19 de nov. de 2014

OS CÃES DE ALFENAS


(Hoje em Dia) - A Câmara Municipal de Alfenas, em Minas Gerais, aprovou lei que prevê o desconto de impostos municipais, como o IPTU, para pessoas que se dispuserem a adotar cães.

E por que não fazer o mesmo - de preferência - com quem adotar uma criança ou idoso em situação de abandono ? 

Muitos dirão que a culpa da miséria, no Brasil, é dos pobres, que fazem filhos demais. 

Se esquecendo, ou fingindo ignorar,  que  a nossa curva demográfica, já é, há anos, descendente,  e que a população brasileira tende a diminuir e envelhecer aceleradamente. 

Um quadro que tornará difícil, se nada for feito,  substituir nossa força de trabalho nos próximos anos, deixando o país sem recursos para fazer frente, no futuro, ao aumento das despesas da Previdência Social e do número de aposentados.

O que dá origem ao crescimento do número de bebês e crianças em situação de abandono, hoje, é a falta de informação, a gravidez precoce e as drogas e a violência, com grande número de pais jovens  presos ou assassinados.

Cada criança que se encontra em um abrigo ou orfanato e que ali cresce sem uma família, é parte do patrimônio humano brasileiro. Mas a maioria sai dessas instituições, ao completar 18 anos, sem preparo, orientação ou trabalho, e vai engordar a fila dos moradores de rua ou da marginalidade. 

Orientadas, treinadas, educadas, elas poderiam dar inestimável contribuição à nossa sociedade, caso houvesse estímulo  não para a adoção de cachorros, mas de pequenos brasileiros.

O que precisamos não é incentivar a adoção de cães, mas taxar rigorosamente a sua propriedade, e monitorá-los por meio de “chips”, punindo com pesadas multas quem os abandone. 

Se considerarmos o número de crianças que não são adotadas por causa da sua idade ou da cor de sua pele, a lei de Alfenas soa como um escárnio. 

Ou um insulto.

Um escárnio a todos os seres humanos, e  especialmente às crianças que se encontram ameaçadas pela fome, sede e doenças - como o ebola - em vários países do mundo.

Um insulto ao bom-senso, à lógica, à inteligência, quando se lembra que - com menos do que se gasta apenas de ração com um cachorro - é possível, por meio de instituições confiáveis, como os Médicos Sem Fronteiras, assegurar água potável e comida, por 30 dias, para uma criança,   como os milhares de órfãos refugiados de guerras estéreis e injustas como as da Síria e da Líbia.     

Com todos os eventuais defeitos que possamos ter, como indivíduos, os cães que nos desculpem, mas a prioridade maior de qualquer homem, mulher ou criança, deveria ser  com sua própria espécie - com a prática da solidariedade - na promoção da dignidade humana.

Se isso nos fosse ensinado nas escolas, e incentivado em nossa atitude e comportamento - inclusive com a isenção de impostos e outros benefícios - haveria menos estupidez, violência e egoísmo. E o mundo seria, certamente, outro.

5 comentários:

Anônimo disse...

Muito bem observado! Gostaria de acrescentar como sujestão, que se cobrasse dos condenados por corrupção um imposto especial para sustento e educação profissional de crianças recolhidas em orfanatos. Saudações.

Anônimo disse...

Prezado Mauro Santayana

Permita-me discordar de um ponto: a adoção de crianças no Brasil é um inferno burocrático, com tantas condições e exigências, que é praticamente impossível adotar
Eu e minha esposa somos pais adotivos (adoção à "brasileira", fora dos trâmites legais), e o caminho valeu pena, mas poderia ter sido bem mais fácil ( e sabemos que se criam dificuldades para se vender facilidades)

Marcos Dias disse...

Sr. sou seu leitor eesta foi uma das mais felizes crônicas postadas, perfeito, adote uma criança, um velho e porque não um cão. Vamos tornar iguais as crianças e velhos abandonados com os cachorros.

Anônimo disse...

Interessante que um leitor do seu interessante blog ainda acredita que cobrança de impostos adianta alguma coisa...Impostos, no Brasil e em muitos outros lugares, vão para o pagamento da "máquina", nada sobrando para nada e ninguém mais.

Mauro Santayana disse...

Obrigado, Marcos. E um abraço.