17 de fev. de 2013

O BODOQUE DE DEUS


(HD) - O universo, se o pudéssemos ver do lado de fora, seria  belo espetáculo pictórico, mas sem sentido, com suas esferas de gás em chamas e corpúsculos sólidos, cálidos uns, gelados outros, flutuantes e  indiferentes ao próprio mistério. Sem vida inteligente, também de necessidade duvidosa, o mundo nada seria.
          O universo existe na mente dos homens, e a mente dos homens é um ato de transcendência,  que a fisiologia pode mapear, mas não decifrar. Queiramos ou não, a ciência é inútil para explicar o mundo material e, muito mais ainda, a vida e, nela, como epicentro do mistério, a inteligência  humana.
            O homem, conforme a teologia comum às principais religiões, é transgressor. No mito judaico, que a Bíblia recolhe, são os dois fundadores da espécie, Adão e Eva, que tentam decifrar o próprio enigma, ao comer do fruto proibido – a conselho do diabo, dissimulado na serpente, o que não deixa de ser uma desculpa apologética. O fruto proibido é o conhecimento, ou seja, a chave do bem e do mal.
            Voltando ao Universo e à sua provável inutilidade – a não ser como continente da vida – a ciência, se um dia chegar a localizar, no tempo e em alguma galáxia primeva, seu início, jamais terá a resposta maior: por que ele surgiu, que vontade lhe deu o primeiro impulso. Só a Fé em um Criador único oferece a resposta, ainda que precária.
           O meteoro que se fragmentou na atmosfera dos Urais é – entre outros sinais –  aviso de nossa precariedade. Em algum momento da Eternidade o sistema solar deixará de existir - segundo os astrofísicos, quando a Via Láctea chocar-se com Andrômeda, daqui a 4 bilhões de anos. Em sua ilusão, o homem pensa que a ciência  salvará a espécie, migrando-a para lugar seguro, ainda a tempo. É  mais provável que, bem antes, um acidente cósmico dê ponto final a esse animal frágil, sem garras e sem mandíbulas fortes, de anatomia torpe, se comparada à de alguns insetos e aves, e que só construiu sua história a partir de circunstâncias do acaso, como a mobilidade das mãos e o uso da linguagem complexa.
         Algumas línguas usam um só vocábulo para definir tempo e espaço, aqui e agora, e outras incluem a idéia de sempre. Esse deve ser o resumo de toda a filosofia: o mundo é aqui e agora, na eternidade de um segundo. Devemos viver “aqui”, nesta tênue camada do planeta que nos oferece as condições físicas da vida, e “agora”, com a consciência de que a vida é uma aventura coletiva e solidária da matéria convertida em natureza e a vida disso consciente. Essa é a herança da Criação, se nela cremos, ou de outras e imperscrutáveis razões.

2 comentários:

Anônimo disse...

Prezado,

Sou leitora assídua dos seus textos e profunda admiradora de sua sofisticação; desta vez, sinto-me encorajada a comentar por que a imagem, ainda que,classificada como "pobre e vulgar" do bodoque me fez sentir íntima, tendo em vista que intimidade, para mim, é compartilhar significados.

Grata (abraço fraterno)

Mauro Santayana disse...

Muito obrigado, e um abraço, igualmente fraterno.