1 de fev. de 2013

A MONSANTO, ALÉM DA JUSTIÇA.


(JB) - Agricultores brasileiros estão em litígio contra a Monsanto, que lhes cobrou royalties pelo uso de uma tecnologia cuja patente expirou em 2010, de acordo com a legislação brasileira. As leis nacionais estabelecem que o início da vigência de uma patente é a data de  seu primeiro registro. A Monsanto invoca a legislação norte-americana, pela qual a patente passa a vigorar a partir de seu último registro. Como sempre há maquiagem dos processos tecnológicos, a patente não expira jamais.
Os lobistas da Monsanto não tiveram dificuldades em negociar acordo vantajoso, para a empresa, com os senhores do grande agronegócio, reunidos em várias federações estaduais de agropecuária, e com a poderosa Confederação Nacional da Agricultura, comandada pela senadora Kátia Abreu. Pelo cambalacho, a Monsanto suspenderia a cobrança dos royalties até 2014, e os demandantes desistiriam dos processos judiciais.
"Uma das maldições do homem é a tentativa de criar uma natureza protética"
Uma das maldições do homem é a tentativa de criar uma natureza protética, substituindo o mundo natural por outro que, sendo por ele criado, poderá, na insolência da razão técnica, ser mais perfeito.  Essa busca, iniciada ainda na antiguidade, continuou com os alquimistas, e se intensificou com as descobertas da química, a partir do século 18. O conluio entre a ciência, mediante a tecnologia e o sistema capitalista que engendrou a Revolução Industrial, amparada pelo laissez-faire, exacerbou esse movimento, que hoje ameaça a vida no planeta.
A Alemanha se tornaria, no século 19, o centro mais importante das pesquisas e da produção industrial de novos elementos a fim de substituir a matéria natural, construída nos milênios de vida no planeta, por outra, criada com vantagens para o sistema de produção industrial moderno.
Não há exemplo mais evidente desse movimento suicida do que a Monsanto. A empresa foi fundada em 1901 a fim de produzir sacarina, o primeiro adoçante sintético então só fabricado na Alemanha. Da sacarina, a empresa foi ampliando seus negócios com outros produtos sintéticos, como a vanilina e corantes, muitos deles cancerígenos. Não deixa de ser emblemático que o primeiro grande cliente da Monsanto tenha sido exatamente a Coca-Cola. É uma coincidência que faz refletir.
Não é só a Monsanto que anda envenenando as terras e as águas com seus produtos químicos. Outras empresas gigantes da química com ela competem na produção de agrotóxicos mortais. Com o controle da engenharia genética aplicada aos vegetais de consumo humano e de consumo animal, no entanto, ela tem sido a principal responsável pelos danos irreparáveis à natureza e à saúde dos animais e dos seres humanos.
Vários países do mundo têm proibido a utilização das sementes transgênicas da Monsanto, entre eles a França, que interditou o uso das sementes alteradas. No Brasil, ela tem vencido tudo, com a conivência das autoridades responsáveis, ou irresponsáveis. A Comissão Técnica de Biossegurança e o Conselho Nacional de Biossegurança  vêm dando sinal verde aos crimes cometidos pela Monsanto e outras congêneres no Brasil.
Essa devia ser uma preocupação prioritária do Parlamento, que só se movimenta com entusiasmo quando se trata das articulações internas para a eleição bianual de suas mesas diretoras.

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3 comentários:

Luis disse...

Sem mais, a Monsanto e similares devem ser expulsas do país e devemos dar um basta ao agronegócio.
O sr já ouviu falar em agrofleresta?
Por favor assista ao trailler, 2:40m, do filme Agenda Gotsch, a degradação se recupera.
http://www.youtube.com/watch?v=gxoc6l5pq6E

Anônimo disse...

Mauro e leitores,

A simulação, controle e mercantilização de tudo dominará, muito em breve, nossos corpos e mentes.

Sugiro, como pontos iniciais de estudos, os conceitos de "transhumanismo" (http://en.wikipedia.org/wiki/Transhumanism) e de "biologia sintética" (http://en.wikipedia.org/wiki/Synthetic_biology).

Uma míriade de ideias - teoria dos sistemas, transgenia, transhumanismo, transgenderismo, biologia sintética, entre muitas outras - brotam da árvore da velha Cibernética (http://en.wikipedia.org/wiki/Cybernetics, burilada nas Conferências Macy (http://en.wikipedia.org/wiki/Macy_conferences.

A ciência e a tecnologia nunca foram "neutras", como se diz por aí. C&T e desumanização são como unha e carne.


H. Back™ disse...

Oxalá isso tudo não se concretize. Porque se essa empresa, ou suas outras congêneres, vencer essa batalha, o homem corre um grande risco de desaparecer da face da Terra.