6 de out. de 2013

A EQUAÇÃO PARAGUAIA




(JB) - O Presidente paraguaio Horacio Cartes foi recebido, há poucos dias, em visita de Estado, pela Presidente Dilma Roussef, em Brasília.

Embora o Brasil tenha sido a primeira nação a estabelecer relações com o Paraguai, em 1844, a convivência entre os dois países tem sido mais conturbada que harmônica, no período que nos separa de 1870, o ano do fim da Guerra do Paraguai.

A morte de milhares de paraguaios, em decorrência da guerra e da fome; a ocupação brasileira, até 1875; e as indenizações de guerra pagas pelo Paraguai ao Brasil até a primeira metade do século XX; contribuíram para criar, em parte da sociedade paraguaia, um clima de quase permanente ressentimento histórico para com o Brasil.

A construção de Itaipu, negociada na década de 1960, no lugar de contribuir para melhorar as relações entre os dois povos, criou um novo contencioso, já que parcela da população paraguaia acredita que os termos do Tratado de Itaipu não foram favoráveis aos interesses do país, à época de sua assinatura, pelos governos de Emilio Garrastazu Médici, e Alfredo Stroessner, em 1973.

Por trás de tudo está o direito de vender os 50% da energia que cabe ao Paraguai a terceiros países. Boa parte do povo guarani é levado a crer, também, que é o Paraguai que paga a dívida contraída para a construção da represa, o que é incorreto.

A dívida é paga com o preço da venda da energia gerada pela própria usina, pela empresa que a administra, a Itaipu binacional, e terminará de ser quitada em 2023.

Até agora, o Paraguai já recebeu mais de 4,5 bilhões de dólares em royalties de Itaipu e, daqui a dez anos, continuará dono de metade de uma empresa que vale, hoje, mais de  bilhões de dólares.

Em 2011, no Governo Lugo, o Brasil aceitou aumentar, unilateralmente, em três vezes, a compensação recebida pelo Paraguai pela energia não utilizada, de 120 milhões para 360 milhões de dólares por ano.

Além disso, o Brasil financia, por meio do FOCEN – o Fundo de Convergência Estrutural do Mercosul, a construção de uma linha de transmissão de 500 quilowatts – a ser inaugurada em novembro – que ligará Itaipu a uma subestação em Assunção, permitindo que os paraguaios possam atrair investimentos e industrializar seu país.

A construção de Itaipu, que aumentou em aproximadamente 20% o PIB, e o trabalho de milhares de agricultores brasileiros - que fez do Paraguai o quarto maior exportador de soja do mundo – mudaram, positivamente, a realidade do país vizinho.

Mas isso não bastou para diminuir a mágoa que parte dos paraguaios guarda do Brasil. Esse “anti-brasileirismo” tem sido aproveitado, e muito bem, pela direita local, e por quem vem usando o Paraguai para sabotar o projeto  sul-americano de integração promovido pelo Brasil a partir do com Mercosul e da UNASUL.

O não reconhecimento, pelo Mercosul, do governo golpista de Federico Franco - que ascendeu ao poder com a fraudulenta deposição de Lugo -  provocou a suspensão do Paraguai do grupo, acirrando os ânimos da oposição antidemocrática contra o Brasil.

A entrada da Venezuela no Mercosul, sem a aprovação do senado paraguaio – que chantageava, há anos, o Brasil e a Argentina nessa questão, piorou ainda mais a situação.

O Paraguai votou pelo México na eleição do novo Diretor da OMC, o brasileiro Roberto Azevedo. E também não apoiou nossos candidatos – que acabaram também eleitos – para compor a Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

Com tudo isso, a imprensa e os internautas discutem, naquele país - nos jornais que hostilizam o Brasil, como o ABC Color - se não seria melhor para o Paraguai sair do Mercosul e entrar na Aliança do Pacífico.

E, do ponto de vista político, se não valeria a pena abrir seu território à instalação de bases militares norte-americanas, para se contrapor ao Brasil, à Argentina, à Bolívia, à Venezuela, ao Equador e à “bolivarização” da região.

Atolados no lamaçal em que se meteram no Iraque e no Afeganistão, com uma dívida impagável, derivada do custeio de suas intervenções militares no exterior, não dá para saber se os EUA teriam fôlego para entrar em uma nova situação de confronto direto, dessa vez, na América do Sul.

Com relação á economia, a Aliança do Pacífico é pouco mais que uma miragem. O Brasil, sem fazer parte do grupo, vende ao México tanto quanto a Colômbia e é o maior parceiro comercial latino-americano não apenas dos próprios mexicanos, mas também dos peruanos e chilenos, na América Latina.

As exportações e importações dentro da Aliança do Pacífico não chegam a 4% de seu comércio exterior total. Como exemplo de que esse grupo tem relativa importância econômica para seus membros, seu maior sócio, o México – que crescerá apenas 1% neste ano, contra cerca de 2.5% do Brasil -  destina quase 90% de suas exportações para o NAFTA e 80% delas para um único cliente, os Estados Unidos.

Por mais que certa mídia diga o contrário, o país da tequila não é um player mundial, mas sim um fenômeno regional, que funciona, na prática, como o menos desenvolvido dos estados norte-americanos.

Estatisticamente, o Paraguai não representa mais que 1% do PIB do Mercosul, ainda sem a entrada – que se avizinha – da Bolívia e do Equador.

Mas é bom não esquecer que as relações entre Brasília e o novo governo de Horacio Cartes ganham uma dimensão estratégica, quando se considera as manobras dos EUA contra o Brasil na América do Sul. 

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