. Qualquer intervenção que faça, de agora em diante, será captada por ouvidos desatentos. Assim, ainda que quisesse, Demóstenes não poderia prestar a seus correligionários os mesmos serviços de antes.

Ele servia, enquanto se fazia passar por irado defensor dos valores republicanos mais altos, os que se revelam na conduta política irretocável. Apanhado pelas luzes da suspeição, ele não tem mais o que fazer no Congresso. Falta alguém para dizer-lhe isso com honestidade e, se quisermos, em exercício de solidariedade cristã.


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