20 de jan. de 2013

O TERROR E O TERROR


(HD) - Em 26 de abril de 1937, aviões da Legião Condor, da Alemanha Nazista, com o apoio da aviação italiana, a serviço de Franco, bombardearam Guernica, a capital milenar do povo basco, matando centenas de civis e ferindo outras centenas. Esse ato contra um povo desarmado, em dia de feira, se tornou o símbolo da brutalidade dos nazistas e franquistas, mas não foi a primeira, nem a última agressão ao povo basco. Causou uma revolta mundial, pelo fato de que Guernica é a capital milenar e mítica do povo basco, onde se encontra a árvore de carvalho, que renasce de suas próprias sementes, e sob cuja sombra os chefes bascos se reuniam ao longo dos séculos.
               Menos de um mês antes, em 31 de março, a Legião Condor já havia bombardeado a bela cidade basca de Durango, com a morte de 294 civis. Mais tarde, outras cidades espanholas foram atacadas pela aviação, com a chacina da população inerme. Havia dois objetivos nesses ataques: o treinamento de aviões para bombardeios concentrados em áreas urbanas, e a disseminação do terror nas zonas em que os republicanos resistiam. Os nazistas e franquistas que promoveram essa matança não são considerados hoje terroristas. Eram combatentes por uma causa, a causa do anticomunismo e do anti-semitismo. A causa de Hitler, Goebbels, Mussolini e dos quatro generais (Franco, Sanjurjo, Mola e Queipo de Llano), que se reuniram para invadir a Espanha com tropas de suas colônias do norte da África, e iniciar a cruzada católica e nazista contra a soberania republicana.
         A história do grande povo basco, que ocupa os Montes Pirineus, suas encostas e sopés, na Espanha e na França,  e no litoral do Golfo de Biscaia, é  um dos enigmas históricos da Europa. Quando os romanos chegaram à região, já os encontraram. Resistiram bravamente contra as legiões e os outros invasores - godos, visigodos, gauleses e francos.
        Se há um povo que tem todo o direito histórico, étnico e cultural à plena independência, é o de Euzkadi, o lendário país dos bascos. É certo que uma de suas regiões, a de Navarra, por ter sido sede de um reino cristão, não é tão afirmativa na busca da plena soberania quanto as outras regiões. A causa da independência do País Basco tem apoio, como demonstra a presença, há apenas alguns dias, de milhares de manifestantes, em Bilbao, para pedir que os prisioneiros do ETA presos em outras regiões da Espanha  sejam repatriados para o território basco (foto).  

         Ao contrário de como foi apressadamente  classificado pelo representante da Polícia Federal que se manifestou sobre a sua captura no Brasil, o ativista do ETA preso no Rio é um patriota, não um terrorista. Ele foi combatente contra um estado ocupante que usou durante anos grupos terroristas para-oficiais e da extrema-direita, que usaram os mesmos métodos violentos contra os independentistas, e sequer foi condenado pela justiça espanhola por isso, até agora.
         Joseba Vizán é, a partir de sua detenção, a  ser explicada pela Polícia Federal - que acompanhou agentes da Polícia Espanhola em sua captura, aparentemente  sem conhecimento prévio do Ministério da Justiça, do Itamaraty, ou do Judiciário   - um prisioneiro político sob a custódia do Estado Brasileiro, que passou a ser responsável pela sua segurança.

           

                  

9 comentários:

Unknown disse...

Obrigado, Mauro Santayana
Seu blog é uma raridade, uma fonte de opiniões originais e fundamentadas, um oásis de razão no deserto de idéias da internet.

Mauro Santayana disse...

Obrigado pela consideração, Ivan e um abraço.

Unknown disse...

Prezado Sr. Santayana,

não tenho palavras para agradecer seu esclarecedor artigo sobre o Pais Basco e a detenção e situação de Joseba Vizan. Gostaria agregar que faz já mais de um ano que o grupo E.T.A. declarou a sua intenção de abandonar a luta armada sendo que a única resposta dos Governos Espanhol e Francês tem sido o aumento da represão. Tudo indica que esta é mais uma detenção de cíndole política num instante em que o governo espanhol se debate entre a crise económica e os varios casos de corrupção. Com esta situação o Governo Brasileiro se faz complice de decadas de torturas e terrorismo de Estado. Espero que vocês como a do senhor esclareçam a opinião dos brasilerios mostrando que Joseba e mais um patriota basco, não um terroista. Besarkada bero bat (um forte abraço) Estebe Ormazabal Insausti

Anônimo disse...

Rápida e rasteira na hora de prender, por outra acusação, um professor de idiomas que estava há 20 anos afastado da atividade política, a Polícia federal deveria se preocupar em cuidar das centenas, senão milhares, de espanhís proxenetas, pedófilos, traficantes de drogas e de mulheres brasileiras que infestam o litoral brasileiro. Para isso, a polícia espanhola não oferece a sua "colaboração". Basta dar uma volta pelos inferninhos e boates que exploram a prostituição à beira-mar, principalmente no Nordeste.

Anônimo disse...

Esse homem é réu primário, tanto no Brasil quanto na Espanha, e tem o direito de aguardar o julgamento em liberdade. Onde estão os Conselheiros da OAB Rio que não se mobilizam para para impetrar um habeas corpus em favor dele ?

Raphael Tsavkko Garcia disse...

Santayana,

Estu em contato com parentes e amigos de Joseba e repassei À comunidade basca no Brasil e no País Basco o abaixo assinado que circula em defesa dele e também uma carta que escrevi em solidariedade ao lutador basco.

http://www.amalgama.blog.br/01/2013/em-apoio-a-joseba-gotzon/

"Joseba é, enfim, um refugiado político que, se permanecesse na Espanha, estaria sujeito às torturas que eram comuns a prisioneiros ligados à ETA – ou mesmo a meros suspeitos de ligação.

Durante o regime de Franco (1939-1976), as torturas, execuções e prisões eram lugar comum. Com a chegada da democracia, acreditou-se em um novo tempo, um processo de debate democrático. Engano. O período posterior à ditadura, conhecido como Guerra Suja, patrocinado e financiado pelo governo do premiê socialista Felipe González (1982-1996), deixou dezenas de mortos em ações de grupos de extrema-direita cujo objetivo era o assassinato político de membros da ETA, de partidos nacionalistas bascos e da militância Abertzale (nacionalista).

Centenas de bascos foram torturados, ameaçados e dezenas foram mortos por grupos de extrema-direita financiados pelo Estado Eepanhol durante o governo “socialista” de González. Ou seja, Joseba atuava politicamente junto à ETA durante um dos períodos mais negros da história espanhola, apelidada de “re-democratização”, mas que na verdade guardava elementos e características dos períodos mais sujos da ditadura de Franco. Se fosse preso, enfrentaria duras penas por sua atividade política contrária às torturas, repressão e similares às da ditadura anterior."

Irina Neves disse...

CONTINUAMOS NOSSA CAMPANHA PELA LIBERTAÇÃO DE JOSEBA!

Abaixo sobre o caso:
http://liberdadeajoseba.blogspot.com.br/

Anônimo disse...

Onde está o Conselho da OAB? Joseba não é terrorista."Não a extradição" O Brasil não vai entregar um cidadão de bem, pai de fam´lia que veio fugindo das torturas da Espanha!!! Nada contra Joseba!!!

Anônimo disse...

Perdón por poner el mensaje en castellano, pero es que no se portugués.

Hablas de un ciudadano de ben escapando das torturas de España?
Mis abuelos, vascos naturales de Tolosa, tuvieron que marchar del País Vasco por recibir amenazas de ETA.
Si este hombre es un terrorista debe ser tratado como tal, da igual su nacionalidad.
¿Defender la independencia a base de amenazas y bombazos te parece que no es torturar?